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LORD AMPLIFICADOR: UM MARCO NA COMUNICAÇÃO POMBALENSE

Maciel Gonzaga (Foto)

MACIEL GONZAGA*

Parece-nos que até hoje ninguém teve a preocupação de estudar a função social-cultural que os serviços de alto-falante representam em todo o Brasil (e que ainda subsistem em algumas comunidades menores). O alto-falante é um tipo de transmissão local de curto alcance e geralmente usado em locais fixos como praças, mercados, paróquias, locais comerciais, comunitários, religiosos, etc.. Sendo assim, constitui um meio de comunicação de fácil manejo para pessoas não especializadas. Muitos profissionais do rádio - incluisive eu - começaram dentro de serviços de alto-falante, como locutores e técnicos. Bonitas vozes se revelaram e a improvisação que os "animadores" faziam, especialmente nas "dedicatórias" das músicas marcava uma época.

Os serviços de alto-falante, com sua linguagem própria, rodando antigos sucessos em frágeis 78 rpm (quando ainda não existia o elepê), levavam a alegria e a comunicação a muitas comunidades. Se não me falha a memória, o então presidente Epitácio Pessoa em 1922 no Rio de Janeiro falou a uma multidão através de um serviço de alto-falantes e foi um sucesso. Porém, com a evolução, chegou o rádio por ondas e aí desprezaram o sistema.

Em Pombal, o Lord Amplificador - "o som direcional da comunicação" - que agora está sendo homenageado, marcou época. E que época! Iniciou suas atividades em fevereiro de 1968 em pleno Carnaval em uma pequena sede de apenas um vão na Rua João Capuxú. Pouco tempo depois passou a funcionar no Box 48 no lado sul do Mercado Público. Dinamizou o desenvolvimento pombalense, valorizou e fez com que toda a população passasse a ser o sujeito do processo, ou seja, era ouvinte fiel. Por isso, o Lord fez história em Pombal.

A idéia de implantar um sistema de alto-falante surgiu da mente criativa e intrépida de Clemildo Brunet de Sá, depois de fracassada a tentativa de implantar uma rádio – A Voz da Cidade – emissora clandestina, em pleno período de chumbo da Revolução de 64. A Voz da Cidade foi fechada pela ditadura e Pombal ficou sem um meio de comunicação, algo que já fazia parte do cotidiano da cidade. Nesta época, o governo militar barrava qualquer tipo de comunicação popular que ia contra as ambições dos que dominavam o poder.

Embora um sistema de alto-falantes pudesse parecer arcaico diante das novas tecnologias de comunicação, os pombalenses aceitaram plenamente o Lord Amplificador. A comunicação popular é o resultado de uma dinâmica social de acordo com as necessidades. A participação do povo na comunicação tem como característica essencial, a busca da mudança social. Sabemos que o poder da grande mídia e sua manipulação servem aos interesses das classes dominantes. Mas, mesmo assim, quando ela quer divulga programas de cunho informativo-educativo, que é uma contribuição à sociedade e entretenimento, preenche as necessidades da comunicação popular. Foi o que aconteceu com o Lord, pois, entendia Clemildo Brunet e todos os seus seguidores daquela época, que ser cidadão é ter o direito de entender e interferir na política da sua comunidade, é poder expressar a insatisfação sobre algum fato público, é ter reservado o direito de usufruir a riqueza gerada por todos, mas nas mãos de poucos. Uma concepção social de meninos, mas avançada para a época.

O principal motor do Lord era a utilidade pública, avisos que uniam as pessoas, mesmo aquelas que se sentiam incomodadas com o som. E tinha muitas. A sua comunicação era a força que dinamizava a vida dos pombalenses. Pregava a solidariedade, orientava, fazia rir, chorar, reduzia a solidão e num paradoxo digno de sua infinita versatilidade, produzia até a incomunicação.

Assim, inegavelmente, o Lord Amplificador foi um veículo de comunicação que tinha uma linguagem coloquial, uma mensagem objetiva e com características próprias de radiodifusão com a diferença de que não requeria que o público tomasse em ligar ou desligar aparelhos. Na realidade, invadia com sua mensagem a esfera privada das famílias e intimidades cotidianas. Como meio de informação o Lord Amplificador, Clemildo Brunet de Sá e todos os seus seguidores – entre eles a minha pessoa, que fui um dos fundadores e ali trabalhei de fevereiro a dezembro de 1968 - merecem as nossas congratulações neste momento de festa.

*Ex Integrante do Lord Amplificador, é Jornalista, Advogado e Professor. Natal RN.
LORD AMPLIFICADOR: UM MARCO NA COMUNICAÇÃO POMBALENSE LORD AMPLIFICADOR: UM MARCO NA COMUNICAÇÃO POMBALENSE Reviewed by Clemildo Brunet on 9/13/2010 04:35:00 AM Rating: 5

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