Teu sol é minha luz
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Quem é filho do sertão sabe das dores, mas
também da alegria e satisfação de pisar esse chão tão sagrado. O calor que tudo
evapora - diante do fogo intenso dos raios solares, conduz o sofrimento da fome
e
da sede, mas, também alimenta a fé por dias
melhores.
O sertão é templo do astro rei, que amanhece
esquentando aos poucos o dia, e, com sua luz intensa e radiante, espalha
clareza e transfigura o verde em cinza, ressecando o pasto transformando-o em
chão rachado. É terra de mandacaru, juremas, sabiás, concriz e ribaçãs. De
açudes e barragens engolidas pelo longo tempo seco, cujo vento quente atravessa
cortante as almas de viventes seres, sertanejos altivos. Sertão que, da dureza
do dia, ensina a bravura da luta do contínuo viver por uma terra árida e muitas
vezes sem sorte.
Sertão, por outro lado, é ser feliz numa casa
simples, lá no pé da serra, ouvindo o som do silêncio, quebrado pelo canto dos
pássaros e do vento solidão. É quietude que nos leva a conversar com Deus. É
reticência do tempo diante de um céu taciturno. Céu que às vezes acorda
temperamental, sacudindo o mundo com seus trovões e anunciando a chuva
esperança. Sertão é lenha queimando no fogão, esquentando rubacão, piabas e
sonhos. É um tamborete encostado na parede, um olhar para a amplidão, uma roda
de caboclos a ouvir causos que fazem sorrir a terra e o firmamento. Sertão são
veredas empoeiradas, caminhos de vaqueiros numa pega de boi interminável. É
aboio dolente, de quem morre sem deixar tostão.
O sertão é como diz o poeta, um pai que
castiga seu filho, sentindo, na verdade, vontade de o embalar. Por isso, é a
saudade imprudente do poeta Marcolino, da conversa sem protocolo, de fácil
vocabulário, que dispensa calendário, com anotações imaginárias, contando-se
mês de trinta e um na palma da mão. Sertão é lua imensa, respingando luz nas
casas de arrasto. É noite de céu repleto de estrelas, e no balançar infinito de
uma rede, lá da varanda, o olhar varrendo o céu buscar uma que nos empreste seu
brilho.
Sertão, o teu sol é minha luz. Minha vida são
tuas estradas. Tuas águas banham e reacendem a peregrinação da existência.
Pedaço de mundo cativante, que faz de homens e mulheres seres destemidos e
hospitaleiros. Na cadência do destino, sertão, jamais de abandonarei. Teus
filhos, ausentes, em pensamentos nunca te esquecem. Bem longe, em lágrimas, o
tormento das lembranças de sonhos de poder, um dia, revê-lo com um verdejante
sorriso.
Se é certeza que saudade maltrata, fica o
alento de que você nos espera sempre de braços abertos. Para você nunca haverá adeus,
pois teu calor nos atrai a um reencontro contínuo, de festa, alegria, fé e paz.
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa.
Teu sol é minha luz
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/28/2015 07:00:00 AM
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