NO TEMPO DAS CAVALHADAS
Ignácio Tavares |
Ignácio
Tavares*
Por acaso vocês já ouviram falar no
verdadeiro significado de uma prática esportiva denominada “As Cavalhadas”?
Alias existe aqui no município um sitio conhecido pelo nome de As Cavalhadas.
A que se deve tão estranha
homenagem? Com certeza devia ser um proprietário adepto do folguedo em questão
que há muito tempo deixou de fazer parte das festividades em homenagem ao
Divino Espírito Santo, aqui na nossa terra.
Pois
é,
nos
anos quarenta, até o início dos cinquenta, a zona rural em peso deslocava-se
pra cidade a fim de aplaudir os seus cavaleiros na disputa no folguedo das
Cavalhadas. O que são as Cavalhadas? Trata-se de um folguedo que faz parte das
comemorações em homenagem ao Divino Espírito Santo, cuja origem, salvo engano,
vem dos países ibéricos.
Ainda
hoje esse folguedo é festejado com muita pompa no Centro Oeste e no Estado de
Minas Gerais, entre outros estados do centro sul. Na realidade, o referido
esporte teatraliza a história da luta entre os Cristãos, liderados por Carlos
Magno, contra os Mouros que invadiram a Península Ibérica.
São
reminiscências cultural/religioso da idade média, que em 1451 foi encenada em
Portugal, nas festas de despedida da Princesa Leonor ao casar-se com o Rei Romano
Frederico III. Este acontecimento foi divulgado pelos colonos portugueses aqui
no Brasil no século XVIII. Os rituais da prática esportiva tinham o apoio da Igreja,
e continua a ter até hoje, nos lugares onde o referido folguedo continua vivo como
dantes.
Em
razão de as Cavalhadas tratar-se de uma manifestação folclórica medieval os
atores vestiam-se a caráter para os desfiles pelas ruas centrais da cidade, com
os animais paramentados com tecidos multicores. Eram dois grupos. Um
representava os Cristãos, outro representava os Mouros. Havia a encenação de
uma batalha, claro, sempre com a vitória dos Cristãos.
O
segundo momento do folguedo fundamentava-se numa disputa para ver quem era mais
habilidoso na arte da montaria, em alta velocidade. O ponto alto das
festividades era a disputa para ver quem melhor lanceava a argolinha pendurada
numa corda em sentido horizontal.
A pista de corrida ficava na rua
nova. A argolinha ficava na lateral da Igreja do Rosário, próxima a coluna da
hora. Quem conseguisse lancear a argolinha mais vezes, seria o vencedor. Nesse
tempo as ruas eram de chão batido, o que facilitava o trote dos animais. Entre
os mais famosos argolistas destacavam-se os filhos de Antônio Bezerra, os
Adonias, entre outros.
A
cidade se engalanava para esse momento. Os dois lados da rua ficavam repletos
de torcedores. Uns torciam pelos Cristãos outros pelos Mouros. No fim da disputa
era declarado campeão o grupo de cavaleiros que contabilizasse mais sucesso na
captura da argola.
Os
dois grupos, novamente desfilavam garbosamente pelas ruas da cidade, conduzindo
suas respectivas bandeiras, depois iam agradecer ao Divino Espírito Santo, pela
vitória dos Cristãos sobre os Mouros, ou vice-versa.
Tudo isso aconteceu em Pombal dos anos
quarenta ao início dos anos cinquenta. Acabou-se. Mais nada existe, nem mesmo
na lembrança do povo.
Dos folguedos herdados do nosso
passado colonial apenas dois resistem à ação do tempo: o reisado e os congos.
Não sei dizer se essas duas manifestações
culturais são de inspiração colonial portuguesa, ou uma versão modificada do
povo Afro-Brasileiro. Por todo Brasil, no dia de Reis, grupos de Reisados e Congos
apresentam-se, da mesma forma que se apresentavam há séculos passados. Ainda
bem.
João
Pessoa, 28 de Março de 2014.
*Economista e
Escritor.
NO TEMPO DAS CAVALHADAS
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/27/2014 04:58:00 PM
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