A DITADURA MILITAR E OS ESTUDANTES DE POMBAL NA COPA DE 1970
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Jerdivan
Nóbrega de Araújo*
Em
Pombal, o resultado do vestibular era esperado com a mesma ansiedade de uma
final de Copa do Mundo. Os pais recebiam os louros da luta travada contra tudo
e contra todos para “formar” um descendente, e festejavam a alegria de ter um
filho estudando na capital, que voltaria a cidade com um “canudo” nas mãos. E
eram muitos os filhos de Pombal que deixavam a velha urbe para buscar um
“canudo” na Capital.
Quando chegava o final do ano, a
cidade ganhava novos ares. Eram os jovens “acadêmicos” que
estudavam
em João Pessoa e Campina Grande, que retornavam para as férias de dezembro,
trazendo todo tipo de modismo, como: toca disco portátil, gravadores de fita
cassete, último Lp de Vandré, calça boca de sino, entre outras novidades, que
só víamos antes na TV Tupi, isto para os poucos privilegiados que contavam com
o luxo da televisão em suas salas de estar.
Traziam eles também recorte do
Pasquim e “tiras” do Henfil, entre outras publicações “subversivas” que
passavam de mão em mão, e eram lidas até o total desgaste das páginas
Os encontros dos jovens eram sempre
nas duas praças centrais, onde ouvíamos relatos dos fatos acorridos na Capital.
Para nós que ainda batalhávamos nas salas de aulas do Grupo Escolar João da
Mata, ouvir aquelas façanhas era como viajar para lugares distantes, sonhando
sonhos alheios, mas, tínhamos a certeza que em breve seríamos também
protagonistas daquelas histórias.
Organizavam-se campeonatos de
futebol na quadra do Diocesano, gincanas na rua central e bailes. Fossem eles
na AEUP ou no jovem Club, era sempre uma atração.
Tínhamos ainda os encontros nas
areias do Rio Piancó ou simplesmente as prosas sem fim nas sombras frescas das
algarobas, que iam até o noitecer, com o encontro final defronte ao Cine Lux,
onde assistiam-se as chanchadas patrocinadas pela Embrafilme.
Vez por outra um cabeludo trajando
calça boca de sino e camisa colorida, fechada com um nó acima do umbigo, ou
confeccionada com saco de açúcar, deixando a vista o inscrição “Made In
Brazil”, cruzava a rua com um monte de LPs debaixo dos baraços, entrava em uma
residência, onde outros já se encontravam, para ouvir Chico Buarque, Clube da
Esquina e, em longos debates “Voando sobre o mundo nas asas da Pan Air” ou
sonhar “com a volta. do irmão do Henfil e com tanta gente que partiu” discutir
as guerrilhas do Araguaia, o Projeto Rondon (trocando a liberdade dos índios
por espelhos e apitos), Guerra Fria, Cuba, Guevara e outros assuntos da moda,
enquanto que na Rádio Auto Piranhas de Cajazeiras o ufanismo de Don e Ravel e a
preparação da seleção para a Copa do Mundo era o que se ouvia.
Nas páginas das revistas “Manchete”
e “Cruzeiro” o assunto era: Angras I, a Rodovia Transamazônicas, Ponte Rio
Niterói, Projeto Itaipu, entre outros.
Os Jovens temiam a ditadura e
odiavam Delfim Neto com seu bolo indivisível, tanto quanto aquele adesivo
“Brasil ame-o ou Deixe-o”.
Certa vez um estudante trouxe João
Pessoa uns cinco Lps de Geraldo Vandré, e se juntaram para ouvi-los em uma
Vitrola portátil, ali no Bar Centenário. Não custou a notícia chegar aos
ouvidos do delegado que, truculento que era, desligou a radiola obrigando-os a
confessar a quem pertencia tais Lps do “cantor subversivo”. Em seguida ordenou
que todos esvaziassem o bolso. Segundo aquela autoridade, “quem ouvia tal tipo
de música também costumava conduzir em seus bolsos cigarros de maconha”.
Para decepção da autoridade policial, nada foi
encontrado, não que alguns mais afoitos não as trouxesse em suas bagagens, mas
porque era sabido que o lugar de consumi-la era, na “beira” do Rio Piancó ou no
Cruzeiro que fica defronte a caixa d água da Cagepa e que, a época, era um
local isolado.
*Escritor
e Pesquisador da história de Pombal
A DITADURA MILITAR E OS ESTUDANTES DE POMBAL NA COPA DE 1970
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/23/2014 10:36:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário