CASTA SOCIAL
Por Severino Coelho Viana
Os termos casta social e classe social por mais parecidos que sejam, apesar de que as pessoas não entenderem e confundirem como se sinônimos fossem, inclusive pelo som auditivo da pronúncia, são distintos e diferenciados de significado. O sistema de casta social é rígido porque não permite mobilidade e permeabilidade na sua mudança de estrutura uma vez que o seu caráter origina-se no nascimento de cada pessoa, pois além de sustentado pelo sentimento religioso, está enraizado na cultura de um país e de seu povo
O significado do termo casta social é bem parecido com classe social que o adota, porém, em uma classe social, a pessoa tem o direito de mudar de classe. Como por exemplo, passar da classe média para a classe alta e vice-versa. Todavia, numa casta social não se admite o surgimento de condições pessoais de caráter econômico, social, profissional, cultural, educacional etc. sair de uma casta e passar para outra casta social, nem melhor e nem pior, por questões hereditárias. O exemplo mais patente é o da Índia antiga, mas os ares de modernidade estão afastando paulatinamente este sistema do convívio social.
A origem das castas encontra-se ligada à mitologia religiosa hindu, que por ocasião do sacrifício da entidade espiritual chamada de Purusha. As castas estariam ligadas às diferentes partes do corpo da entidade após o seu sacrifício, estando assim distribuídas: da cabeça veio a casta mais elevada, os brâmanes, composta por sacerdotes ligados a funções intelectuais de prestígio e ao ensino universitário; dos braços, os kshatriya, nobres que exercem funções políticas e militares; das pernas, os vaishyas, representados pelos camponeses, artesãos, donos de terra e comerciantes; dos pés, situados na parte mais baixa do sistema, os shudras, integrados por servos, trabalhadores braçais e agricultores.
Além das quatro castas principais, há um outro segmento social à parte, que são chamados de párias. Intocáveis, párias ou dalits. Porque eles não pertencerem a qualquer casta, por isso, também, são conhecidos como os “sem-casta”, são vistos como “impuros” e exercem funções sociais menores e desprestigiadas, tais como lavar roupa, recolher o lixo e lavar banheiros. Estrangeiros e imigrantes de outros países também são classificados nesse segmento. A posição dos párias é a mais complicada de todas, uma vez que não estão inseridos no sistema, o que os torna extremamente vulneráveis nesta sociedade puramente hierarquizada e estabilizada neste tipo de convívio social.
As castas obedecem a um sistema rígido de organização social, onde as posições mais elevadas em termos de prestígio político e social são ocupadas por membros das castas mais elevadas. Em contrapartida, integrantes de castas inferiores possuem severas restrições ao movimento, desde alimentação, educação e acesso à religião. Em lugares públicos, membros de castas inferiores frequentemente cedem seus lugares para membros de castas mais elevadas.
Existem várias maneiras de se identificar a casta de uma pessoa, sendo que a identificação pelo sobrenome familiar é a mais comum.
A Índia é um belo país em virtude de sua riqueza, de suas tradições religiosas e culturais, suas belezas naturais, bem como a sua diversidade social, o que torna um dos países mais desiguais do mundo – tal como, aqui na Terra Brasilis, bem ao sul da linha do Equador. Riqueza e pobreza, sofisticação e atraso andam de braços dados nesta nação repleta de desafios escritos na sua agenda para este milênio. Dada a sua grandeza territorial e populacional, a Índia é alcunhada, segundo o jargão das Relações Internacionais, como um dos integrantes do grupo dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), com acúmulo de capital financeiro emergente e elevada disponibilidade de capital intelectual em decorrência da sólida educação no país. No entanto, apesar dessas perspectivas positivas, a Índia é um país de cultura milenar, e o peso do hinduísmo é decisivo na estrutura de sua sociedade. Os princípios religiosos determinam sua organização social, e o sistema de castas é a faceta mais visível dessa influência. Atualmente, o país possui mais de duas mil castas e cerca de vinte mil subcastas, cujos critérios de definição remontam aos primórdios do surgimento da religião hindu. O primeiro grande lutador contra o sistema de casta indiano foi Gandhi.
