Resquícios da passagem de família Judaica pela cidade de Pombal. (Sec. XIX)
Um
sobrado cheio de símbolos judaicos estilizados.
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Por Jerdivan Nóbrega de Araújo*
Quem passa na rua do Comércio, em
Pombal, não desconfia que ali tem um resquício da presença de uma família
judaica em nossa terra, no início do século XIX, quando a prática do judaísmo
em todo mundo era risco de vida, por conta da perseguição religiosa a esse
povo.
Os criptojudeus chegaram a Pombal
possivelmente na primeira metade do século XIX. A família, representada pelos
irmãos João Ignácio Cardoso D’Aarão e
Para entender melhor essa história,
transcrevo um resumo de texto escrito pelo pesquisador e descendente direto da
família “Cardoso D’Aarão”, Ignácio Tavares:
“... os irmãos João Ignácio Cardoso
D’Aarão e Francisco Ignácio Cardoso D’Aarão eram originários do sítio Jacoca,
hoje Conde, do engenho Forte Velho e do engenho Tibiri, hoje, localizado no
município de Santa Rita. Segundo a Professora Anita Novinsk em seu livro
“Inquisição Rol dos Culpados”, em 1732 o senhor Ignácio Cardoso, Cristão Novo e
um dos proprietários do Engenho Tibiri, foi alcançado pelo o Tribunal do Santo
Oficio, através da sua representação na Cidade de Recife, por práticas
religiosas não compatíveis com o pensamento único da Fé Cristã.
O senhor Ignácio Cardoso, abjurou o Judaísmo,
submeteu-se ao batismo forçado e momentaneamente, tudo ficou resolvido.
Acontece que mais ou menos no fim do século dezoito para o início do século
dezenove, ocorreu mais uma denúncia, desta vez feita por um padre que se
indispôs com a família Cardoso por razões de ordem sentimental, pois este padre
se apaixonara por uma bela moça daquela família. Este talvez tenha sido o
grande motivo para mais uma dispersão da família Cardos, em particular os
descendentes de Ignácio Cardoso. É provável que João Ignácio Cardoso D’Arão,
seja filho de Arão, filho de Ignácio Cardoso. A cultura familiar judaica
costuma adicionar o nome do pai aos descendentes. Eis a razão do nome João
Ignácio Cardoso D’Arão, que quer dizer, João Ignácio Cardoso, filho de Arão. ”
Agora, voltamos ao Sobrado dos Cardosos,
que foi construído pela família em 1870 na Rua do Comércio, número 323, e fica
dentro do perímetro tombado e de proteção do patrimônio histórico da cidade de
Pombal, que guarda um registro da presença e resistência judaica em Pombal.
O que tem de tão importante nessa
residência?
Nesta casa foi esculpida em alto relevo
no seu frontispício, de forma estilizada como se era de esperar de uma família
que praticava o Criptojudaísmo, e que fora perseguida pela impiedosa inquisição,
alguns símbolos da religião judaica. A princípio, em um olhar leigo, enxerga-se
apenas um candelabro oriental encimado por uma estrela de Davi, mas um
observador treinado e com certo conhecimento dos costumes e símbolos judaicos,
vai identificar ali pelo menos quatro informações desfaçadas no frontispício do
sobrado, o qual passamos a descreve-las
A ESTRELA DE DAVI: estrela de Davi é um
símbolo também conhecido como escudo de Davi usado por seguidores do Judaísmo,
MENORÁ – O CANDELABRO SETE BRAÇOS COM
SETE LÂMPADAS
AS TABUAS DE MOISÉS: as duas tabuas
representam as leis de Moises, que em hebraico é chamada de Torá, e significa
mandamento como também instrução ou doutrina.
O SABBATH: o arco com o sol nascente e
poente que emcima os demais simbolos represeta o Sábado que em hebraico diz-se
Sabbath, e começa do pôr do sol da sexta-feira e vai até o pôr do sol do
sábado, como indica o arco ali esculpido com o nascer e pôr do sol.
É preciso lembrar que estávamos em
meados de 1800, o que nos remonta a inquisição; a torturas, morte; e, expulsão
e confisco dos bens de famílias judaicas que não abjurasse a sua crença em pró
do catolicismo. Isto nos torna responsáveis pela preservação desse sobrado e da
memória dos que a construíram, cujos descendentes ainda residem na cidade de
Pombalm
Afirmo isso como tetra neto de BENIGNO
IGNÁCIO CARDOSO D'ARÃO.
*Escritor
e pesquisador pombalense
Resquícios da passagem de família Judaica pela cidade de Pombal. (Sec. XIX)
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/11/2017 10:44:00 AM
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