MORTE E VIDA
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
A mensagem mais emblemática de conteúdo
bíblico está na construção doutrinária de Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida” (João 14:6).
Nesta caminhada terrena cada um faz o
percurso sozinho, não precisa de acompanhante, sempre praticando atos de
retidão, a espera do julgamento final. A verdade está naquilo que, realmente,
você vê. Não naquilo que você inventou ou naquela dedução maldosa ou naquele
prejulgamento de maldade. A vida está na busca do caminho, somando-se à
verdade, que desperta para um elevado nível de consciência. É a vida real,
é a vida plena, é a vida eterna.
Outro ensinamento bíblico que se
combinam: “A morte não necessariamente é o fim da existência. Por meio da
ressurreição, Deus vai trazer os mortos de volta a vida”. (João 5 ;28, 29: Atos
24:15).
O nascimento e a morte são os polos da
existência corpórea. A área de delimitação existencial. O primeiro sinal do
nascimento humano é o choro. E, coincidentemente, na nossa cultura, na hora do
adeus, o choro se faz presente no seio familiar.
No campo filosófico encontramos esta
assertiva no livro “O Profeta”, de autoria de Khalil Gibran, um enunciado que
se ajusta às palavras bíblicas nos seguintes termos sobre a morte:
“E disse consigo mesmo”:
“Será, acaso, o dia da separação o dia
do encontro?”
“E será dito que meu anoitecer era, na
verdade, minha aurora?”
No seguimento da leitura deparamo-nos
com uma resposta que o autor responde a Altamira sobre a morte:
“Quereis conhecer o segredo da morte”.
“Mas como podereis descobri-lo se não o
procurardes no coração da vida?”
“E somente quando beberdes do rio do
silêncio que podereis realmente cantar”.
Enquanto isso, certa vez o filósofo
Sênica assim sentenciou: “E por mais que te espantes, aprender a viver não é
mais que a aprender a morrer”.
Outra mensagem de concordância vem das
palavras de Lucrécio, que não eram de brincadeira, mas pura verdade, deixou-nos
a sua lição no tocante à morte: “Onde a morte está, não estou. Onde estou, a
morte não está”.
Pela leitura desses ensinamentos
concebemos as existências de dois mundos: o mundo existencial e o mundo da
vida. Este mundo existencial, enquanto pisamos no solo do planeta Terra, é o
mundo da ilusão, do passageiro, da satisfação, da opulência. Nessa guerra
temporária, nós convivemos com o egoísmo, a ganância, a inveja, o dinheiro, a
prepotência, o orgulho, a arrogância, a maldade, o desaforo, as brigas, os
fuxicos, etc. E por outro lado, o mundo da vida, que é o mundo real, que não é
fácil para alcançá-lo, somente depois de passar por um período de provação
poderá ser merecedor na poltrona da mansidão. Neste mundo real nós conhecemos a
justiça, o bem, o amor, a bonança, a felicidade.
Com isto significa dizer que o mundo
existencial que nós vemos não é o real, mas o mundo invisível é verdadeiramente
o real.
Na verdade, nós, chamados de humanos,
damos mais importância ao mundo existencial do que o mundo da vida.
Sob o aspecto geral, o medo da morte é o
resultado de um tabu. Essa ideia fora colocada dentro de nossa cabeça ao raiar
de nossa existência, no entanto, nem toda cultura aceita assim como podemos
exemplificar na cultura mexicana.
A cultura mexicana, o chamado Dia dos
Mortos no México é uma experiência especialmente interessante, contrapondo-se a
todos os nossos paradigmas: afinal, no México a morte é divertida, engraçada,
festiva, onde por trás de cada caveira brincalhona tem um significado. E quando
nós procuramos entender a visão deles, passamos a ver a relação com a Morte (e
a festa) de outra forma.
Então, para quem sempre teve sonho,
curiosidade, vontade de conhecer como funciona o Dia de Mortos (ou Día de
Muertos) aqui, seguem algumas informações básicas e curiosidades de como a
coisa acontece.
Muito ao contrário do que nós,
brasileiros, estamos acostumados com Finados, no México a festa do Día de
Muertos é extremamente festiva, uma das maiores comemorações do país, que
começa no dia 31 de Outubro e termina, em tese, na noite do dia 2 de Novembro,
embora pode se esticar até meados do dia 3 e 4.
Por que? Porque para os mexicanos, a
morte é uma parte da vida, e não um momento de tristeza. Acredita-se que, na
morte, as almas vão para um lugar melhor – e por isso, não há motivo para
chorar. Portanto, no Dia dos Mortos, eles acreditam que as almas têm
“permissão” para voltar ao mundo dos vivos e reencontrar seus entes queridos.
Então, é um motivo de festa para quem está do lado de cá, passar um dia e uma
noite celebrando esse reencontro e mostrar uma forma de dedicar carinho aos que
passaram para o outro lado da vida.
Todos os túmulos são enfeitados com
comida, adornos, velas, fotos – tudo o que o morto gostava nesta existência,
dedicado de forma respeitosa e, muitas vezes, bem humorada. Com beleza, amor e
esperança.
A consciência da morte nos ensina a
desfrutar a vida com mais intensidade e, ao mesmo tempo, de maneira menos
dramática, se encararmos com naturalidade o fato de que somos mortais,
valorizamos muito mais cada momento da vida.
Não queremos que a nossa tradição e
sentimento sigam o mesmo padrão mexicano, porém poderíamos ter uma existência
terrena mais humana e com os pensamentos voltados mais para a esfera
transcendental e com aquele sentimento de que todos nós somos iguais em
essência.
Viver bem e deixar o outro irmão viver
bem e em paz. Não precisando haver tanto choro para os mortos.
João
Pessoa PB, 02 de novembro de 2016.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB
scoelho@globo.com
MORTE E VIDA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/02/2016 09:54:00 AM
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