Justiça entre afogados e o parto é fórceps
João Costa |
João
Costa*
Justiça salomônica é como abraço de
afogados e traduz bem a crise brasileira, em que o próprio vai para o
holocausto, enquanto as elites chafurdam na lama iluminados por fogueiras de
vaidades e ensandecidos. Um elefante de Alagoas adentrou o Supremo Tribunal
Federal – e não tem como consertar cristais. A Suprema Corte, que é a mãe do
golpe institucional e o parto é fórceps – o povo é um bebê deformado, que
morram os pais!
É preciso reprisar que o estado já é de
exceção, e a última coisa que precisávamos era a desmoralização por completa da
Suprema Corte. Completa, pois o povo ainda põe fé e
Justo num momento em que deputados e senadores se associam no crime de lesa-pátria com o desmanche da indústria e da economia; apressam votações que suprimem direitos e eles mesmos – salvo as exceções – dignos de cadeia.
O caso Renan – Começa lá trás, há nove
anos, com uma pendenga com a amante – olha elas aí, gente! – para pagamento de
pensão alimentícia, em que o senador recorreu a dinheiro público para sustentar
a alcova e o pimpolho. Já vi esse filme antes. Para sorte ou desgraça da Nação,
coube a ele enfrentar e desmoralizar a Corte – ele, também um dos senhores do
golpe de estado, mas presentemente demonizado, tratado como um bandido.
Nossa moral é seletiva e passível de
manipulação.
E esta senhora que preside o Supremo
declarou: “ou a democracia ou a guerra –
é preciso agir para que a sociedade não desacredite nos poderes. Democracia pra
quem e guerra contra quem? Cara-pálida?
Tem o velho ditado: não estique a corda,
quando é curta, não suba na corda, pois ela é bamba; não leve a corda para
perto do pescoço. Esta é a situação do país.
Num mundo menos perfeito, Renan não
seria presidente do Senado, muito menos senador. Num mundo assim, também não
teríamos um tribunal supremo como este. Vejam que neste abraço de afogados
entre o Judiciário e o Legislativo, o Executivo é ignorado pela população,
embora ilegítimo.
Esta decisão que manteve Renan na presidência
do Senado resultou de um acordo, mas se originou em razão de açodamento de um
dos ministros que resolveu destituí-lo da presidência. Talvez apostando
exatamente que não teria força tal e assim abrir uma saída para o Minotauro do
labirinto em que a Nação se encontra, talvez por vaidade.
Soube-se que a “dica” para que a mesa do
Senado ignorasse a ordem judicial e sujeitasse o oficial de justiça a quatro
horas de “chá de cadeira” foi de um dos ministros do STF. Quem?
De um lado, o senador desrespeitou a
Justiça, seguindo orientação de um ministro do próprio STF, que por tabela
favorecia uma das partes e, assim, também cometendo crime de responsabilidade.
Aí, o mesmo STF que determinou que o ex-presidente Lula não poderia assumir a
chefia da Casa Civil de Dilma por responder a processo, permite agora que um
réu declarado permaneça no Senado.
Mas tirando-lhe o direito de sucessão. Justiça
salomônica, ou na base do “pau que dá em Chico não bate em Francisco”. Meio a
“Escolha de Sofia”, ou entreguem-se os anéis, mas mantenham-se os dedos.
Eles deram o golpe, eles aprofundam a
crise. Não é preciso ter pena do povo, nem protegê-lo em momentos assim. O povo
é cúmplice.
*João Costa é
radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Justiça entre afogados e o parto é fórceps
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/09/2016 11:34:00 AM
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