O poder que se serve não serve
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Genival Torres Dantas |
Genival
Torres Dantas*
O adágio que tão bem reproduz o
atual momento político no Brasil é extensivo a todas as corporações que direta
ou indiretamente manipulam o ideário popular. A lição que tem ficado é a inoperância
por parte dos poderes reagindo apenas por conta das manifestações por parte da
população, no início pelos estudantes, que buscavam um passe livre, promessa de
muitos anos da maioria dos políticos de memória curta e de assimetria burlesca,
cujos resultados positivos foram açulados tão somente pela cobrança manifestada
nas ruas.
É impressionante como o político
tem facilidade de mudar de posição, para quem acompanha a vida do Congresso Nacional
e
pelos discursos apresentados das tribunas, nos últimos dias, tanto na câmara
como no senado. Há de admitir que não tenha políticos corruptos no nosso país, todos,
sem exceção, incluindo a base aliada do governo, estão à procura dessa classe
danosa a população, é de ficar pasmo diante da cara de pau e de tanta desfaçatez
da grande maioria dos nossos congressistas.
Tem político que ao negar a
insatisfação da população e querendo justificar o grande momento que
atravessamos, uma idiotice, chega a afirmar que o país foi colocado de pé pelo
atual modelo administrativo. Lembramos a esses mesmos políticos que o país
realmente está em pé, mas em pé de guerra, com conflitos e confrontos nas ruas;
um verdadeiro pé de neve na economia, quando os índices inflacionários sobem e
a produção cai; um pé de vento que tem levado à ética e a moral para longe dos
nossos dirigentes deixando apenas rastos da vergonha por parte de uma população
açoitada pelos resultados vergonhosos dos últimos tempos.
A presidente envia ao congresso
sugestões para o plebiscito, inicialmente tão sonhado pelo PT e agora rejeitado
pela base aliada. Fica a impressão que no congresso não há ninguém capaz de
elaborar um questionário para resposta da população, ficando o executivo,
apenas ele, com a capacidade política e intelectual para formular tais questionamentos,
se preciso fosse, não há essa necessidade, o povo já está com a resposta na
ponta da língua e nas ruas. Com a rejeição por parte de alguns parlamentares da
base aliada, ao projeto do plebiscito, depois da derrubada da ideia da
constituinte específica, e se a ideia do plebiscito for derrubada, a presidente
terá uma derrota histórica, ficando com o congresso a Vitória do referendo,
caso essa seja à opção colocada em prática pelo parlamento brasileiro, pois
somente ele pode convocar um plebiscito.
Os cinco temas sugeridos pela
presidente gira em torno do voto proporcional ou distrital, voto secreto no
Congresso, o fim da suplência para senador, o fim das eleições proporcionais
(deputados e vereadores), e a realização de consulta popular sobre o financiamento
público ou privado nas campanhas eleitorais. Os temas basicamente dizem
respeito a uma reforma eleitoral, para fazermos reforma política tinha que
haver mais profundidade nos temas, além de uma abrangência maior.
Não pode ficar de fora temas
como o sistema de governo, se presidencialismo ou parlamentarismo, o momento é
oportuno para esse tema; voto facultativo ou não é relevante para um país
perfeitamente maduro e politizado como o nosso; se continuamos ou não no
sistema bicameral ou quem sabe viéssemos adotar o unicameral, o Brasil é uma
federação que vive harmonicamente, o sistema atual faz dos poderes se
sobreporem, trazendo apenas custos ao Estado, sem benefícios maiores, sem uma
contrapartida que justifique a manutenção do sistema atual para o nosso
legislativo; muito embora a harmonia prevaleça na relação entre Federados e
Federação, há uma necessidade premente que seja feita um novo pacto federativo
para que a distribuição dos valores arrecadados em termos de impostos federais
e que seja justa, acabando com a discriminação hoje existente, proporcionando
um equilíbrio político e financeiro aos federados. Outros exemplos poderiam ser
avocados concernentes ao tema, tão importante para o bom andamento da vida
política e administrativa do nosso país.
O TSE já se manifestou a
respeito do plebiscito, existe um prazo mínimo a ser cumprido, esse prazo é de
um ano para alteração das leis eleitorais para que elas estejam dentro da
anualidade, sem a sua inconstitucionalidade, o temo é exíguo, esse não seria o problema,
pois, o tempo não é um fato, mas, uma questão de prioridade. O que tem que ser
efetivamente discutido é se a reforma via plebiscito é o que realmente
precisamos. O congresso tem, se quiser, instrumentos para uma reforma profunda
e abrangente, basta ter vontade política e pensar um pouco mais no povo, esse
mesmo povo que exige transparência, honestidade e respeito ao erário público,
atitudes tão distantes nos políticos dos últimos tempos, com raríssimas
exceções.
Não adianta fazer uma maratona,
levantando projetos que estão sob malhete, tentando aliviar tensões,
justificando posições políticas que não refletem a realidade de cada um, é um
erro irreparável, tem que haver ponderação e entendimentos para que as ações de
hoje não sejam apenas de efeito temporário e injusto, a justiça terá que
prevalecer em qualquer situação. Precisamos ficar atentos aos rumos da luta que
estamos vivendo: “Um amor, uma carreira,
uma revolução, outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão”. Jean-Paul
Charles Aymard Sartre (1905/1980 – Filósofo, escritor e crítico francês)
*Escritor e Poeta
O poder que se serve não serve
Reviewed by Clemildo Brunet
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7/04/2013 11:21:00 AM
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