Uma decisão quase anunciada
Genival
Torres Dantas*
Genival Torres Dantas |
A
sôfrega espera pelo pendor da decisão do caso mensalão teve seu anuncio prorrogado
pelos longos discursos proferidos pelos ministros do STF (supremo tribunal
federal) desfavoráveis aos embargos infringentes. Nesse momento o caso já está
absolutamente julgado, moralmente, pelo empate ocorrido em 5x5, resultado do
plenário da suprema corte.
Não
tenho dúvidas que a protelação feita, de certa forma imposta, consciente ou
não, para que o ministro, desde 1989, José Celso de Mello Filho, o decano
remanescente indicado pelo ex-presidente José Sarney de Araújo Costa (1985/1990),
anunciasse seu voto de desempate, não terá nenhum efeito na postura e
decisão
do ministro que tem uma carreira impoluta em toda sua vida.
Como também não terá
nenhuma força de argumento pronunciamentos feitos por condenados no processo,
alegando serem vítimas de perseguição da elite brasileira que não aceitou o
sucesso do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003/2011),
mesmo porque o Lula governou com a participação da elite na sua base aliada
dando-lhe a governabilidade necessária, com permanência efetiva, no governo
petista, até hoje.
Outro fato que não terá
influência no voto solitário do ministro é o clamor das ruas, o desejo latente
de uma população carente de justiça, de um povo que se sente traído por parte
daqueles que se apresentaram como defensores de uma causa popular e usaram o
sucesso do intento para saquear os cofres públicos e praticar o vandalismo no
núcleo de um governo que prima em manter a sua base na areia movediça da
devastadora corrupção praticada por pessoas inescrupulosas.
Qualquer que seja a
decisão do ministro Celso de Melo, pelas suas declarações anteriores, ele é
favorável aos embargos infringentes, e se efetivamente isso ocorrer, não
obstante sua legalidade e a ação exercida às luzes da lei, fria e muitas vezes
desumana e desigual, o Brasil sofrerá suas consequências no futuro. Nada poderá
ser reclamado, o ministro simplesmente está no exercício da profissão e ele tem
todo direito assegurado de assim julgar, é o preço da democracia por termos
aliada aos nossos ideais ideológicos.
É chegada a hora da
reflexão, temos oportunidade de agirmos também de uma forma democrática, no
próximo ano, avaliarmos o que queremos para nós e para os nossos no futuro que
se avizinha. Será que vale a pena termos um sistema político que sistematicamente
trabalha sem nenhum critério ético. Essa realidade tem nos acompanhado há muito
tempo, muda-se o partido, mas permanece o sistema, e agora mais que antes, com
a divisão do poder, o compartilhamento na gestão pública, a divisão de cargos.
Há casos que vai além
do espanto, do inacreditável, do disparate, quando um mesmo partido político,
da base aliada, é despejado de um ministério e retorna ao mesmo espaço, com a
mesmíssima perfídia prática da corrupção, com desfalque na ordem de 400
milhões, anunciado pela imprensa investigativa que se constitui momentaneamente
no órgão que busca averiguar os descontroles governamentais, pois, há uma
verdadeira ausência da oposição pela sua inoperância ou fragilidade,
relativizada pelo assédio do poder central aos partidos que fazem parte de um
legislativo subserviente ao executivo em troca das benesses e favorecimentos,
restando uma minoria de políticos que ficam a espernear num ambiente vicioso.
Em 2014 as eleições vão
julgar esse período da nossa história recente, do continuísmo de gestão cujo modelo
pelego vai além da inércia e do descaso com o desenvolvimento brasileiro. Temos
um governo que não consegue efetivar seus projetos por falta de consistência,
iniciativa ou descrédito junto ao empresariado que nem mesmo se candidata na
inscrição de licitações para realizações de obras, casos específicos do PAC
(programa de aceleração do crescimento), com diversas rodovias paradas e outras
nem licitadas, ou se licitadas não havendo interessados, pois, o governo quer
um modelo de capitalismo sem aferição de lucros ou absoluta ausência de
segurança jurídica no sistema.
O
único setor que funciona no governo central é o da propaganda enganosa, quando o
Programa Mais Médico ainda não teve seu trabalho de campo deslanchado e já se
verifica nos canais de televisão como um assunto líquido e certo, com o sucesso
retumbante de sempre, principalmente nos locais mais distantes das ações
governamentais, chega a ser pitoresco e patético, quando acompanhamos a
desistência de médicos que não se adéquam ao sistema, ou e cidades, muitas
vezes pelos elevados custos que é imposto aos modestos municípios que não
dispõem de recursos para fazer frente às despesas de rateios.
Fica
claro uma questão importante nesse final ou continuidade do processo do
mensalão. Caso o ministro Celso de Mello faça opção pelos embargos
infringentes, será PT congratulações, para os simpatizantes ao sistema; se for
contrário à sua admissibilidade consistirá no PT saudações. Portanto, a sorte
está lançada, muitas emoções e adrenalina até quarta-feira (18), é o que está
reservado aos observadores políticos de plantão.
*Escritor e Poeta
Dantasgenival@hotmail.com
Uma decisão quase anunciada
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/17/2013 03:42:00 PM
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