Saudade
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
O vento do passado esclarece que a
palavra saudade emergiu na época dos denominados descobrimentos portugueses,
mas precisamente no Brasil Colônia. Diz a lenda que o vocábulo saudade veio
como forma de se definir a solidão que arrebatava os portugueses, que distantes
da terra natal mergulhavam em profunda melancolia decorrente das impiedosas
lembranças dos entes queridos e da própria pátria, Portugal.
A saudade é filha da solidão, advém
do latim “solitáte”, encontra-se umbilicalmente também atrelada à tradição
marítima lusitana, pois quem partia para os mares nunca bravios e
de águas
desconhecidas, terminava por nutrir intensa nostalgia, ante a incerteza de seu
retorno à solo português, e, de outro lado, quem ficava à espera do retorno de
quem partiu, então, se enchia de solidão, saudade. Assim surgiu essa fêmea
devoradora dos nossos sonhos, dos instantes e instantes de vida. A saudade
passou a ser uma parceira constante da poesia, dos versos que cultivam o amor,
haja vista que acima de tudo quando se fala de saudade, logo percorremos os
caminhos dos sentimentos ligados ao amor, à perda, a ausência de um ser
querido, à distância que nos separa de outra pessoa ou de um determinado lugar
tão presente em nosso pensamento.
A saudade é um dos alimentos prediletos dos
poetas. Ela nunca será sinônima de algo devastador ou mesmo triste. Ter saudade
é recordar de coisas que nos fizeram felizes e alegres, daí porque recordar
algo que nos deixa cabisbaixo, na verdade é falar de pesadelo, jamais saudade.
Para Bob Marley a “saudade é um sentimento que quando não cabe no coração,
escorre pelos olhos”. Realmente, em alguns momentos esse sentimento é tão
grande que muitas vezes o coração para não explodir materializa a saudade por
meio das lágrimas, choramos assim, por rememorarmos lembranças de um tempo
inesquecivelmente positivo em nossa caminhada de vida.
A saudade está sempre presente em
nossas vidas. Quem não já sentiu saudade ao olhar um retrato? Ora, sentimos
saudade até mesmo pelo cheiro que pelo nariz adentra e toma conta de nossa
alma, seja de um perfume, do mato molhado lembrando chuva, quanto mais ao
olharmos uma fotografia. Sentimos saudade de amigos, da infância, dos tempos de
colégio, da faculdade, da liberdade e irreverência dos ventos juvenis. Não é a
toa que Clarice Lispector ensina que; “Ela é a prova inequívoca de que somos
sensíveis! De que amamos muito que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos
ao longo da nossa existência”.
Segundo Mario Quintana: “Só a
saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”. Pura verdade, por isso, a
quero sempre como companheira, pois é com ela que alimento meus sonhos.
*Escritor pombalense
autor de várias obras e Juiz de Direito da 5° Vara Cível de João Pessoa.
Saudade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/17/2013 04:53:00 PM
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