DE ESCRAVOS E DE SENHORES DE ENGENHO
Nonato Nunes |
Nonato
Nunes*
Nos livros escolares existia (ou
existe?) uma pintura do francês Jean-Baptiste Debret (1768 - 1848) a qual, a
meu ver, é a que melhor representa a sociedade brasileira desde que Pedro
Álvares Cabral pôs os pés por aqui. É aquela em que um senhor de engenho é
conduzido numa rede por dois escravos. Tal imagem é emblemática, sobretudo do
ponto de vista sociológico, por sintetizar uma relação social toda ela baseada
no compadrio entre os que mandam, e no servilismo dos que obedecem. Nas duas
pontas da vara onde está armada a rede estão aqueles que representam o que
realmente somos - escravos. No meio, deitado e obedecendo à lei do menor
esforço, está o representante-mor da preguiça e do atraso – o senhor de
engenho. Presentes até hoje na sociedade brasileira, esses homens sempre viram
no trabalho e
Mas há uma outra imagem, igualmente
emblemática, a qual se choca, frontalmente, com a descrita acima. É aquela do
filme O Patriota (Mel Gibson) na qual um coronel do exército inglês aparece –
ele mesmo – construindo uma cadeirinha para o seu descanso. Essa é uma síntese
do real espírito americano – empreendedor, trabalhador, inconformista. Outros
exemplos americanos são Steve Jobs (Apple) e Bill Gates (Microsoft). Ambos
construíram os seus impérios empresariais a partir de experimentos em simples
garagens. Aliás, as casas americanas costumam ter, sempre, garagens dotadas de
ferramentas as mais diversas, com as quais os seus proprietários exercem
atividades laborais sempre que estão com algum tempo disponível.
Por aqui, garagens servem, apenas, para
que os preguiçosos, que roubam o Estado brasileiro, possam guardar os seus
carrões, produtos de seus saques, e exibi-los para uma horda de miseráveis que
vivem no entorno de suas mansões. Essa é a reedição de uma típica imagem
medieval, onde, no entorno dos castelos e dos mosteiros, podiam ser vistos os
desgraçados que sobreviviam de restos de alimentos os quais até os cães e
porcos rejeitavam.
É isso o que temos hoje. E não acredito
em mudanças, pois é da nossa cultura.
Um abraço.
*Nonato Nunes -
Jornalista, radialista, documentarista, escritor e blogueiro
DE ESCRAVOS E DE SENHORES DE ENGENHO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/26/2016 08:06:00 AM
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