10 ANOS DO PARQUE CULTURAL O REI DO BAIÃO
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
O Estado da Paraíba reúne um rico acervo
cultural, marca de sua história e de seu povo, que contribuiu eficazmente para
a preservação da cultural brasileira. A cultura paraibana, particularmente,
está fincada em origens ibéricas, africanas e indígenas, e, evidentemente, tem
ganhado as suas especialidades no decorrer do tempo.
As suas ramificações são diversas nas
suas formas de manifestação: a música, a dança, o folguedo, o teatro, a
literatura oriundos da imaginação e da criatividade popular. A cultura paraibana,
às vezes, sem o apoio de órgãos governamentais, é fortalecida e preservada pelo
esforço aguerrido por homens e mulheres de vocação e
As danças folclóricas mais exponenciais
no Estado são diversas, por exemplo, da nau-catarineta, do bumba-meu-boi, do
coco-de-roda, do xaxado, da ciranda, do pastoril e das quadrilhas juninas.
Todas elas são cultivadas pelos paraibanos durante todo o ano. Algumas ganham
notoriedade nos períodos carnavalescos e durante as festas juninas.
Não podemos esquecer o caráter de
ousadia e abnegação para manter a chama viva dessas expressões culturais que
muitas delas ganham vida a partir de comunidades carentes e produtores
culturais esforçados. E esta história tem continuidade com a descoberta e
preparação de novos artistas para manutenção da tradição cultural, formando um
arco de extensão geográfica de Cabedelo à Cajazeiras.
Este nosso artigo traz como tema central
parabenizar os 10 (DEZ) ANOS DE FUNDAÇÃO DO PARQUE CULTURAL O REI DO BAIXÃO,
precisamente criado no dia 20 de agosto de 2007, cujo objetivo é manter,
divulgar, incentivar e promover a riqueza cultural e ambiental do sertão
paraibano, uma região pouco conhecida dos grandes circuitos turísticos,
localizado na Comunidade São Francisco, Município de São João do Rio do Peixe.
Esta iniciativa arrojada nasceu da
brilhante cabeça do curador: FRANCISCO ALVES CARDOSO, o nosso conceituado Chico
Cardoso, advogado, professor, escritor, teatrólogo, radialista, jornalista,
memorialista e produtor cultural. É um baluarte defensor da cultura paraibana,
é um autêntico guerreiro que sempre está de escudo erguido para orgulho da
cultura sertaneja. A Paraíba lhe deve muito pelo o que diz e o que faz. E São
do Rio do Peixe agradece pelos seus grandes feitos.
A ideia brilhante se corporificou quando
batizou o parque cultural “O REI DO BAIÃO”. Justificando. Mas quem é o Rei do
Baião?
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu na
fazenda Caiçara, no município de Exu, no dia 13 de dezembro de 1912. Aprendeu a
ter gosto pela música ouvindo a execução da sanfona de oito baixos do seu pai
Januário José dos Santos e a apresentação de músicos populares nas feiras livre
e nas festas religiosas. Aos sete anos, muda-se com a família para o centro
urbano de Exu, passando a acompanhar o genitor como sanfoneiro auxiliar. Além
de lavrador, Januário era músico respeitado na redondeza. Assim, ao lado do
pai, com apenas 12 anos, Gonzaga já animava sambas, em vários locais do Sertão
do Araripe. Com 12 anos de idade, com o auxílio do coronel Manoel Alves de
Alencar, compra a sua primeira sanfona de oito baixos. A partir desse momento,
com vocação para a música passa a ganhar semelhante ao que o pai ganhava para
animar os bailes em Granito, Baxio dos Doidos, Rancharia e Cajazeira de Faria.
