História e poder
Walter Galvão |
Compartilho como
sugestão de leitura crônica que publiquei esta semana no jornal A UNIÃO a
respeito dos 30 anos de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, de
1987.
História
e poder
Walter
Galvão*
Incrível, mas agora no Brasil virou moda
afrontar a Constituição. Logo a nossa Cidadã. É venerável, e não ironizo.
A nova agressão é essa indicação do
ministro da Justiça Alexandre de Moraes para integrar o Supremo Tribunal
Federal no cargo que era de Teori Zavascki. Ele é um militante partidário. A
Constituição no artigo 99 é clara quanto a vedação aos magistrados da vivência
partidária.
Político de carteirinha, o ministro e
E o momento não poderia ser pior, cheio
de uma agressividade inédita contra seus parâmetros que têm uma plasticidade
modelar.
Sobre o que seria essa plasticidade, eu
vou tentar explicar. Quando a gente diz plasticidade do cérebro, quer dizer a
capacidade cerebral de se automodelar, de readaptar funções, de compensar
fluxos, estabelecer e estabilizar novas conexões.
Tudo isso, inclusive regenerações
generalizadas, a partir das experiências da pessoa no confronto ou convergência
com o mundo exterior das coletividades e das práticas de risco, do fazer
acontecer e de prazer.
Quando falo sobre a plasticidade modelar
da nossa Carta Magna estou aderindo àqueles que a consideram um sistema.
Sistema plástico de alto dinamismo quanto à capacidade de modelar soluções de
poder, de Estado e de sociedade com a sua teia de dispositivos hierarquizados.
Sistema também como espaço em que a
profusão de direitos e deveres é capaz de constituir e reconstituir a ordem
jurídica enquanto manejo de elementos orgânicos sócioideológicos para a prática
da vida cidadã sustentada por tradições e inovações.
Outro dia o jornalista e advogado
Petrônio Souto me propôs falar sobre a nossa Constituição, já que fomos
testemunhas de toda a mobilização nacional à época em que ela foi elaborada, o
que expressou, expressava para nós, o início do fim de uma vez por todas da
intervenção militar na vida da nação.
Eis, então, que atendo à convocação não
com um parecer de especialista, longe de mim tal saber, mas com o testemunho de
alguém que aprendeu que é o máximo ter uma constituição que tem por princípio
fundamental a dignidade da pessoa humana.
E faço isso quando do aniversário de 30
anos da instalação da Assembléia Nacional Constituinte. Foi em fevereiro de
1987 que a mudança histórica começou. A imprensa precisa pautar um debate sobre
o legado à posteridade que tudo aquilo favorece. Mas voltando ao aniversário.
O presente que a CF recebe, e que não
merece, é uma constante forçação de barra feito essa de Temer contra a
integridade dos seus dispositivos.
E se formos fuçar cada artigo,
constataremos que é isso mesmo: inteligência plástica. Temos artigos, vou citar
os simples, mas fundamentais na nossa atualidade de iconofagia avançada, que
asseguram a liberdade de expressão e de informação, mas como não poderia ser
diferente em sua lógica ideológica, há os que garantem a privacidade de cada
pessoa. Os exemplos de racionalidade e de equilíbrio são muitos.
Concordo com os mestres. Há um sistema
dentro da nossa Constituição, e ele pulsa vivo, transformador e passível de
transformação. Constitucionalistas ensinam sobre os elementos desse nosso
sistema, que seriam, entre outros, elementos orgânicos, limitativos,
sócioideológicos, de estabilização social e formais de aplicabilidade.
Aprendi isso no curso de Direito
Constitucional do emérito professor José Afonso da Silva, que aos 91 anos não
para de ensinar às novas gerações. Isso e muitas outras coisas. Também com o
mestre paraibano Flóscolo da Nóbrega, a quem não tive o prazer de conhecer
pessoalmente, só através do seu clássico “Introdução ao Direito” a mim
apresentado por Luiz Augusto Crispim, professor de Jornalismo e de Direito.
A estabilidade social que a Constituição
representa, reivindica e impõe está além dos sentimentos golpistas que
favorecem o obscurantismo que namora com o fim do pacto constitucional que nos
anima a pensarmos na difícil construção cotidiana do Estado Democrático de
Direito.
Difícil mas um essencial histórico que
tem liberdade, igualdade e dignidade como oxigênio e horizonte. Horizonte
constitucional.
*Jornalista
História e poder
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/12/2017 07:43:00 AM
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