Vergonha na cara
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
“Mais difícil
que explicar a corrupção de políticos, é explicar porque militantes e
simpatizantes aceitam a corrupção" (Senador Cristovam Buarque)
No patropi, o modelo de sociedade pautada por
um Estado patrimonialista está em crise. Não apenas pela ação dos políticos
larápios e dos empresários cooptados por eles. O nosso modelo sócio-
político-eleitoral entrou em parafuso por falta de sustentação axiológica, pela
falência dos valores.
Pior: a crise vem de baixo, da grande massa
das famílias. Isso ficou evidente em pesquisa recente efetuada pela Organização
para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) -
http://www.oecd.org/
Essa lamentável realidade tem sua origem no
decadente “modelo” educacional que temos mantido há décadas, com a conivência
de professores e familiares das crianças e adolescentes, supostamente,
responsáveis pelo futuro da nação brasileira.
A crise vivida pelo ensino nos seus níveis
primário e secundário se estende também às universidades. Antigas ilhas de excelência,
como a Universidade de São Paulo (USP), têm assistido a cenas de vandalismo e
de perturbação da ordem, em intermináveis greves de caráter político, com
destruição do patrimônio, consumo de tóxicos e desrespeito à sociedade.
Tudo isso se estendeu pelo Brasil afora e
reforça a convicção de que o nosso país perdeu o rumo.
Mas as coisas não param por aí. É necessário,
também, reformular as nossas instituições, a fim de que o Estado passe a servir
à sociedade, e não continue a ser o balcão de negócios gerido por espertalhões
que privatizaram o governo em benefício próprio.
Denise D'Aurea-Tardeli, no livro “Crise de
valores ou valores em crise?”, Capítulo 3, pontua que se está vivendo uma
“crise de valores” nas relações pelas alterações estruturais em que vínculos
comunitários estão sendo substituídos para o mundo impessoal do mercado.
Estamos deixando de ser cidadãos para sermos
apenas consumidores.
Portanto, mais do que nunca, há a necessidade
que a escola, a família e a mídia atuem na formação ética e de personalidade
das crianças e adolescentes, incentivando-os a manterem projetos solidários que
tenham como principal perspectiva o trato com respeito, responsável e solidário
nas suas relações interpessoais.
Ingenuamente, talvez, ainda acho que são
necessárias reformas estruturais - no pensamento hegemônico - que alterem a
cultura do ter para uma cultura do ser, a fim de que seja elevado o nível moral
da sociedade.
É urgente o aprofundamento de um amplo debate
nacional sobre a importância da escola e dos professores na educação lato
sensu, no desenvolvimento e difusão de valores éticos.
Educar não é (repito, não é) apenas um
processo de instrução, para ensinar/aprender gramática, aritmética, biologia,
física, química, geografia e história; é sobretudo a construção de uma
sociedade cidadã.
A partir das relações professor-aluno, livros
didáticos, avaliações, atividades pedagógicas, cultura, esportes e inovações
tecnológicas, a escola deve possuir compromisso com processos que estimulem a
autonomia, respeito a si mesmo, trabalho em equipe, solidariedade aos demais e
à Natureza; trabalhar pela Paz, Justiça, Honestidade e igualdade pluricultural;
formar cidadãos, enfim.
Do ponto de vista político, urge colocar
sobre o tapete soluções na reformulação das nossas relações políticas, que
enveredaram por esse caminho de privatização (aparelhamento) do Estado por
grupos organizados (em partidos e quadrilhas), como se o único objetivo da
política fosse roubar e beneficiar amigos e apaniguados.
Em segundo lugar, a reforma política deve
contemplar a punição exemplar daqueles que puseram as instituições do Estado a
serviço de políticas populistas demagógicas (ou inescrupulosas) que terminaram
esvaziando os cofres públicos, em detrimento da realização de investimentos
indispensáveis ao desenvolvimento. O prejuízo que a atual elite no poder está
causando ao Brasil é incalculável.
O PT e a presidente estão identificados com o
atual cenário de deterioração econômica e escândalos de corrupção. Some-se a
isso um nível de popularidade em baixa e; pra piorar, Dilma não controla a
Câmara nem o Senado e, com o orçamento impositivo, perdeu também uma importante
moeda de troca.
No dizer do professor Marcus Melo, é uma
“tempestade perfeita”.
Termino lembrando a lei proposta pelo
historiador Capistrano de Abreu: “Artigo 1º - Todo brasileiro deve ter vergonha
na cara. Parágrafo único: Revogam-se as disposições em contrário”.
Pergunto eu: todos já se corromperam, ou
ainda tem alguém com “vergonha na cara”?
*Rinaldo Barros –
rb@opiniaopolitica.com
Vergonha na cara
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/25/2015 06:05:00 AM
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