Aos 17 anos de idade, um namoro frustrado com a filha do coronel Raimundo
Delgado, que não permitia o namoro de sua filha com o jovem sanfoneiro, daria
início a uma mudança radical na vida de Luiz Gonzaga. Revoltado, após levar uma
pisa da mãe, por ter ameaçado o coronel de morte, ele foge de casa, caminhando
a pé até o Crato, onde vende a sanfona e viaja para fortaleza, alistando-se no
Exército Brasileiro como recruta do 23º Batalhão de Caçadores, em plena
Revolução de 1930. Nessa condição, viaja por todo o País através do 23º
Batalhão de Caçadores do Exército, onde recebe a alcunha de “bico de aço”, por
tornar-se exímio corneteiro. De passagem por Juiz de Fora, conhece Domingos
Ambrósio, que lhe ensina a tocar sanfona de 120 baixos. Licenciado do exército,
em 1939, migra para o Rio de Janeiro, onde fez de tudo um pouco, inclusive
tocar em bares de beira de cais. Por um grupo de estudantes cearenses foi
aconselhado a tocar as músicas do Nordeste, o que lhe rendeu os primeiros
prêmios nos concorridos concursos de calouros das emissoras de rádio, no final
da década de 1930. A vida de Luiz Gonzaga é a existência de um artista que,
desde pequeno, ao ver o pai consertar velhas sanfonas conforme suas próprias
palavras, com o anseio de ser músico popular um dia, de ser capaz de empolgar
as multidões. Sonhava, num quase delírio, com uma noite de glória, com um terno
novo de brim, alpercatas pelas ruas, para que o vissem bem trajado, com a
sanfona nova pendurada no pescoço, todo mundo admirado. E ganharia fama. Seria
chamado para outros lugares, para outras cidades maiores sem esquecer o seu
Torrão nordestino. O primeiro trabalho fonográfico de Luiz Gonzaga foi gravado
pela RCA, em 78RPM, contendo as músicas Véspera de São João (mazurca); Numa
serenata e Saudades de São João Del Rei (valsas); Vira e Mexe (chamego). Em
1943 conhece Pedro Raimundo, sanfoneiro catarinense, que estreia na Rádio
Nacional, com roupas de gaúcho. Inspirando-se nas vestimentas dos pampas, passa
a apresentar-se vestido de nordestino e a cantar com a sua própria voz. Lança
mariquinha (em parceria com Miguel Lima) foi o seu disco de estreia. Com o
sucesso desse primeiro trabalho, procura trabalhar mais a cultura do nordeste
nas suas composições. É nesse momento que realiza parceria com o advogado e
compositor Humberto Teixeira, com quem compõe dezenove músicas, que viriam a se
tornar, em sua maioria, clássicos nordestinos, a exemplo da Asa Branca, nascida
das lembranças de uma das músicas cantaroladas pelo pai. Luiz Gonzaga tornou-se
um símbolo do País, quando o baião passou a ser um dos estilos musicais mais
tocados no Brasil, entre os meados das décadas de 1940 e 1950. E ainda hoje um
estilo musical que em qualquer lugar do mundo é reconhecido como brasileiro,
tanto quanto o samba. As representações musicais e simbólicas do cantor e
compositor pernambucano Luiz Gonzaga, no cenário da cultura nordestina e seu
registro enquanto patrimônio cultural imaterial brasileiro serve de exemplo de
vida para o povo do sertão. Estas representações musicais e simbólicas de Luiz
Gonzaga, além de seu registro enquanto patrimônio cultural imaterial. Gonzagão
é um dos artistas mais regravado, estudado e biografado da história da música
popular brasileira. O legado deixado pelo Rei do Baião vai muito além da
inovação do baião, ritmo que o consagrou e o popularizou. Ele compôs e criou
arranjos nos mais variados ritmos, entre valsas, tangos, choros e foxtrotes. O
Repertório de Luiz Gonzaga, o reconhecido autêntico forró, cabe em qualquer
lugar e é aplaudido por todas as gerações do passado e do presente.
Pois bem! No período de 10 (dez) anos de
existência, esta entidade já realizou IX FESMUZA (Festival de Músicas
Gonzagueanas), evento cultural que recebe a visita de sanfoneiros de vários
recantos do Brasil e tornou-se um instrumento revelador de novos talentos.
A nossa palavra de reconhecimento ao
dinâmico e talentoso, Chico Cardoso, renomado produtor cultural, vem realizando
um trabalho cultural digno dos nossos aplausos, frente ao Parque Cultural “O
REI DO BAIÃO”, destacando-se em prol do desenvolvimento cultural da Paraíba nos
seguintes ramos: organização de shows, exposições de arte, montagem de peças
teatrais, espetáculos de dança, música, encontros literários, programas de
rádio, produção de conteúdo para sites e blogs, produção de conteúdo para
internet, assim podemos chamá-lo de um verdadeiro incentivador de políticas
públicas culturais.
Por tudo que o nosso estimado amigo,
FRANCISCO ALVES CARDOSO, tem feito pela manutenção e preservação da cultura
paraibana, deixamos a nossa palavra de agradecimento, acompanhado de um
caloroso abraço nesta festa de celebração.
João
Pessoa - PB, 15 de fevereiro de 2017.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa - PB
scoelho@globo.com
10 ANOS DO PARQUE CULTURAL O REI DO BAIÃO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/15/2017 09:54:00 AM
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