A Injustificável Violência dos Nossos Dias
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
É impossível ficar
indiferente aos problemas de violência que tem nos cercado nos últimos tempos.
Não é um problema apenas regional, a sociedade como um todo tem se defrontado
com o sofrimento das famílias que vivem cercadas da intolerável e indisfarçável
guerra urbana que diminuem nossos espaços, nos tira o direito de ir e vir, nos
premia com o desplante de atuações marginais, e em decorrência, sermos
acometidos por doenças neuróticas, nos privando da nossa rotina diária, nos
transformando numa verdadeira massa de pacientes estressados e trancados em
nossas casas com receio até mesmo de abrirmos nossas portas aos parentes mais
próximos, quando não os sobressaltos que temos ao atendermos a um inofensivo
telefone. Portanto, nossas casas já não refletem a segurança desejada e
que tão
cara pagamos, embutida nos impostos que nos cobram em nome da dignidade humana.
Não bastasse o terror externo,
muitas famílias se veem envolvidas no pânico das drogas que viciam, matam e
dissolvem lares por conta de um vício de difícil controle, as autoridades não
reagem aos traficantes usando o recurso da força da lei na tentativa de coibir
esse mal que assola a sociedade que se vê refém de um mal que nos afeta direta
ou indiretamente pela extensão do transtorno que ele nos traz. Enquanto isso a
polícia mal preparada e equipada se sente impotente diante dos fatos que lhe
tiram a autoridade de uma ação mais contundente, sob pena de se transformar no
criminoso potencial.
A violência dentro de casa não para por aí, apesar da Lei Maria da Penha, Lei número 11.340, em vigor desde 22 de setembro de 2006, criada como um dispositivo legal para aumentar o rigor nas punições contra agressões sofridas pelas mulheres, ocorridas no âmbito doméstico e familiar. Aquilo que parecia ser uma solução para os problemas de desavenças e crimes, normalmente cometidos por homens drogados, enciumados e bêbados, não passou de uma esperança morta, os crimes continuam, muito embora numa densidade menor. Filhos menores também são vítimas de lares desestruturados, formando futuros desajustados dentro de uma sociedade carente de paz e harmonia. Situações análogas que traduzem muito bem o momento perverso que vivemos, enquanto alguns com muito sacrifício constroem vidas saudáveis, outros destroem os elos sociais de afetos e consistência que ligam o presente ao futuro.
O caso do mensalão 470, além
de trazer a tona à violência que existe no meio político, contra os bons
costumes, através de políticos
corruptos, quando usam cargos públicos para se servirem em vez de servirem. Trouxe
a discussão de uma situação antiga e necessária de solução urgente, que é o
sistema carcerário. Um modelo falido, sem nenhuma condição de reeducação aos
presidiários que se transformam, quando lá ingressam, em verdadeiros marginais
com novas táticas e práticas que aprendem, por conta de uma superlotação
desumana e sem nenhuma utilidade ou orientação aos homens que depois de
cumprirem suas penas retornam à sociedade, mais perigos e cruéis como nunca.
Nossas escolas não
representam mais aquele ambiente de cultura e desenvolvimento humano, as
crianças e adolescentes, uma grande parcela, em estabelecimentos de ensinos
identificados, se transformou em animais sem noção do verdadeiro ambiente
educacional, levando perigo aos colegas que procuram uma instrução
transformadora para sua formação com conteúdo moral e cívica, e os mestres que
correm até mesmo risco para sua integridade física, tamanha é a selvageria que
compõe o caráter desses seres nocivos ao seio escolar.
As ruas e as praças já não
são o palco onde o povo ia reivindicar seus direitos, respeitado e respeitando
os limites da democracia, se fazendo ouvir pela eloquência dos discursos
inflamados dos trabalhadores e estudantes. O que temos é um bando de vândalos
infiltrados no meio de grupos pacíficos, deturpando toda e qualquer situação de
harmonia, levando perigo, com risco de vidas, depredando o patrimônio público e
privado, como se essas atitudes resolvessem o problema coletivo. É bom
salientar que o empresariado luta com dignidade e sacrifícios para formar seu
patrimônio, e de um momento para outro ver todo seu esforço ser transformar em
cinzas e fumaças, sem que nenhuma atitude seja tomada, por parte das
autoridades, para que essas situações não sejam repetidas, pelo contrário, as
cenas se repetem, como se fossem de um filme de terror encenado nas vias
públicas, cujos protagonistas enfrentam as circunstancias sem nenhum temor de
repreensão, pois são cenas livres, sem direção ou enredo, apenas o final a que
se pretende é realizado, uma tragédia anunciada e nunca evitada.
Agora o escárnio chegou aos
nossos estádios de futebol, rebatizados de arenas, onde as conquistas eram
festejadas e comemoradas por torcedores conscientes das suas atitudes. O Brasil
é o país do futebol, estaremos sediando a Copa do Mundo de 2014, era hora de
mostrarmos ao mundo que já não somos um país do futuro, mas, do presente,
apesar da nossa fragilidade educacional, setor que pouco evoluímos, mas estamos
interligados a cultura mundial, representamos a 7° economia, somos emergentes
buscando o título de grande potência pelos méritos que temos em muitos setores,
tudo que estamos passando no futebol é vergonhoso.
Vendo os vídeos dos
confrontos das equipes esportivas, do campeonato nacional que se encerrou, e
especificamente o último jogo entre Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e Clube
Atlético do Paraná, nos causa uma grande decepção pelo que ainda somos, um povo
sem educação esportiva. Uma verdadeira guerra entre torcidas, com pessoas
machucadas, retratando um país necessitado de uma reengenharia no plano
educacional, e o resultado foi a simples prisão de três torcedores e multa para
os times envolvidos. Muito pouco para tentar moralizar uma camada da sociedade
que não se cansa de enlutar um povo ordeiro como o nosso, com suas atitudes
condenáveis e desafiadoras para as autoridades que querem mostrar ao mundo um
novo país, que somos capazes de sediar um torneio esportivo sem macularmos
nossa trajetória de grande e único pentacampeão mundial, respeitado
mundialmente. Para que não sejamos expostos como ridículos aos olhos do mundo,
não precisamos de delegacias em estádios, nem mudarmos as leis, basta que sejam
cumpridas as que já existem, para tanto é preciso que haja competência, é o que
está faltando as nossas autoridades.
Nesse momento não
podemos esquecer a fantástica frase do polímata brasileiro, Ruy Barbosa de Oliveira (1849/1923): “Toda
a capacidade dos nossos estadistas se esvai na intriga, na astúcia, na cabala,
na vingança, na inveja, na condescendência com o abuso, na salvação das
aparências, no desleixo do futuro”.
A Injustificável Violência dos Nossos Dias
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/13/2013 07:39:00 AM
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