O engasgo do trovão
Onaldo
Queiroga*
Onaldo Queiroga |
Quem não tem a oportunidade de vivenciar
a vida das cidades interioranas, realmente passa por essa vida, sem conhecer
muitas coisas interessantes.
Lá pras bandas da minha terra, tinha um
contador de estórias que se tornou notório pela capacidade criativa de narrar
acontecimentos intrigantes e inusitados. Seu Lino, como era conhecido, não
deixava nada sem resposta. Certa feita, numa roda de conversa foi indagado se
já havia aprendido a dirigir o carro que comprara, respondeu: Claro, inclusive,
essa semana passei na Serra de Santa Luzia, serra perigosa, fiz uma curva tão
fechada que vi a placa traseira do carro. Com isso, todos silenciaram.
Mas, seu Lino não se conteve e disse:
Olha vocês viram a chuva de terça-feira da semana passada. Foi grande, trovão e
relâmpagos demais. Eu estava no sítio. Noite escura quando começou o toró.
Parecia que o mundo ia se acabar. Fechei as portas e janelas, mesmo assim,
quando relampeava clareava a casa toda e, depois, o trovão sacudia as paredes.
E continuou: De repente amigos, veio um
relampo demorado. Parecia dia, clareou tudo por uns três minutos. Passado o
relâmpago, cadê o trovão? Um, dois, três, cinco, dez minutos e nada do trovão.
Então, abri um pouco a janela. Vi uma vasta moita de marmeleiro toda se
balançando e com luzes que mais pareciam milhares vaga-lumes. Pensei comigo:
Será que o trovão ficou engasgado ali? Peguei uma vara e fui até a moita. A
catuquei com a vara. Menino! Era o trovão, o bicho explodiu, parecia o fim do mundo,
a terra tremeu e fui sacudido com dois quilômetros de distância. Mas o bom foi
que o danado ainda falou comigo, me agradecendo por desengasga-lo.
Eita cabra contador de estória!
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito em João Pessoa – PB
onaldorqueiroga@gmail.com
O engasgo do trovão
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/03/2017 03:18:00 PM
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