MARGARIDA, A LUTA CONTINUA
Severino Coelho Viana |
Por:
SEVERINO COELHO VIANA*
O ideal do ser humano não se acaba com a
morte, por isso o fruto tem a sua semente, que depois da carne humana saciada
pela fome, a semente cai ao chão e germina fruto novo.
O mais difícil do viver é compreender as
incompreensões.
A vida terrena nos reserva um baú de
surpresas: de alegria ou de tristeza, de infortúnio ou de esperança, de lástima
ou de contentamento, de desistência ou de desafio, de busca ou de desencontro,
de renúncia ou de resistência, de lágrima ou de sorriso, de vitória ou de
derrota.
Somos uma peça importante na máquina
impulsionadora do mundo, não podemos parar diante da engrenagem do tempo.
Entre a vida e o viver há a fase
intermediária da existência humana, que significa o surgimento da estrela
matinal, chegando-se ao ocaso do sol vespertino. Daí, então, caminhamos com os
nossos passos lentos, cuja visão ruma na direção do horizonte, quando
entendemos que esta vida é um caminho de sombras e luzes. Aprendemos com os
desafios do viver cotidiano vitalizar as sombras, e,
com os raios de sol da esperança aproveitamos as
luzes.
MARGARIDA foi uma dessas peças no motor
de funcionamento do setor social de Pombal, que na sua falta, a bateria do bem
coletivo não pode descarregar a sua eletricidade.
Professora MARGARIDA PEREIRA DA SILVA,
filha de Pombal, uma pequena cidade paraibana, seria comparável à brava
Domitilla e/ou à madre Tereza de Calcutá, cada uma no seu tempo e no seu lugar.
Nasceu uma criança pobre que se deitou no berço da inteligência, para, logo
cedo, abrir os olhos, identificar o seu mundo e unir-se a uma força Divina. Com
a simplicidade do seu próprio ser apegou-se à mão de uma criança carente, que
lhe deu vida, carinho e amor.
Assim, no seu estilo próprio de viver,
tornou-se uma heroína pela expressão da natureza. Lutou contra todos os tipos
de desafio. Fez história para aprendizado. Deixou o exemplo para as gerações
futuras. Não se rendeu desde o balbuciar do colo materno, viveu as agruras de sol
a sol, partindo do banco escolar das primeiras letras, penitenciando-se nos
rigores de colégio de freiras, nas galerias da Escola Normal “Josué Bezerra”, e
enfrentou o profissionalismo do ensino superior, na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Cajazeiras.
Com o diploma na mão, a vocação na mente
e a fé no coração, ela deu amparo e sustento aos seus familiares e centenas de
agregados que passaram pela sua vida. Considerada uma emérita professora,
deixando a sua marca registrada no ensino médio, na cadeira de inglês, que
falava fluentemente.
Irresignada, com a situação vivida pelas
classes inferiores, juntou suas mãos, como um símbolo de compromisso e
realização, em defesa da causa social. De ver triunfar o descaso, perceber o
sentido da fome, repugnar à miséria, notar o crescimento da marginalidade; de
tanto gritar contra os desajustes sociais, acompanhada de um grupo de alemães e
voluntários pombalenses, fundou a Creche “Pequeno Príncipe”, para, no momento
oportuno, numa obra arrojada e desafiadora, fundar e instalar o “Clube do Menor
Trabalhador de Pombal, atualmente, CEMAR, um exemplo de tirocínio
administrativo e trabalho nacionalmente e internacionalmente reconhecido.
O espaço geográfico ficou pequeno diante
de sua angústia e de suas ideias avançadas, em nome da causa social. A menina
pobre de Pombal conheceu diversos países, com a finalidade de angariar recursos
financeiros no sentido de manter e progredir o seu destino da causa social. E,
ainda, analisando os problemas daqueles países, estudando em cada um seu fator
de miséria, adquiriu novas experiências, principalmente no que se refere à
criança abandonada.
Depois de longos anos seguidos de luta,
se Pombal não a reconheceu pelos seus méritos e abnegação ao trabalho,
fincou-se na exceção à regra, quando o restante do país a identificou como
GENTE QUE FAZ, prêmio que lhe foi conferido como um ato de JUSTIÇA!
Lembramo-nos muito bem do triste ocorrido deste fato, à época, fez ranger no
nosso sentimento de revolta um uivo de lobo que soava na madrugada fria. Por
instinto de maldade e orientada nesse sentido, pessoa ligada ao poder público
municipal desligou o cabo de antena da repetidora, dificultando que o programa
televisivo fosse assistido pela sociedade pombalense, coisa do tipo Sucupira,
cidade imaginária do seriado “O Bem Amado”, de autoria de Dias Gomes.
Geralmente, em vida, pessoas de boa
índole são maltradas, humilhadas e enterradas em vida, cujo valor pessoal só
será reconhecido após a morte, pois o ato de injustiça foi praticado. Ás vezes,
os lamentos são lágrimas de crocodilo.
O preconceito racial diminuiu bastante
devido à moldagem histórica dos tempos modernos, a mudança vertical na escala
social provocado pelo dinamismo individual e à vigência de novas leis que
combatem à discriminação social, no entanto, o preconceito que cada um carrega
escondido no âmago do seu íntimo ainda é muito arraigado, salvo quando é
reconhecida a boa posição e a reputação, amenizando o sentimento de isolamento
social ou temor de ser tachado como uma pessoa de raciocínio míope.
"A MÃO QUE AFAGA É A MESMA QUE
APEDREJA”.
MARGARIDA! Em nome da sinceridade de um
grande amigo, acreditamos, piamente, que a sua luta não se acabou, você apenas
adormeceu. Pois, ficou uma palavra de determinação, uma voz que canta a melodia
da saudade, quando se ouve um eco sem fim. Por tudo isso, caiu uma lágrima que
molha o chão fértil das ideias, quando nascerá outra MARGARIDA, que continuará
a sua luta.
O modo que uma mãe chorou em desespero,
só foi superado pelas palmas das crianças inocentes, que lhe rendiam gratidão.
E uma dessas crianças será a próxima
MARGARIDA!
Os anjos que aplaudiram a sua vitória no
céu, quando estiver brincando na mansidão do paraíso, e, repentinamente, olhar
em direção ao planeta que denominamos de Terra, diga esta frase plagiando
Confúcio:
“Quando nasci, ao meu redor todos riam,
só eu chorava.
Fiz por viver de tal modo
Que na hora da minha morte.
Todos choravam,
Somente eu ri.” .
João Pessoa – Pb, 16 de
janeiro de 2017.
SEVERINO COELHO
VIANA
*AUTOR
MARGARIDA, A LUTA CONTINUA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/13/2017 11:52:00 AM
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