FESTAS DE SÃO PEDRO NA RUA DOS PEREIROS - POMBAL.
Jerdivan (Foto)
Jerdivan Nóbrega de Araújo*
A Janela da nossa casa nos oferecia uma visão privilegiada de todo pátio da estação de trem, torrefação de café do seu Antônio Rocha, Cemitério Nossa Senhora do Carmo e o portão da Brasil Oiticica, por onde entrava o trem tanque que recolhia o óleo extraído das amêndoas da oiticica. Sendo assim, nenhum dia da minha vida poderia ser igual ao outro, com tão privilegiada e movimentada vista. Era 1971 e eu viva meus verdes 10 anos de idade.
À noite o trem Asa Branca, de passageiros com seus encontros e desencontros, e durante o dia os diversos trens de cargas que a cada minuto passavam rasgando o silêncio, fazendo tremer todas os cristais e biscuís da nossa cristaleira.
Nas ultimas sexta feira do mês era bonito de se vê a fila de caçapos da REFFESA, com seus macacões azulados, caminhando para o lado da Estação Ferroviária a espera da chegada do tão e aguardado trem pagador. Lembro-me que era um vagão avermelhado e, diferentemente dos demais que eram em aço, este era em madeira. Lembrava-me as locomotivas que eu via nos “wests” ali na tela do Cine Lux. Da minha janela, eu esperava a chegada dos bandidos em seus cavalos, para o grande assalto ao trem pagador o que, para minha decepção nunca acontecia.
Recebidos seus proventos, os caçapos saiam em disparadas para as bodegas de seu Otacílio ou Terezina de seu Natan, para quitar as dividas do mês anterior. Era também nestas datas que mais e se viam bêbados caídos na “pedra” da Estação.
A Rua dos Roques era o meio caminho entre a Rua do Guidaste, Cruz da Menina e a Rua dos Pereiros, único bairro de Pombal a ter uma Igreja católica. As outras duas ficam no centro da cidade. Era este fato que diferenciava aquele povo que se sentia privilegiado por tal acontecimento. Trata-se da Igreja de São Pedro, uma edificação imponente e muito bem cuidada pelos moradores da Rua dos Pereiros.
Toda a rua era, e certamente ainda é, centralizada por uma linda praça, de canteiros muito bem cuidados. As algarobas da Praça eram podados de forma a sua copa tomarem a foma de cones e seus canteiros eram muito floridos. As casas que formavam a rua, apesar de humildes, eram todas muito bem cuidadas. Não lembro de um dia ter visto o “meio fio” das calçadas da Rua dos Perreiros que não estivessem calhados, muito bem branquinhos. A tarde a artéria era movimentada, apesar de não se ter um único comércio na imediações. Era uma localidade calma onde se viam velhos aposentados nas sombras das algarobas, mulheres cozendo ou tricotando, vendedores de quebra queixo, carroça de Pipoca e “ taboletas” de bombons.
Vários eram os motivos de orgulho do povo dos Pereiros, porém, dois se destacavam: a visita de Frei Damião igreja de São Pedro quando das suas missões, foi primeira comunidade no Nordeste a erguer uma estátua do velho “Santo” nordestino, isso ainda nos anos setenta. Outro orgulho do povo dos Pereiros era a realização da Festa de São Pedro. Este evento acontecia durante todo o mês de julho. Não era festinha de Bairro: Era comparável a Festa de Nossa Senhora do Rosário. Neta data todas as casas, já muito bem cuidadas, eram pintadas, preferencialmente em azul, as árvores e a praça recebiam um tratamento especial.
Missas na Igreja de São Pedro todas as tardes, parques de diversões, jogatinas, comércio de bugigangas e comidas tipicas, difusoras para oferecimento de músicas e as barracas do Cordão Azul e do Cordão Encarnado, que competiam nos leilões de assados. A barraca vencedora era a que mais dinheiro arrecadasse para a Casa Paroquial. As barracas eram muito bem arrumadas, com arcos em papel seda coloridos para receber os visitantes, banderolas tremulavam ao alto de um a outro canto da rua e muitas toalhas coloridas nas janelas das casas, e todo mundo com sua roupa de festa. A festa de são Pedro era um acontecimento na cidade de Pombal.
Toda a Pombal se encontrava nas Ruas do Pereiros para a Festa de São Pedro. Até meus pais que não eram muito de festas marcavam sua presença. Ali não havia divisão de classe. O Juiz, o Prefeito, o ainda deputado Ruy Carneiro, Janduy Carneiro, Dr. Avelino Queiroga e muitas outras figuras importantes disputavam ao grito o leilão de frangos e outros assados que passavam nas mãos do leiloeiro, naquele “quem dá mais?” frenético, que contagiava e empolgava a todos.
Políticos adversário não queriam deixar que o seu desafeto arrematasse uma prendar por um valor inferior, e sempre gritavam um preço bem mais alto, até que um deles desistia, para a alegria do outro, que, sob aplausos, apontava em que mesa deveria ser entregue a prenda arrematada.
A Festa de São Pedro, que naquela época era organizada pelo rígido Padre Levi, não mais é realizada pelos moradores da Rua dos Pereiro, o que é uma pena. Uma tradição do povo acabou por sucumbir ao tempo e a modernidade.
*Escritor pombalense.
FESTAS DE SÃO PEDRO NA RUA DOS PEREIROS - POMBAL.
Reviewed by Clemildo Brunet
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7/07/2009 01:26:00 PM
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Um comentário
Lendo o texto, ja postado no blog, eu vi que havia dito que Ruy Carneiro fora Deputado. Na verdade Ruy nunca foi deputado e sim Senador da Republica.
Jerdivan Nobrega de Araujo
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