A RUA DO SOL
Ignácio Tavares |
Ignácio Tavares*
Pra ser sincero não sei o verdadeiro nome da
Rua do Sol. Existem várias ruas, na cidade, frontal ao sol-poente. Mas, a Rua Sol
do é especial. As outras são menos expostas aos raios solares, em razão da
proximidade das ruas paralelas. Isso não acontece com a Rua do Sol, porque a Rua
Coronel José Fernandes, que está à sua frente, dista, no mínimo, cerca de 80
metros.
É uma rua pequena de pouca visibilidade no
conjunto de arruamentos da cidade. Inicia após o fim da rua estreita, porem, de
forma não sequenciada Tem um recuo pra esquerda na mediação do Castelo dos Inocentes.
Daí por diante segue até a Rua do Rosário. Em termos de bem-estar ambiental é
desconfortável, em razão do excesso de exposição solar. Eis o principal motivo
para a denominação da referida Rua.
O que tem de importante esta rua? Ah, pra mim
tem um significado muito grande. Nesta Rua e adjacências, moravam pessoas
amigas, com as quais formei uma amizade que permanece até hoje. É pena que
muitos dos amigos e amigas partiram para eternidade, mas, os que ainda estão
vivos a amizade continua firme e forte. É bom ter amigos porque sem eles a vida
torna-se morna, apática, por isso deixa de ser motivo de alegria e satisfação.
Nos finais de semana o grupo de amigos
reunia-se pra jogar conversa fora, às vezes, até um namorinho sutil, sem a
percepção dos olhares curiosos. Doca, Terezinha Almeida, Rita Martins, Tica de
dona Paulina, as irmães, Lúcia, Caminha, Lourdes Silva, ainda, Deíde, Irani,
Conceição, Maria de Tica, Raimundo, Juscelino, José Avelino Queiroga Vilar,
Chico Sales e mais gente que não consigo lembrar.
Esse era o time que se reunia em frente à casa
de dona Paulina, todos sentados sobre um amontoado de madeiras ali deixadas não
sei por quem. Era uma festa. Cantávamos, ríamos, fofocávamos, fazíamos tudo que
tínhamos direito. Lá pras tantas o grupo se desfazia e cada um tomava os seus
respectivos caminhos.
Rita que morava na rua estreita, nos seguia, enquanto
nós outros seguíamos pra o café de Dasdores, a fim de degustar um suculento
doce de leite, com pão de ló e depois partir para o lar doce lar, para nos
entregarmos ao sono dos justos.
No outro dia, logo após o almoço, estávamos na
casa de Dodóia, para mais uma rodada de papo, enquanto não chegava o horário
das três, Doca, Rita e Terezinha retornarem ao Colégio Diocesano, onde
trabalhavam como auxiliares de administração.
O tempo passou, mas a amizade que construímos
jamais passará. Boas lembranças povoam o meu consciente. São lembranças
inapagáveis, não obstante, a memória já apresentar alguns lampejos de esquecimentos
em razão da ditadura do tempo.
O meu temor é que chegue o dia em que a
memória evapore-se fazendo-me esquecer os bons momentos da minha vida. O que
fazer? Com certeza nada. Pra meu consolo, restam os meus escritos onde tive o
cuidado de registrar todos bons e felizes momentos que a vida me proporcionou.
Ademais, ainda posso lembrar-me quão fui feliz ao lado de pessoas que verdadeiramente
amei, com todo meu querer, com todo o meu coração.
O mais triste de tudo isso é o tempo está a
passar e nós também. Ah, se pudéssemos fazer o tempo retroceder! Tenho certeza
de que havia mudanças no curso da história de alguns membros do grupo. O que é
que vocês remanescentes acham? Não é
isso mesmo? Salve a Rua do Sol!
João Pessoa, 17 de setembro de 2013
*Economista e Escritor pombalense
A RUA DO SOL
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/17/2013 03:29:00 PM
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