A recorrência da inabilidade governamental
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Tenho alertado, o
espírito administrativo do atual governo federal é difuso na iniciativa, muitas
vezes algumas medidas de grande efeito social, mas, na maioria delas, sem uma
sequencia lógica e sem nenhuma acabativa, tornando o conjunto da obra uma panaceia,
com alguma eficiência, entretanto, sem a eficácia necessária à solução dos
problemas almejados.
O grupo RBS de comunicação, operador na região Sul do Brasil, trouxe no
último final de semana reportagem, publicada nos seus jornais de circulação
regional, tive a oportunidade de ler no Jornal de Santa Catarina, sobre a
nefasta situação que se encontra o programa “minha casa minha vida”, pelo menos
na região Sul, cujo título da reportagem, “minha casa minha fraude”, já era de
efeito denunciante, seu estado incongruente.
Entre várias irregularidades e
descaso, o projeto é composto de ações
equivocadas, com participação de pessoas ligadas ao projeto, levando a
iniciativa elogiável à uma situação esdrúxula, com sorteios viciados, para os
candidatos ao seu teto, venda de imóveis em pleno curso do financiamento, pelos
escolhidos em sorteio, a terceiros, o que é proibido pelas regras, pois,
trata-se de financiamento subsidiado, cujas prestações mensais é de R$50 por um
prazo de 10 anos, o que corresponde a um custo de R$6 mil, com valor venal do
imóvel de R$45 mil, isso para unidades construídas na faixa 1 do projeto,
destinado a quem tem uma renda de zero até três salários mínimos. Ademais,
muitas invasões por elementos que não foram sorteados, absoluta falta de
estrutura de segurança, acabamento dos imóveis deixando muito a desejar, com
infiltrações e rachaduras, verdadeiro abandono do setor social por parte da
administração pública.
Esses fatos estão
aliados ao conceito cultural do empresariado, quando ganha a licitação para
construção dos conjuntos populares, fraudam no uso dos materiais, cota-se um
produto de uma certa qualidade e aplica na obra outro produto inferior para
economizar recursos, refestelando-se às
custas do dinheiro público, próprio dos sem caráter.
Esse é um assunto entre tantos outros relacionados ao famoso PAC, vai
avançando apenas nos lançamentos, com nomenclaturas diferentes: PAC 1, PAC
2...E assim sucessivamente, sem a preocupação de eliminar as pendências que vão
ficando no transcorrer das obras, e, apenas para mostrar serviços é lançado
novo PAC; e assim os problemas vão se acumulando, como vem ocorrendo em todos os passos dados pelo
governo. Não me lembro de nenhum projeto da atual administração, sequência do
anterior, que não tenha resquícios de
malversação, malogro, descaso, indiferença ou em condições de arrevesar.
O negligenciamento do governo central não é tão sentido nas suas obras
faraônicas, sem completude, como no seu relacionamento com os demais poderes da
República, e comunicação com a população. Castigado pela falta de tato, estamos
passando por um momento de turbulência na federação brasileira, por conta e
risco do comportamento solitário e unilateralismo, de ignorância total ao que
está no seu entorno, menoscabo ao Parlamento, até então seu aliado
incondicional. Houve uma ruptura entre executivo e legislativo, nada oficial
nem oficioso, há uma queda de braço com os poderes querendo mostrar forças, com
prejuízo para a nação.
Tudo isso surgiu após o 15 de março e as manifestações das ruas, com o
povo mostrando seu verdadeiro valor cívico, elevando a voz e mostrando sua
insatisfação nos cartazes, faixas e frases de efeitos, por uma população isenta
de ação política ou entidades de classes, vista no movimento do dia 13 último,
com participação, apoio e patrocínio de partidos, entidades e sindicatos que
fazem parte da base de apoio ao governo.
O resultado foi uma bomba de efeito devastador, culminando com uma onda
de descontentamento generalizado, no palácio do planalto, assustando
partidários, levando a base aliada a ficar dividida, procurando outras
possibilidades de salvamento, pois, percebeu-se que o barco estava afundando,
para desespero de muitos e a certeza de outros que nunca se enganaram, não era
tão seguro como se imaginava. Uma correria imensa nas duas casas do Congresso
Nacional, o senado federal e a câmara dos deputados se acertaram, através dos
seus presidentes, Renan Calheiros (PMDB/AL) e Eduardo Cunha (PMDB/RJ), já
começam a colocar em votação projetos incompatíveis com os desejos do
Executivo, e a nova fórmula de reajustes para a dívida dos Estados e
municípios, foi aprovada na Câmara, o Projeto de Lei Complementar 37/15, do deputado Leonardo Picciani
(PMDB/RJ), a matéria deve seguir para o senado para análise; enquanto isso, o Senado aprovava, como
contrapartida, terça-feira (24), em segundo turno. o fim das coligações
partidárias para as eleições proporcionais, deputados e vereadores, conforme
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 40/2011.
Agora a situação da presidente Dilma Rousseff fica delicada para
assegurar e implantar o arrocho monetário, não há clima para sustentação
político do seu projeto, se não houver um diálogo, com negociação pontual entre
o Executivo e o Legislativo, a proposta do governo, apresentada pelo ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, esse, uma ilha de boas intenções cercada de lama por
todos os lados, deve patinar até terça feira (31), quando será definido o novo
cálculo de reajuste para os municípios e os Estados, até lá o assunto ficará
sob malhete.
Em síntese, esse é o país administrado por uma classe que se dizia lutar
pela honestidade e a grandeza dos homens que trabalham. Em nome desses,
desgraçadamente, se transformaram nos argentários do espolia pátria, levaram o
país a mergulhar numa crise moral,
institucional e financeira, assustando o mundo pelo descalabro da corrupção, a
transformar nossa pátria num vexatório balaio de gatos e gatunos, um povo
endividado, movido pelos bons ventos que o governo prometia, amenos e perenais;
de uma classe política sem crédito junto a comunidade, local e internacional,
hoje, para ocupar qualquer cargo letivo e em qualquer nível, tamanha a decepção
que foi instalada no país. Isso é um fato a ser resolvido com seriedade e sem
soberba.
*Escritor e Poeta
A recorrência da inabilidade governamental
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/26/2015 08:34:00 AM
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