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OS ÁGUIAS DE POMBAL

Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana

                             Recebemos um telefonema do amigo, Chico de Maroquinha, que após uma reunião com várias pessoas do meio cultural de Pombal, residentes em João Pessoa, inclusive, com a presença do baterista Mestrinho, escolheram-nos para prefaciar a obra literária organizada por Gilberto de Sousa Lucena, intitulada de “OS ÁGUIAS” DE POMBAL”, assim, deixando-nos lisonjeado, muito feliz e até agraciado pela lembrança do nosso nome para este desiderato, que talvez não fosse a pessoa melhor indicada.
De cara, sem qualquer rodeio, numa rápida leitura, revivem-se os anos de rebeldia da juventude de Pombal, no período de 1966 a 1977 que, obrigatoriamente, faz-se um retorno memorável ao passado das boas e
belas canções, conjuntos musicais, hoje, bandas, baile, festa, dança, flerte, namoro, noivado, casamento; cinema, luz, tipo de carro, modelo, estilo de sapatos, calças, camisas e cabelos longos, mas, também, de luta, trabalho, sacrifício e muita ousadia.
Cada um há seu tempo, tudo isto é exemplo do genuíno pombalense, que já nasce com a marca no olho, sabendo-se que é filho de Pombal. Em qualquer lugar do mundo, afastados, distantes ou desconhecidos, quando se reencontram, logo se identificam imediatamente como um filho de Pombal. Isto não é ser diferente, isto é ser demais.
O rock and roll, como gênero musical de grande sucesso nos Estados Unidos nos anos de 1950, era inovador e diferente de tudo que já tinha ocorrido na música. O rock unia um ritmo rápido com pitadas de música negra do sul dos EUA e country. Uma das características mais marcantes do Rock era o acompanhamento de guitarra elétrica, bateria e baixo. Com letras simples e um ritmo dançante esfuziante, contrapondo-se ao passado, caiu rapidamente no gosto popular. Ganhando a simpatia dos jovens que se entrosou com o estilo rebelde dos cantores e bandas.
O Rock, nos anos 1960, é considerado de rebeldia e transgressão, particularmente, esta fase marca a entrada no mundo do rock and roll com a banda de maior sucesso de todos os tempos: The Beatles. Os jovens de Liverpool estouraram nas paradas da Europa e Estados Unidos, em 1962, com a música “Love Me Do”.
A década de 1960 ficou conhecida como Anos Rebeldes, graças aos grandes movimentos pacifistas e manifestações contra a Guerra do Vietnã. O rock ganha um caráter político de contestação nas letras de Bob Dylan. Outro grupo inglês começou a fazer grandes sucessos: The Rolling Stones.
O primeiro sucesso no cenário brasileiro apareceu na voz da cantora, Celly Campello, que estourou nas rádios com os sucessos: “Banho de Lua” e “Estúpido Cupido”, no início da década de 1960. Em meados desta década, surge a Jovem Guarda com cantores como, por exemplo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderleia. Com letras românticas e ritmo acelerado, encarou o sucesso entre os jovens.
Na década, de 1970, surgiu Raul Seixas, e o grupo Secos e Molhados.
Na cidade de Pombal, Paraíba, Brasil, América do Sul, acompanhando a nova temática musical, surgiu o Conjunto Musical composto de por cinco jovens idealistas: (Dé, Tico, Zé Ary, Valdeci e Mestrinho), em meados de 1966, que denominaram: “OS BARRA LIMPA”, que sem nem um tostão no bolso, mas carregando o coração de muitos sonhos, inspirando-se num revista da época que exibia nas suas páginas modelos de guitarras e baterias, criaram a ideia, inventaram as coisas, tomaram atitudes, fizeram e negociaram empréstimos, manusearam e tocaram muito os seus próprios instrumentos musicais.
Barra Lima significava uma expressão engajada pela Jovem Guarda, cujo movimento cultural brasileiro confrontou mudanças de comportamento na música, na moda, na expressão corporal e no estilo de vida. A nova gíria daquela época, hoje, quer dizer: legal, bacana, é de casa, sem nó, encara na melhor etc. Os Barra Limpa de Pombal foi o embrião de cinco irmãos musicais: (guitarra solo); Zé Ary (guitarra base); Tico (contrabaixo); Mestrinho (baterista); e , Valdeci (percussão). Uma interessante coincidência, The Beatles, a sua formação inicial era composta de cinco jovens: Lennon, McCartney, Harrison, Stuart Sutcliffe (baixo) e Peter Best (baterista). A primeira apresentação pública do conjunto musical de Pombal não podemos comparar with The Five boys from Liverpool, in The Cavern Club, mas, sim, podemos gritar aos quatro ventos: SÃO OS CINCO MENINOS DE POMBAL, NO COLÉGIO JOSUÉ BEZERRA, foi justamente num festa neste educandário que os meninos tocaram pela primeira vez para um grande público. E bota nervosismo nisso, era tremedeira de vara de marmeleiro.
Nos primórdios daquela fase de mudança dos anos rebeldes, a cidade de Pombal não tinha um clube social à altura das novas exigências, a fim de que pudesse congregar a sociedade numa festa de baile, ou, as chamadas festas dançantes. Existiam o Colégio Josué Bezerra, o Ginásio Diocesano de Pombal, a Sede Operária, e, ainda, a Serraria de José de Sousa, na rua: Domingos de Medeiros, onde se realizavam saraus dançantes, além dos terreiros de barro pisado na zona rural com o intuito de promover as festas juninas. Logo depois, já à época de “Os Águias”, o aspecto social foi repensado no seu “modus vivendi”, apesar da existência de um arraigado preconceito racial e uma evidente separação de classe social de acordo com o poderio econômico. Surgem o Pombal Ideal Club, a Associação Atlético Banco do Brasil, Boate da Brasil Oiticica, a Associação dos Estudantes Universitários de Pombal, a Palhoça da Vicente de Paula Leite, e, por fim, o Jovem Club de Pombal. Faziam-se festas nas palhoças temporárias da nossa tradicional vaquejada, no Parque Manoel Arnaud.
A vida humana é cheia de altos e baixos, pois, nem tudo que reluz é ouro. A pirâmide social sempre está em movimento, nada é estático, por isso, existem as transformações na sociedade. Assim, como na vida, podemos comparar às instituições, entidades, associações, clubes, grupos etc. De “Os Barra Limpa” que recebeu o novo nome de batismo “Os Águias”, que teve os seus tropeços, mas rendeu bons frutos; perdas e ganhos; derrotas e vitórias, decepções e alegrias; recuos e desafios. O rendimento de ofertar alegria tornou-se bem maior do que os tropeços e as decepções. O segundo nome de batismo já chegava de forma desafiante. E por que tudo isso? A águia é uma ave de rapina da família dos acipitrídeos, notável pelo o seu tamanho, força, figura imponente, agudeza de vista e voo poderoso. Era a principal insígnia nos exércitos romanos. No nosso vernáculo tem o sentido de “homem de alto engenho ou de grande perspicácia”, assim como foi considerado Ruy Barbosa – “O Águia de Haia”.
The Thunder Boys, conjunto musical que fazia parte o nosso estimado Hermínio Monteiro Neto, formado por um elenco de rapazes da alta sociedade, infelizmente, para um registro histórico, não deixou a marca nem tampouco tem o reconhecimento de “Os Águias”.
A atuação de “OS ÁGUIAS” não ficou restrita à cidade de Pombal e as cidades circunvizinhas, no entanto, expandiu-se para outros Estados da região Nordeste, por exemplo, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, apesar da época ser completamente desfavorável a este grandioso desafio a que se propuseram. Se fosse hoje estavam no Faustão.
Rebuscando a nossa memória, relembramos de dois fatos que envolveram “OS ÁGUIAS”.

