O país que temos não é o país que queremos
Genival Torres Dantas |
Genival
Torres Dantas*
Jean Bodin
(1530/1596), jurista francês, tido à sua época como o Procurador do Diabo, em
decorrência da sua luta em perseguição a hereges e feiticeiras, escreveu uma
obra, entre tantas, “Os Seis Livros da República”, nele, consta um pensamento
que lembra muito o Brasil de hoje, ele pergunta e deixa claro: “Qual a
diferença entre tiranos e bons governantes? Um busca manter os governados em
paz e união; outro os divide para arruiná-los e engordar os confiscos”.
O
que o sistema de governo atual, brasileiro, tem feito nos últimos 12 anos é
exatamente fomentar a ira entre as classes sociais, procurando elevar a tensão
entre os contrários, tanto na parte social, econômica, cultural e
até mesmo no
que concerne a etnologia; se enveredou por caminhos perigosos, para um país que
sempre viveu harmonicamente, e principalmente, por ser uma pátria que sempre se
orgulhou da sua miscigenação, sem a necessidade de cotas ou privilégios, com
tratamento igualitário e uniforme, fazendo-nos, portanto, iguais,
independentemente de berço, religião, etnia, preferencia sexual, ou padrão
social. Essa mudança de conceito trouxe muita celeuma, mormente entre os mais
jovens, sem uma ordenança de valores definidos, por isso, mais suscetíveis a
preconceitos infundados e condenáveis.
Enquanto
o país avançou nas suas conquistas sociais nos últimos 30 anos, legado dos
governos desse período, pós-ditadura militar, tivemos um processo inverso na
ética e comportamento no campo político, quando o processo de corrupção,
próprio do Capitalismo Democrático, se aprofundou de uma forma tão avassaladora
que chega ao ponto de por em risco aquilo que tanto lutamos para conquistar que
é a Democracia, plena e absoluta.
Enquanto
o povo clama por manutenção das liberdades, sem amarras ou amordaças, justiça social
e direito adquirido, sem intervencionismo; nessa longa caminhada, de tão
profícuos resultados, os governantes despóticos procuram a perpetuação no poder
por caminhos nefastos e sáfaros, atitudes daninhas e inescrupulosas.
As
reedições de operações, deflagrando várias quadrilhas, compostas de políticos,
funcionários públicos, empresários, e outros lenientes confesso, lapidando o
erário público, têm por parte da Justiça, Polícia federal e Ministério público,
provas que a provecta corrupção, arraigada no DNA da nação, nunca foi tão
atuante e devastadora como estamos vivenciando. Nunca antes na história do
Brasil se escreveu sobre tamanha malignidade praticada por tantos e por tanto
tempo, como estamos lendo e vendo agora. A situação se agrava e se deteriora a
cada dia, desde o governo Lula, com a implantação do populismo repudiante, os
escândalos passaram a ser uma rotina no nosso país, não sendo mais exceção, e
sim a regra, para espanto de uma nação perplexa e desiludida.
Arcano
tornou-se o fato da presidente da República, enquanto candidata, fez promessas
de realizações futuras e manutenção de direitos dos trabalhadores, cujo
cumprimento não passava de proposição eleitoreiro, diferentemente da preposição
que une dois elementos numa oração, levando o brasileiro a ter um sentimento,
do governo central, não mais de confiança abalada, mas, de desconfiança não só
na figura da presidente, reeleita, como na sua base aliada, cujo resultado,
culminou com os índices de confiança no governo, conforme última pesquisa
IBOPE, divulgada na data de hoje, de 64%, de rejeição, com um crédito de apenas
12% da população que ainda acredita no governo, é muito pouco para um começo de
governo, notadamente desgovernado, impotente e atabalhoado. É um fato
constrangedor para quem teve o apoio da maioria dos brasileiros que se
apresentaram às urnas, no pleito passado.
No
momento o governo tem sido sustentado apenas com o crédito do recém-ministro da
fazenda, Joaquim Levy, que goza de grande conceito junto à oposição brasileira
e respeitado pela base de apoio governamental pelo seu vasto currículo
positivo, por onde passou, trazendo na bagagem uma folha de trabalho, tanto no
serviço privado como no público, fazendo, dessa forma, que o governo tivesse
que busca-lo para tentar resolver o estado de insolvência que se encontra o
nosso querido Brasil; tendo, a situação governista, que engolir sapos e
degustar com paladar aguçado, vendo ser trocado o projeto econômico
anteriormente implantado, e idolatrado por esses, e sendo substituída pela
política salvadora, à mesma que fez do Plano Real uma marca incontestável no
governo FHC, cujo continuísmo foi colocado em prática pelo governo Lula, dando
certo até tentarem planos mirabolantes e desconexos, culminando com a
bancarrota em que nos encontramos agora no governo Dilma.
O
ministro da fazenda, Joaquim Levy, conjuntamente com o novo ministro da
educação Renato Janine Ribeiro, emérito
professor e filosofo, podem, juntos, representarem uma grande diferença e
oxigenar o presente que se avizinha, tornando o futuro do Brasil menos penoso
para os brasileiros, créditos junto ao povo eles têm, falta apenas poder de
ação, sem interferência, para executarem um projeto de reconstrução, tanto na
área econômica como na de educação, dois pontos devastados, dentre outros, pela
administração Dilma.
Para que se restabeleça a paz com harmonia na nossa nação, é
preciso que o governo também entre com sua cota de sacrifícios, não apenas
exigindo esse gesto do trabalhador brasileiro que tem pago as contas negativas
de todos os governos que erram em nome do Estado, levando a nação a soçobrar em
águas profundas e fétidas.
Há muito para ser feito, a começar com um novo pacto
federativo com mais recursos para municípios e Estados, tenho a suspicácia que
o governo central e centralizador sofre da gula pantagruélica, precisa se
conter com o que lhe é de direito, sem menoscabar os primos pobres da federação,
todos vivendo e convivendo realisticamente com os recursos federativos, com as
cotas que lhes cabe, simetricamente, comendo do mesmo pão e bebendo da mesma
água, que começa a rarear na nossa terra; redução imediata do seu aparato
administrativo, com corte de 50% dos seus ministérios, a maioria inoperantes,
ineficientes e ineficazes, portanto, sem a menor necessidade de existirem,
basta alocarem, esses desnecessários, servindo apenas como cabide de empregos,
em ministérios sobreviventes e úteis, se houver uma necessidade de força maior,
o que não acredito.
Escreveu
o poeta inglês, William
Shakespeare (1564/1616): “Um dia agente aprende e descobre que se
leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que
você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da
vida”. Para que o país tem a sua
verdadeira cara, de um país ainda emergente, com desenvolvimento sofrível e sua
economia deplorável, mas, em estágio de evolução, é preciso que o governo
central mentalize a oração de São Francisco de Assis, com bastante humildade,
reconheça seus erros, suas falhas profundas e contundentes, relegue o substrato
da corrupção, expurgue do seu núcleo os devassos insurgentes contra a nação, e
aceite a parceria daqueles que querem um país sério, com ar desenvolvimentista
e com cacoete de futuro esplêndido. Esse é o país que queremos e merecemos.
Isso é um fato de relevância e relevante.
*Escritor e Poeta
O país que temos não é o país que queremos
Reviewed by Clemildo Brunet
on
4/03/2015 05:13:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário