ANOS CINQUENTA: CADÊ CHIQUINHO FORMIGA?
Ignácio Tavares (Foto)
Por Ignácio Tavares.
Nos anos cinqüenta iniciou-se em Pombal consideráveis mudanças que caracterizam o marco zero, que divide o antes e depois, quando se pretende explicar a evolução econômica e sócio/cultural do município. A economia do setor algodoeiro, associada à coleta e extrativismo da oiticica, foi o principal vetor responsável pelas mudanças na qualidade de vida da população local.
A Sanbra, Anderson Clayton, unidades de compra e beneficiamento da fibra de algodão, a Brasil Oiticica, atuante na área de compra do fruto da oiticica e extrativismo do óleo da amêndoa. Eram, sem dúvida, as principais fontes de geração de emprego e renda do município.
O dinheiro circulava em profusão, por isso, suficiente para agitar o mercado, assim como animar a auto-estima do pombalense, como ente econômico, cujo poder de compra era capaz de influir na dinâmica do mercado consumidor.
Aviões monomotores cortavam os céus de Pombal. Semanalmente, o teco-teco da Brasil Oiticica pousava no campo de Várzea Comprida com os recursos necessários ao pagamento dos operários da fábrica. Ainda, com certa freqüência, o monomotor de Antônio Pão Doce, pousava no mesmo campo, a serviço dos outros grupos econômicos instalados no município. A garotada corria em direção ao campo de aviação, a chão batido, para ver de perto as pequenas máquinas voadoras, admirar a biruta que indicava a direção dos ventos, contras os quais, os teco-tecos pousavam.
Foi nesse cenário que Pombal experimentou o maior ciclo de crescimento econômico e social da sua história. Também foi nessa fase de esplendor da economia do município que o perímetro urbano, construído, da cidade mais cresceu, graças ao espírito empreendedor do saudoso Chiquinho Formiga. Diga-se de passagem, que foi este grande cidadão o maior construtor civil de todos os tempos a pisar no solo pombalense.
Pombal lhe deve até hoje, uma justa, honrosa e sincera homenagem. Para se ter uma idéia do ímpeto empreendedor de Chiquinho Formiga, é bastante entender que, nos anos cinqüenta, a grande área que formava um triângulo urbano vazio da cidade, situada por trás da rua do comercio e a rua nova, a começar pela Rua Jerônimo Rosado, em seguida toda extensão leste da cidade, foi ocupada por centenas de unidades habitacionais erguidas pelo saudoso construtor.
Dessa forma, o senhor Francisco Arnaud Formiga, tem um lugar reservado na história do desenvolvimento urbano desta terra. Infelizmente, o seu feito é ignorado pelos historiadores e autoridades responsáveis pela preservação da memória viva do nosso povo. Sá Cavalcante, um dos prefeitos do município em épocas remotas, pelas poucas obras públicas que construiu, imortalizou-se na memória da velha e nova geração.
Não quero desmerecer os feitos do saudoso Sá Cavalcante, mas, o velho guerreiro Chiquinho Formiga, com recursos próprios, construiu cerca de um quarto das unidades habitacionais desta cidade, mas, nem por isso é lembrado como deveria ser, não só pelo empreendedor que foi, mas, pelo imenso patrimônio urbano que nos legou.
Legou-nos ainda, uma nova arquitetura que se contrapôs ao modo tradicional de se construir os arruamentos. Pombal historicamente os arruamentos eram feitos de casas geminadas, o que permitia reduzir os custos da construção, mas era desconfortável pela falta de espaços para circulação das correntes de ventos que circulavam pela cidade. Assim sendo, seu Chiquinho partiu para construção de unidades habitacionais isoladas, mais conforáveis, embora de custo mais elevado. Daí por diante o perfil urbanístico de Pombal tomou outros rumos.
As novas gerações precisam saber que nesta terra existiu o grande construtor que não era engenheiro, mas entendia como ninguém as regras da construção civil. Tem mais, embora não sendo filho da terra, amava como ninguém esse pedaço de chão. Aqui viveu, construiu sua família, aqui encerrou o seu ciclo de vida.
Se o perímetro urbano construído da nossa cidade tem a dimensão atual de um aglomerado humano de porte médio, com uma população ao redor dos 33 mil habitantes em grande parte deve-se a Chiquinho Formiga, que já não está mais aqui entre nós. Deixou uma família exemplar que honra o seu nome, assim como da sua querida esposa Cândida Alencar Formiga, também de saudosa memória.
A sua ação empreendedora como construtor civil não se limitou aos anos cinqüenta. Nas décadas seguintes continuou suas atividades, porem, num ritmo menos acelerado, até que a idade o impediu de dar continuidade a nobre missão de construir casas para quem delas estivesse a precisar.
Tive o imenso prazer por conhece-lo de perto, posto que a sua casa sempre foi uma extensão da minha casa. Quando vinha a Pombal, a minha primeira visita era a casa de Chiquinho Formiga onde sempre fui bem acolhido, não só como parente dos seus filhos, mas, como um membro efetivo da família.
Ao velho e saudoso guerreiro consagro minhas lembranças, as quais serão perpetuadas, pelo menos aqui neste texto, bem como na lembrança de todos que o conheceram, em particular seus filhos, genros, noras, netos, amigos da família que usufruíram da praxe do bom acolhimento em sua residência, entre os quais me incluo.
Desejo muita paz e felicidade prá você, seu Chiquinho, bem como pra sua esposa Candinha, no novo plano de vida que vocês estão a viver na dimensão celestial. Obrigado por ter estado entre nós e por tudo que o senhor fez por essa terra que nós viventes tanto amamos.
João Pessoa, 14 de setembro de 2009
Ignácio Tavares
ANOS CINQUENTA: CADÊ CHIQUINHO FORMIGA?
Reviewed by Clemildo Brunet
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9/14/2009 01:13:00 PM
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