No ano de 1974, éramos concluintes do curso ginasial, no vetusto Colégio Estadual de Pombal. No início do ano, reunimos as turmas concluintes, a comissão organizadora ficou assim constituída: Severino Coelho Viana, Janjão de Antônio de Cota, Expedito Abrantes, Lourdinha de Carrolino, Tiquinha de Carrolino, Socorro Almeida e Rosinha Pereira, esta faleceu um mês antes da colação de grau. Foram tomadas duas decisões: a) realizar o baile de colação de grau; b) fazer uma viagem à Fortaleza.
O primeiro passo, convidamos o paraninfo da turma, o escolhido foi o Dep. Chico Pereira. Fizemos o convite, e convite aceito. O compromisso assumido pelo paraninfo era pagar o conjunto musical para tocar o baile. A primeira parte estava garantida, a festa já marcada para o dia 20 de dezembro de 1974.
A segunda missão, angariar fundos para a viagem à Fortaleza. Fizemos festas nas cidades de Pombal, Lagoa, Jericó, Sousa e Uiraúna, além de colocar uma barraca na vaquejada. Conseguimos algumas reservas e estava garantida a viagem à Fortaleza. A festa da vaqueja não deu bons resultados, pois foi o período da morte de Hermínio Neto.
Chegamos ao final do ano, falamos com Zé Ary e levamos o contrato para seu Chico Pereira assinar. Quando dissemos o valor, seu Chico chiou. Ele disse que o valor do contrato do conjunto (Os Águias) musical era muito alto, portanto, estava caro e não assinava. Voltamos do Riacho do Bode, falamos com Zé Ary, este baixou um pouco do valor do contrato. Retornamos ao Riacho do Bode, mas, seu Chico Pereira, irredutivelmente, ainda achou o preço alto.
No meio do caminho, resolvemos falar com Dr. Ademar Pereira, que, à época, era Diretor do Hospital Distrital de Pombal, filho do Dep. Chico Pereira. Expomos o problema, que seu Chico Pereira não queria assinar o contrato. Depois que Ademar Pereira ouviu os nossos argumentos respondeu:
__ Mais papai está fazendo confusão com os estudantes por causa de uma coisa dessas! Eu assino contrato, ou melhor, chame Zé Ary e pergunte se homem de palavra é preciso assinar papel?!
Na mesma hora, nós arguimos. Neste caso, Dr. Ademar, o senhor vai ser o paraninfo.
Saímos do hospital e mais uma vez fomos ao Riacho do Bode. Quando chegamos lá, dissemos:
__ Seu Chico, falamos com Dr. Ademar, lá no hospital, e ele aceitou pagar o contrato de “OS ÁGUIAS”. Agora tem um problema, nós colocamos o Dr. Ademar Pereira como paraninfo da turma e o senhor vai ser o patrono. Seu Chico Pereira respondeu com toda a sua tranquilidade e aquela sua tonalidade de voz arrastada:
__ ADEMAR É FILHO DE PAI RICO!
Finalmente, no mês de dezembro de 1974, organizamos a nossa festa de colação de grau do curso ginasial, cuja animação e pompa couberam ao conjunto musical: “OS ÁGUIAS”, nas dependências do Pombal Ideal Club. No mês de janeiro do ano seguinte fizemos o nosso passeio de um final de semana, em João Pessoa, foi a sobra do dinheiro, não deu para ir à Fortaleza.

