Confissão de amor
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Mãe
esperei muito tempo para criar coragem e dizer francamente tudo que eu gostaria
de ter dito muito antes. Entretanto, meu egoísmo foi maior e tive que reprimir
esse sentimento de amor contido e abafado dentro do meu peito. Agora,
compreendendo tudo aquilo que você representou e representa em minha vida, essa
mesma vida que não se acaba com a matéria, e é tão curta, e muitas vezes nós a
banalizamos, não por desamor ou falta de reconhecimento da sua importância, que
é o intervalo entre o nosso nascimento, a verdade que já passou, e outra que
virá, com certeza, que é o nosso desencarne para uns ou simplesmente
desembarque para outros, mas por absoluta covardia, quando nos colocamos dentro
de uma redoma, inconsciente ou conscientemente, para nos protegermos das nossas
próprias falhas, incertezas e
inseguranças.
Um
dia, quando ainda muito jovem tivemos que nos separar, eu fui embora por
circunstancias outras, foi uma separação dupla, tive que sair da minha cidade,
ir à luta, rompendo nossos laços tão importantes, enquanto convivia nos
meandros da ternura sertaneja. Uma coisa tenha certeza, levei comigo o
sentimento de gratidão tanto pela terra que me viu nascer como pela sua efetiva
participação em minha vida. Vendo pelo retrovisor toda trajetória de vida,
tenho que confessar: se hoje sou o homem ético, que sempre procurei sê-lo, é o
resultado direto do que aprendi com sua honestidade e moral.
Quanta
dificuldade passamos juntos! Nos meus primeiros passos, recordo-me, quando já
tinha consciência, depois da amnésia infantil, o meu primeiro leito era uma rede,
uma simples peça de pano que representou muito mais que um berço, portanto, se
hoje sou o que sou, foi por você ter me dado simbolicamente e realisticamente, o
que muitos não tiveram, foi o símbolo do amor que tinhas para poder me dar,
amor esse dividido com outros irmãos, e que nunca se esgotou, pois, quanto mais
você se doava em carinhos, afetos e coragem, mais esses sentimentos se
multiplicavam, mostrando que essas ações só se esgotam se fizermos economia
delas, e quanto mais se divide mais se soma, e você nunca se poupou, em
repassá-las, como mãe.
Longe
dos seus braços e sua presença, ainda lembro a sua bela imagem de mulher
graciosa que você era! Se lançando à luta para manter a dignidade e ajudando na
manutenção da família, atitude mais forte da mulher aguerrida. Hoje sei dos
seus cabelos prateados, certamente não são reflexos da lua cheia de ternura que
em você transborda, nem da lua nova e renovada de esperanças incorporadas à sua
personalidade. O corpo marcado pelo tempo traduz as lembranças da sua
incansável batalha em transformar seus filhos em homens e mulheres dignos do
seu sobrenome e prepará-los para a vida. Você não ficou velha, nós humanos,
assim como as arvores frutíferas, não nascemos prontos e nos desgastando,
simplesmente vamos crescendo e dando frutos para preservação da espécie, não
somos máquinas nem equipamentos. Nesse processo chegamos no momento de
plenitude, e você com sua índole e personalidade inabaláveis, inerentes aos
dignos e vencedores.
Como
é importante, olhar para o tempo passado vividos ao seu lado, ter certeza que
posso me orgulhar hoje, e ao mesmo tempo, certo de um dia poder olhar para o
passado do nosso futuro e ter essa mesma sensação de prazer e alegria, vendo
todos os seus desejos realizados, todos os seus sonhos confirmados.
Eu
que sempre fui um crítico severo, atuando dessa forma, nem mesmo me poupei,
minha estupidez nos fez sofrer, pelo meu egocentrismo desvairado. Aprendi a
tempo, com o pensamento chinês, para ter essa consciência que hoje tenho, a
vida é uma partida de xadrez e quando acaba somos recolhidos ao mesmo
recipiente, ou a mesma caixinha, independentemente de sermos o rei ou o peão.
Sinto
tirar um peso do meu corpo, que bom! Podendo falar abertamente, e dizer do
tempo perdido em não ter participado mais de perto das nossas vidas. Perdoe-me
por tido sido esse filho ausente, por quanto tempo!
Feliz
dia das mães, mãe...
*Escritor e Poeta
Confissão de amor
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/10/2013 10:39:00 AM
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