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Previsão Inconsistente

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

O Brasil acompanhou com expectativa o desfecho do registro do partido Rede Sustentabilidade, de responsabilidade da ex-senadora Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, sendo negado dia 03 último, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Não se discute o mérito da causa, mesmo porque, decisão de juiz não se discute, simplesmente se cumpre. Marina Silva cometeu alguns erros de avaliação quando vendo os problemas de rejeição das assinaturas de inúmeras fichas de filiados, principalmente, segundo fontes jornalísticas, mais de 80%, da região do ABCD paulista foram rejeitadas, não havendo a iniciativa de repô-las em caráter de urgência urgentíssima, apesar da exiguidade do tempo; acarretando o prejuízo de ver todo seu esforço ser anulado pela ausência dessa iniciativa. Os fatos que levaram as anulações por desencontros no reconhecimento de assinaturas devem ser levantados posteriormente.

Na sequencia, toda atenção foi voltada para o futuro político da ex-senadora que agora buscava alternativa que viesse viabilizar sua possível candidatura à presidência da república, diante do fato de ver fracassado seu plano original que era disputar o cargo pelo partido que ela planejou com um projeto voltado para os temas que ela tanto defendeu, com o movimento heterodoxo, durante sua longa caminhada em cargos no legislativo e
no executivo, como ministra do meio ambiente (2003/2008), no primeiro mandato do governo Lula, do PT.

Alguns partidos se colocaram a disposição da ex-senadora, vários deles chegando mesmo a cogitar mudanças no estatuto para que viesse acomodar os interesses ideológicos defendidos por ela, na agremiação que viesse escolher. Depois de varias reuniões, idas e vindas, as possibilidades se voltavam para o PPS (Partido Popular Socialista), que tenha no seu comando o pernambucano, deputado federal, Roberto João Pereira Freire, com afinidades ideológicas próximas e não tendo ainda um candidato postulante ao cargo maior em 2014.

Para surpresa de muita gente, Marina Silva anuncia seu ingresso no PSB (Partido Socialista Brasileiro), antigo partido da esquerda democrática, sendo criado em 1947 e extinto em 1965 por força do Ato Institucional n° 2, recriado em 1985. Tendo como atual presidente o governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos, neto do cearense e um dos maiores líderes revolucionários do país, atuante até o movimento militar de 1964, cassado como governador do Estado de Pernambuco (1963/1964), retornando ao mesmo cargo e pelo mesmo Estado, por dois mandatos (1987/1990 e 1995/1999), Miguel Arraes de Alencar. Eduardo Campos lutou e ajudou a colocar o PT (Partido dos Trabalhadores) na presidência da república desde o primeiro mandato do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003/2006), mantendo-se aliado ao petismo até o mês de setembro próximo passado. Antes já era um político regional com grande popularidade. Com a coligação feita com o partido oficioso, Rede Sustentabilidade, e o peso político da líder do partido, passa a ser um político nacional, colocando seu partido PSP, na oposição, fato que até então havia dúvidas quanto essa situação, em decorrência da longa permanência do Eduardo Campos na base de apoio ao sistema atual e seu estreito relacionamento com Lula, o maior líder situacionista.

Se efetivamente o discurso da Marina Silva vier acompanhado de ações pertinentes a uma nova realidade na politica nacional, como ela sempre apregoou, certamente haverá uma acomodação dos seguidores da ex-senadora ao grupo do governador pernambucano e a debandada anunciada pelos inconformados dentro do grupo da Rede Sustentabilidade será contida, mas se tudo não passar de uma novidade se a efetivação de um novo comportamento, tudo seguirá na rotina do desalento nos caminhos devastados pela prática da política atual, de um passado equivocado, o presente tortuoso e inconsequente, e de um futuro caótico e desencontrado, com consideráveis prejuízos para uma nação tida e havida como um país de enorme potencial, mas perdida nas mãos de inconsequentes gestores.

É de se considerar, se confirmada às expectativas, que esse novo quadro representa uma nova esperança para o povo brasileiro, uma nova oposição surge com reais possibilidades de fazer um grande debate, acabando com a dicotomia que perdura por muito tempo entre o PT e o PSDB, com a disputa eleitoral passando a ser entre três grandes forças, de três partidos com penetração junto ao eleitorado.

Cai por terra à ideia prepotente, com uma previsão inconsistente, do marqueteiro petista, o baiano, compositor, jornalista, escritor e publicitário, João Cerqueira de Santana Filho, quando em entrevista recente anunciava que a oposição agia como se estivesse numa antropofagia de anões, se comendo lá embaixo, enquanto a presidente Dilma Vana Rousseff, sobranceira iria planar no Olimpo, ganhando no primeiro turno a corrida presidencial.

Agora, com a nova aliança e o desprendimento da Marina Silva, renunciando a disputa por qualquer outro partido que se filiasse, se colocando a disposição do PSB para capitalizar recursos políticos na candidatura do Eduardo Campos, e seu capital político não é pequeno junto ao eleitorado brasileiro; o PSDB com seu candidato seja ele quem for José Serra ou Aécio Neves, vai levar os governistas e aliados a correr para refazer seus planos de campanha, elaborar nova contabilidade, viabilizar novo projeto para a eleição de 2014 e descer do tamanco, pagando caro pelo esforço feito para eliminar a Marina Silva da disputa direta com sua Rede Sustentabilidade.

Sabemos que há problemas programáticos na união de forças que se anuncia, mas é uma questão menor quando se trata de impedir a evolução de uma ideologia ortodoxa com sinais explícitos de um chavismo exacerbado, e uma prática política já largada até mesmo pela China e praticada apenas pela Coreia do Norte e Cuba, dois países mergulhados numa profunda crise de sobrevivência e credibilidade mundial, enquanto insistimos em copiar esse modelo falido.

Enquanto isso a nova oposição, PSB e Rede Sustentabilidade, levanta a bandeira fundamentada no tripé desenvolvimentista baseada na manutenção dos principais avanços conquistados nos últimos tempos, como a estabilidade econômica que adquirimos no governo do PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995/2002), e as conquistas sociais ampliadas no governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003/2010). Democratizar a democracia com a participação efetiva da população nas decisões governamentais, e o desenvolvimento sustentável, tema que sempre acompanhou a Marina Silva na sua luta obstinada.

É esperar para ver se a prática sustenta a teoria e com a participação ativa da Marina Silva o PSB se transforma no partido oposicionista esperado, agrupando tendências responsáveis e que sejam respeitados pela sociedade brasileira, viabilizando um país coerente, com um debate de alto nível, com propostas de governo, sem os dossiês de 2010, quando a campanha presidencial foi uma vergonha nacional, baseados em denúncias, sem uma verdadeira postura democrática.

*Escritor e Poeta

Previsão Inconsistente Previsão Inconsistente Reviewed by Clemildo Brunet on 10/11/2013 04:04:00 AM Rating: 5

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