O Oriente é um mosaico de etnias, culturas, religiões e costumes, o Ocidente também é bastante fragmentado, nos campos: social, político e cultural. No entanto, certa unidade pode ser identificada nas sociedades ocidentais, que gira em torno do ideário individualista, identificado a partir das seguintes crenças: o princípio da livre iniciativa, a liberdade de expressão, os ideais democráticos como organizadores das formas de representação política, o individualismo, o livre-arbítrio, a crença no consumo como via de inserção e de ascensão na sociedade, além da dignidade da pessoa humana, mesmo existente no contexto legal, faltando muito para que este preceito seja colocado na vida prática, começando pela reciclagem no âmbito das próprias autoridades judiciárias deste Brasil de caboclo, de mãe Preta e pai João.
Os ocidentais que adotam o sistema de classe social com base na livre iniciativa e não por laços de parentesco, não aceitam e uma organização de casta social dessas seria tachada de exótica e esdrúxula por não permitir as possibilidades de ascensão social. Fica bastante claro que a ascensão social de indivíduos de castas mais baixas é inconcebível naquele tipo de organização social, mesmo que porventura esses venham a ser bem-sucedidos do ponto de vista do empreendimento de negócios financeiramente rentáveis.
O sistema de classe social está contido no poder do dinheiro que subverte qualquer organização social estável. (Classe alta, média, baixa e miserável). A globalização, o crescimento econômico do país e a elevada educação dos seus cidadãos lançam desafios cada vez maiores àquele sistema de casta.
O fim do sistema de castas está ainda longe de ocorrer na Índia, apesar de que a própria Constituição do país ter abolido esses sistemas há cinquenta anos. O peso da tradição, a força da religião hindu e a estabilidade social proporcionada por essa divisão ainda são os sustentáculos desta forma peculiar de organização e estratificação social.
Como se pode observar, a força do dinheiro é tamanha que pode romper com divisões sociais até então consideradas “intocáveis”… Mais uma prova de que a globalização econômica impele à civilização humana a rumos até então considerados inconcebíveis e a navegar por mares nunca antes navegados.
No Brasil, principalmente, na região Nordeste, por não ter um sistema de castas, propriamente dito, ainda, concebe-se as forças oligárquicas e o poder político nas mãos de determinadas famílias, quando os mais humildes curvam-se de obediência e rendem respeito ao coronel de chapéu branco.
O mais interessante disso tudo é que há pessoas que carregam na mente o assombro do passado de que pertence a um tipo de classe social de alto nível advinda do poder familiar, todavia, vivem enganando-se a si mesmo e ainda não acordaram e não acreditam na própria realidade que os circundam. A realidade é outra e o tempo atual é completamente diferente dos antepassados.
Com a eleição de Lula à Presidência da República, que positivamente pensávamos que verdadeiramente foi um marco e um avanço no progresso social, nós acreditávamos que fosse um motivo bastante ensejador para eliminar de uma vez por todas as classes oligárquicas, pois a chegada de um nordestino, pobre, retirante de pau-de-arara, torneiro mecânico, sem curso superior, expressava o autêntico preceito constitucional de que realmente todo o poder emana do povo.
A desigualdade social acontece quando a distribuição de renda é feita de forma diferente sendo que a maior parte fica nas mãos de poucos. No Brasil, a desigualdade social é uma das maiores do mundo. Por esses acontecimentos existem jovens vulneráveis, hoje, principalmente na classe de baixa renda, pois a exclusão social os torna cada vez mais supérfluos e incapazes de ter uma vida digna.
Muitos jovens de baixa renda crescem sem ter estrutura na família devido a uma série de conseqüências causadas pela falta de dinheiro, além de briga entre pais, discussões diárias, falta de estudo, ambiente familiar desordenado, educação precária, más instalações, alimentação péssima e escassez de trabalho, entre outros. A desigualdade social é um problema sério que causa grandes transtornos no mundo, por exemplo, a exclusão social, ou seja, dificulta o acesso das pessoas ao crescimento e ao conhecimento.
O crescente estado de miséria, as disparidades sociais, a extrema concentração de renda, os salários baixos, o desemprego, a fome que atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a marginalidade, a violência, etc. são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil.
Estas são as características típicas da diferença de classe social, que geram penúria pela miséria em que vive, mas não por ter nascido no seio de um vínculo familiar ou pertencente a um determinado segmento religioso.
João Pessoa, 23 de setembro de 2009.
SEVERINO COELHO VIANA
CASTA SOCIAL
Reviewed by Clemildo Brunet
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9/24/2009 12:35:00 PM
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