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A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL

PARTE I

Jerdivan Nóbrega de Araújo
Jerdivan Nóbrega de Araújo*

O florescimento das irmandades de negros nas regiões dos vales do Piancó, Seridó e Piranhas, se deram com a expansão da criação de gado e a introdução do algodão que, a partir da segunda metade do século XVIII, passou a ocupar um papel preponderante na economia regional, demandando uma grande quantidade de mão de obra escrava. As fazendas eram enormes e muitas das vezes pertencentes a uma mesma família, proporcionando a migração dos escravizados na região.

As irmandades eram associações de leigos que surgiram em todo o Brasil, colonial já no século XVI, cujo “estatuto”
e “Compromisso” precisavam ser autorizados, tanto pela igreja como pela Coroa real. A sua finalidade era a ajuda mútua aos seus “irmãos de devoção”, proporcionando-lhes um espaço de construção da identidade negra; na prestação de auxílio aos confrades, seja na compra de alforrias, ajuda as famílias desamparadas ou promovendo um enterro digno aos seus associados – irmãos de devoção - além da adoração a sua padroeira.
Na primeira metade do século XIX a Irmandade dos Negros do Rosário de Pombal teve um papel fundamental como agente fomentador da reorganização e inserção social dos negros, sejam alforriados ou escravizados, na sociedade, não apenas na cidade de Pombal, mas em todo o entorno dos vales do Piancó, do Piranhas e do Seridó, onde se repetiram o fenômeno.
A Confraria de Pombal foi reconhecida oficialmente pela na lei civil N° 858 de 10 de novembro de 1888, mas já devia existir bem antes, porém nunca foi estudada com mais aprofundamento. É e esta falta de conhecimento que pode levar a extinção uma organização secular, cuja criação antecede a festa e até a adoração ao Rosário na cidade de Pombal.

A incidência de uma Confraria de Pretos na cidade de Pombal e a sua sobrevivência até os dias de hoje, é motivo de comemoração e de orgulho, mas que precisa ser preservada, em nome da história e resistência do povo negro e da sua identidade religiosa e cultural.

Os movimentos negros historicamente têm reagido a esta “amnésia” cultural, e feito o resgate das suas raízes, retomando o espaço que lhes fora tomado ao longo dos anos. Em Pombal, no entanto a bicentenária “Irmandade dos Negros do Rosário”, uma das poucas ainda remanescentes no nordeste brasileiro, sucumbe na contramão da resistência dos movimentos de preservação da cultura negra.

É desse modo que vamos perdendo a importância e o significado da Irmandade dos Negros do Rosário. Importância essa não apenas para cidade, mas para toda etnia negra do nordeste do Brasil, enquanto instrumento histórico de reação da população dos afros descendentes.
A cidade de Pombal, que desconhece a existência dessa riqueza cultural na nossa urbe, precisa reagir aos que tentam jogar a Confraria no ostracismo, disseminando através de palestra e da presença física dos irmãos de devoção nas escolas primárias, o reconhecimento da importância histórica da Confraria para que as autoridades, professores e alunos  façam a sua própria reflexão, buscando o tombamento histórico da organização, e transformando- a   em patrimônio Cultural e religioso da Paraíba.

Já a Casa do Rosário, localizada na Rua Manoel Maria Cachoeira, figura motivadora da criação da irmandade deve ser transformada em um memorial onde possamos acessar sem dificuldades os documentos históricos da Confraria da Irmandade dos Negros do Rosário de Pombal.
É o meu parecer mais imediato

*Escritor e Pesquisador da história de Pombal.
A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL A IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL Reviewed by Clemildo Brunet on 12/13/2013 07:54:00 PM Rating: 5

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