POMBAL DOS ANOS CINCOENTA
Francisco Vieira |
Francisco
Vieira*
Quem me dera voltar a minha infância a
partir do nascimento, numa casa simples da Horácio Bandeira que eu cresci
chamando Rua Preta ou do Açougue, por onde passavam manadas de bois tangidos para
o abate. Exitosa, a boiada parecia saber ser aquela a última viagem.
Ali vim ao mundo, em 08/07/1950, dia consagrado
aos santos Procópio, Adriano e Eugênio, também dia da ciência, alegria e do
padeiro. Enfim, o primeiro filho de Seu Antonio Vieira e D. Galvinha, que seria
o quarto se gestações frustradas não tivessem adiado o sonho do casal. A demora
só aumentou a ansiedade dos pais para o milagre da vida. Literalmente ainda ouço
a voz de Maloura, a parteira, misturada ao meu choro, anunciar ser o rebento um
menino, logo entregue a Liosa para o sublime papel de Mãe de Leite.
A época, marcada por conflitos e
No Brasil, numa iniciativa do paraibano
Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados - maior império jornalístico, a TV Tupi se instala em S. Paulo, como a
primeira emissora da América Latina; a Bossa Nova surge protagonizada por Tom
Jobim e Vinícius de Morais, seus exponentes maiores; o Presidente Gaspar Dutra inaugura
o Maracanã - maior estádio do mundo - e
o país conquista em 1958 a Iª Copa Mundial de Futebol, depois da fatídica
derrota em 1950, elegendo no decorrer da década Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek,
os Presidentes mais populares até então.
Entretanto, o período foi enodoado de
tristeza e dor com o suposto suicídio de Getúlio Vargas, a morte de Carmen
Miranda e a perda do título de Miss Universo pela baiana Marta Rocha por ter
duas polegadas a mais nos quadris.
Ressuscitando a cidadezinha dos anos cincoenta,
relembro o maior município do estado compreendendo os distritos de Paulista,
Condado, Malta e Lagoa, hoje emancipados. Com uma população em torno de 50 mil
habitantes já se apresentava graciosa. Dando ares de sua grandeza se
manifestava tendenciosa ao crescimento.
No descompromisso de um menino travesso,
vi Pombal crescer sem me dar conta de sua importância o que só hoje consigo entender.
Sem organização cronológica vem a tona minhas lembranças a partir das primeiras
ruas calçadas por Seu Chico Pereira e a construção do Grande Hotel, arrojado
empreendimento de Dr. Ageu de Castro. Ainda me sinto encantado com o mundo
lúdico do Cine Lux, ponto de encontro e referência onde imperava a disciplina e
ostentava o conceito de melhor som e projeção do estado. Também na memória a
fundação do Ginásio Diocesano, Hospital Sinhá Carneiro e Igreja de S. Pedro. Com
reserva lembro os Educandários Santa Rita e 7 de Setembro, dirigidos por D.
Marinheira e Prof. Guimarães, que utilizando uma metodologia repressora, onde a
base de palmatória, prevalecia o lema “escreveu não leu o pau comeu”. Recordo ainda
o São Cristovão, time de futebol que atuou por quarenta anos com destaque na
região.
Relembro a chegada da energia elétrica e
a perenização dos rios Piranhas e Piancó com a construção do Açude de Coremas. Na
invernada observava curioso o rio invadir as ruas do Açougue e de Baixo, provocando
a arribada dos seus moradores, enquanto as canoas de Olinto e Joaquim de Orlando
faziam a travessia dos feirantes. Com
espírito de civismo me vejo na escola cantando o Hino de Pombal, letra de
Newton Seixas e música de Francisco Ribeiro, recentemente criado.
Lembro dos primeiros jogos de futebol,
transmitidos pela Globo ou Tupi na voz de Edson Leite, Jorge Curi, Waldir
Amaral e comentários de Mário Vianna e Rui Porto. De tão bem narrados parecia
está vendo tudo.
São casos assim que fizeram minha
infância, início de uma história impossível de esquecer. Lembranças evidentes
que superaram o tempo e fazem de nossa terra a melhor entre todas.
Da época, ainda soa nos ouvidos, o
estampido dos fogos de Seu Inácio anunciando a chegada de Rui e Janduhy
Carneiro. Também ecoa o apito da Brasil Oiticia e o ronco de seu avião que tanto
despertou minha atenção fazendo ás vezes tropeçar. Contudo não gostaria de
lembrar que o bimotor ceifou a vida de Afonso Mouta, dono do Cine Lux.
Quisera ver Mané Doido, Barrão Setenta –
o mais violento – e outros, livrando-me de suas investidas. Quão bom seria, com
Pretinho, meu irmão, ganhar outra vez de meu pai um relógio Lanco sem ter que
lavar por trinta minutos até perder a cor original.
Minha infância tem cheiro de chuva de
inverno e medo de trovão; gosto de bolo de batata, cavalinho de goma, canjica e
pamonha; sabor de Q.Suco, pirulito e quebra-queixo; lembra bola de meia, de
gude e estilingue; brincadeiras e as briguinhas entre os amigos. A
desobediência tinha como preço puxões orelhas, palmadas e cinturão e a moda lembra
tênis conga e suspensório. A mim recorda a casa de meu avô onde lendo O Soldado
Jogador, A Donzela Teodora, Juvenal e o Dragão, O sofrimento de Alzira aprendi
a admirar Leandro Gomes de Barros e a literatura de cordel.
É premente a necessidade de reviver o
passado. Se impossível na prática o faço na lembrança a minha infância e todos
os momentos felizes que vivi em POMBAL DOS ANOS CINCOENTA.
*Professor e
Escritor pombalense
Pombal,
8 de dezembro de 2016.
POMBAL DOS ANOS CINCOENTA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/09/2016 08:27:00 AM
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