Tempos de Violência e Incredulidade
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
A violência que
envolve os dias atuais não é um privilégio nosso, a sua incidência é maior em
todas as escalas e tem se manifestado de forma indiferente na proporção que
evoluímos os estudos nas camadas mais susceptíveis aos desmandos da corrupção,
tráfico de uma forma generalizada e em todos os níveis sociais,
independentemente do sociocultural.
A violência com que
somos agredidos pelos políticos é constante nos diferentes regimes que tem nos
conduzido, para ser mais atual e
revivendo a história que estamos de certa
forma ajudando a fazê-la, começo a escrever sobre o governo do inesquecível
estadista brasileiro Juscelino Kubitschek de Oliveira. Dizem que a construção de Brasília, final dos
anos 1950, foi permeada de corrupção, não pelo governo central, mas pelos seus
comandados que ficando distante do poder, fizeram verdadeiro desfalque, quando
ainda não existiam os controles eletrônicos que temos hoje e somos submetidos a
sua rigidez, quando manipulados por mãos decentes. Caminhões de matéria prima,
como ferro, cimento e argamassa, muitos vezes entravam por uma portaria e saia
por outra, várias vezes com os mesmos produtos e notas fiscais diferentes,
acarretando um prejuízo incalculável ao erário, por conta de elementos amigos
do alheio, infiltrados na administração pública apenas para se servir e não
para servir a pátria. Esse foi um tipo de violência aplicada do seu modo e a
sua época.
Em 1964 tivemos o
golpe militar endossado pelo então presidente do Congresso Nacional, senador Auro
de Moura Andrade, mesmo sabendo da permanência do presidente João Belchior
Marques Goulart em território brasileiro, exatamente no Rio Grande do Sul,
mesmo assim, declarou vacância no cargo de Presidente da República e investiu
no cargo o presidente da Câmara, o deputado Pascoal Ranieri Mazzilli, numa
verdadeira violência a constituição em vigência, apenas para dar legalidade à
posse dos militares que vieram na sequência.
O ex-presidente José Sarney de
Araújo Costa, mesmo eleito indiretamente, pelo colégio eleitoral, deu inicio
aos novos tempos de uma democracia ampla, mesmo vindo da base que dava apoio
aos governos militares, fez o seu papel na transição. A grande decepção ficou
pelo fracasso no setor econômico, com os planos, Cruzado, Bresser e Verão, sem
ter conseguido controlar a inflação, ficando marcado pelo ágio que dominou seu
governo, tanto na indústria como o comercio, estendido ao campo, no
desabastecimento de produtos agropecuários.
Inicio dos anos 1990, de depois de
um fracassado Plano Collor, com perdas de mais de 920 mil postos de trabalho e
uma inflação tangenciando os 1200% ao ano, numa profunda recessão econômica, o
governo mergulhado em denuncias de corrupção de assessores mais diretos da
presidência, o ex-presidente Fernando Affonso Collor de Mello renunciou em 29
de dezembro de 1992, aquele que jurou ser o caçador de marajá, virou caça,
assumindo então o vice-presidente Itamar Augusto Cautiero Franco. Na sequência
o ex-presidente Fernando Collor sofre o processo de impugnação de mandato
(impeachment), já em andamento mesmo antes da sua renúncia. Usaram o gesto de
moralidade, empregado pelos políticos que hoje estão praticando absurdos, de
longe sem parâmetros de comparação com os motivos alegados à época.
Quando o sociólogo (FHC) Fernando
Henrique Cardoso assumiu a presidência da República em 1995 era de se supor um
governo voltado para as minorias como um todo. Foi sem dúvida o inicio da
abertura das politicas sociais, voltadas para os menos favorecidos, teve
sucesso com o Plano Real, trazendo estabilidade a economia, se constituindo num
dos maiores ganhos ao povo brasileiro, com a manutenção do poder de compra.
Entretanto, foi no seu governo que o idoso, aquela classe quase que considerada
como incapaz, por não ter absoluto controle sobre seus gestos, ações e em
muitos casos sobre sua própria vida, mas por serem indefesos. Exatamente no
governo do FHC a classe da terceira idade sofreu seu mais duro golpe, pagou por
erros de gestão, da inabilidade dos administradores de governos anteriores;
procurando viabilizar o sistema assistencial nacional, o congresso votou e
aprovou o fator previdenciário (1999), que se constitui num dos maiores crimes
cometidos contra os idosos aposentados do nosso país, uma violência
irremediável que quanto mais o tempo passa pior ficara para os atingidos.
Assume a Presidência da República
em 2003 o metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva, com a bandeira da dignidade,
moralidade e honestidade, depois de 8 anos e dois mandatos, sai com o rótulo e
ter sido um dos presidentes que mais contribuiu com a ampliação dos programas
sociais, porém, com maior grau de corrupção em sua gestão. Nunca antes tivemos
tantas denuncias, com a descoberta dos mensaleiros e seu julgamento, ainda em
andamento, um dos mais duros golpes aplicados contra o patrimônio público e a
moralidade política em nosso país, um enorme desrespeito a inteligência humana
por um partido e seus seguidores.
Em 2011 assume a presidência Dilma
Vana Rousseff, com as credenciais de uma grande gestora. O Brasil entra
definitivamente na rota da corrupção endêmica, ministros são denunciados e
trocados, partidos da base aliada continuam com livre transito no governo,
mesmo fazendo parte daqueles que praticam a desonrosa qualificação de corrupto
na gestão dos cargos exercidos no governo atual. Mudam-se apenas os nomes dos
dirigentes, mas as siglas continuam a fazer parte do sistema, tem que marcar
presença no quinhão que lhe toca na divisão do bolo. Uma agressão ao bom senso,
a ética e aos bons costumes.
Para o assunto não ficar restrito
apenas na esfera federal, governadores e prefeituras de todos os partidos tem
trilhado o mesmo caminho, praticando os mesmos erros e desacertos.
Em São Paulo, o governo estadual,
com extensão aos dois governadores anteriores, todos do (PSDB), é denunciado em
cartel de licitações no sistema de trens e metrô, com participação de três
ex-diretores da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), com acusação
de prática dos crimes de corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
A prefeitura, depois de
levantamentos do MP (Ministério Público), desarruma quadrilha que vinha
atuando, no governo anterior do (DEM/PSD), com participação de diretores e
auditores, que vinham da administração anterior, e um secretário de governo da
atual gestão (PT), vereador licenciado, que volta ao seu cargo para poder ter a
regalia da imunidade parlamentar e se defender das acusações.
Não podemos dizer que os prefeitos,
anterior e atual, tenham culpa no processo, mas é um disparate pela soma dos
desvios anunciados, fala-se em R$500 mi, uma quantia considerável para uma
prefeitura, mesmo sendo essa a de São Paulo, cujos controles não tenham acusado
esse desfalque desde 2007.
Lamentamos a violência que somos
submetidos diariamente, por todos os partidos que gerem a nossa política e
diretamente nossa economia, com seus desmandos e inconsequentes gestões, não se
importando com aqueles que apostaram na capacidade dos seus favoritos e esses
não tiveram a decência de corresponder com a confiança delegada através do voto
na urna depositada. Sobre esse assunto, encerrando o texto, lembro o que disse o
pensador Renée Venâncio: “Quanto mais corrupção, mais injustiça. Quanto mais injustiça, mais
impunidade. Quanto mais impunidade, mais violência. Quanto mais violência,
menos felicidade”.
*Escritor e Poeta
Tempos de Violência e Incredulidade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/15/2013 08:25:00 AM
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