O segundo envolvimento com “Os Águias” aconteceu que, no dia 17 de abril de 1976, foi fundado o Jovem Club de Pombal, recaindo nos nossos ombros o encargo de eleito primeiro presidente. O Jovem Club de Pombal começou do zero, era composto do presidente, mais 41 (quarenta e um) jovens. O único patrimônio era um LIVRO DE ATA, faltando toda a documentação para o devido registro. E o dinheiro? Nada! Na primeira semana, conversamos com Zé Ary, queríamos fazer a primeira feijoada dançante, na manha do domingo seguinte, Zé Ary topou o contrato, num preço razoável. Falamos com Clemildo Brunet de Sá, no Lord Amplificador, depois com os irmãos Evandro e Evilásio Junqueira para a divulgação no carro de som. E os ingredientes da feijoada, tudo comprado fiado! Bem, a feijoada dançante foi um estouro de novidade, o Jovem Club de Pombal caiu no gosto da juventude pelo seu repertório e grandes promoções, como naquela época trouxemos o “IMPACTO CINCO”. Daquela data em diante, na nossa gestão foi só sucesso. Mas o passo inicial foi com “OS ÁGUIAS”.
A nossa espinhosa missão está chegando ao arremate do nosso discernimento, percebemos que o conteúdo esboçado por GILBERTO DE SOUSA LUCENA, em “OS ÁGUIAS” DE POMBAL” é um resgate de parte da história musical da cidade de Pombal, quando todos estes seres humanos que sonharam pôr em prática um ideal: Dé, Zé Ary, Tico, Mestrinho, Valdeci, Geraldo, Chaguinha, Xavier, Edson, Chico de Maroquinha e Delson, recebam o nosso troféu de gratidão pelo muito que todos fizeram em prol da musicalidade da Terra de Maringá.

João Pessoa - PB, agosto de 2013.

 SEVERINO COELHO VIANA  
Prefaciador
OS ÁGUIAS DE POMBAL OS ÁGUIAS DE POMBAL Reviewed by Clemildo Brunet on 10/09/2013 03:31:00 AM Rating: 5

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