70 anos da Asa Branca
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Há muito tempo, nos bancos de areia do
Rio Pajeú a manhã da estiagem acordou mais cedo. Descortinou um céu azul e um
sol intenso. Secou riachos, rios e açudes esturricando o chão. O gado de sede
deitou a morte esquelética. Silente, a passarada bateu em retirada, anunciando
a
Numa dessas estiagens, seu Januário em
1905 deixou Floresta-PE, mas levou consigo, para as margens do Riacho da
Brígida, a cultura da Asa Branca. Lá no Araripe, com seu fole de 8 baixos,
cantarolava dolentemente a saga dessa ave para seu menino Luiz Gonzaga. Um dia
o menino vestiu-se de Asa Branca. Retirante saiu numa légua tirana, deixando
sua terra para correr o mundo. Passou por guerras, mas nenhum tiro disparou. No
seu vôo avistou um Rio de Janeiro. Sua sanfona já começava a entoar saudade do
seu torrão. Lá encontrou um poeta de alma franca e com olhar de esperança,
Humberto Teixeira, filho do Iguatu-CE. Luiz e Humberto, em março de 1947
resolveram cantar a história da Asa Branca para o mundo.
Foi assim, que essa “cantiga de eito, de
apanha de algodão” bateu asas e lentamente tornou-se símbolo de um povo. Setenta
anos de toada, de história oficial de letra e de música, de uma bandeira da
paz. Sem Luiz e Humberto, hoje em vôo solitário, parafraseando Dálton Vogeler
ela entoa: “quando o verde dos teus óio se espaiá na prantação. Uma lágrima
dorida vai moiá todo o sertão. No cantar do Assum Preto, vai se ouvi máguas e
dô: Ribaçã morrê de sede com saudade do doutô. Foi se embora a asa branca; lá
pro céu ela levô os poetas de almas francas, que todo mundo cantô. Meu padrinho
Padim Ciço, faça deles seus assessores. Morrem os homens ficam os nomes.”
*Escritor pombalense e Juiz de Direito
onaldorqueiroga@gmail.com
70 anos da Asa Branca
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/16/2017 10:55:00 AM
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