Se serve de consolo, resta o voto antifascista para vereador
João Costa |
João Costa*
A nossa
democracia, como a vivenciamos, é eleitoral. O voto é universal e secreto, mas
o exercício dele é obrigatório, ainda que de relativo valor ou importância. No estado
atual, visível de exceção, votar em candidatos a prefeito nestas eleições é avalizar
a farsa institucional. Eleger candidatos a vereador que combatam o fascismo que
se instaura, talvez nos sirva de consolo.
Impressiona
como a arregimentação eleitoral movida pelos partidos ainda possa fazer algum
sentido, mesmo como falsidade. E não estamos vivendo uma quadra política para
resolver problemas entre o que é verdadeiro e legítimo e o que é falso, mas
precisamos entender a natureza do mundo político ao redor, incrivelmente
surreal.
Basta
lembrar que durante a Ditadura Militar, as eleições municipais não foram
suprimidas, à exceção das capitais. Existia como efeito colateral de demanda
reprimida de cidadania e
Que uma
mídia familiar oligárquica, sonegadora de informação e vinculada a regimes de
exceção e deles advogada permanente faça isso no Brasil, não surpreende. A
surpresa agora são as instituições ditas de estado, democráticas e civis. O
silêncio diante das arbitrariedades em curso, pelo simples fato de não serem
perpetradas mediante a força da baioneta e dos coturnos, não redime ninguém.
Não se compara a França de Vichy, mas é um arremedo.
O manual da
democracia formula o conceito de que a consulta leva em conta a defesa e a
prática do bem comum. Mas se os comuns são eternos praticantes da Servidão
Voluntária, que Bem defender ou promover? Não se fala mais nem em perspectiva
de poder, mas da inevitável e iminente perda de direitos, inclusive os
conquistados.
O golpe
institucional é de longo curso, é antinacional pois com esse víeis justificado
foi no discurso do Usurpador na ONU, e à junta governativa conduz o desmonte da
soberania e um projeto de nação, solidamente apoiada pela classe média,
instituições, mídia empresarial e amplos segmentos do lumpenproletariat.
Para onde
foram os milhões de brasileiros incompreendidos que ocuparam ruas e avenidas em
junho de 2013? Foi constrangedor
assistir organizações fascistas; a direita empedernida, instrumentalizada com
os meios de comunicação capitalizando politicamente reivindicações justas, que
sequer foram atendidas, e as que foram, apenas em parte.
A juventude
que pedia passe livre contentou-se com a redução de vinte centavos na tarifa,
as populações desassistidas de serviços de saúde ganharam o Programa Mais
Médico, que foi implantado no interior do país, mas descasado da melhoria dos
serviços públicos nos hospitais, especialmente nas capitais. Basta conferir o
Guia Eleitoral, onde todos os partidos prometem as mesmas coisas, e sobre a
tarifa zera candidato algum se aventurou mencionar nestas eleições.
As forças
políticas envolvidas na disputa eleitoral, mesmo as de viés marxistas,
demonstraram ao longo dos últimos 15 anos que não vão além de pequenas
conquistas nos marcos frágeis da democracia tutelada. Basta ver a maneira como
o PT, o PC do B foram apeados do governo, uma demonstração cabal que jamais
exerceram o poder de fato.
Sim, mas
alguém pode argumentar que esqueci a corrupção. Corrupção é crime; crimes a
polícia investiga, o Ministério Público denuncia e a Justiça condena ou absolve
– ainda que seletivamente. Com agravante perturbador do caráter messiânico,
fundamentalista cristão – o suprassumo do pensamento obscurantista, cujo terror
está no princípio e na base.
O voto nulo
não é tão desprezível assim. Ir à praia e aceitar pagar a multa eleitoral
talvez não signifique ausência de cidadania ou omissão política. Talvez o voto
naquele candidato a vereador que sabidamente combate o fundamentalismo
religioso, a misoginia e o crescimento do fascismo nas câmaras de vereadores,
justifique o exercício do voto este ano. Dos males o menor.
*João Costa é radialista, jornalista e diretor de teatro,
além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de
Política do Paraíba.com.br
Se serve de consolo, resta o voto antifascista para vereador
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/29/2016 11:26:00 AM
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