CONSCIÊNCIA NEGRA
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
Um dia de profunda reflexão para o povo
brasileiro, especialmente para afrodescendentes, e não fique parado em casa,
pensando secretamente foi isto que aconteceu na história e pronto. O dia 20 de
novembro comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra, em homenagem à morte
de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. O quilombo era uma localidade situada
na Serra da Barriga, onde escravos se escondiam da chibata do capataz, situado
no Estado de Alagoas. Com o passar dos anos, chegou a atingir uma população de
vinte mil habitantes, em razão do aumento do número de escravos fugitivos.
O idealizador do Dia Nacional da
Consciência Negra foi o poeta, professor e pesquisador gaúcho - Oliveira
Silveira. Em 1971, ano de fundação do Grupo Palmares, que reunia militantes e
pesquisadores da cultura negra brasileira, o gaúcho propôs a criação de uma
data que comemorasse a tomada de consciência da comunidade negra sobre seu
valor e sua contribuição ao país.
Formalmente, a libertação dos escravos,
Lei assinada pela Princesa Isabel, ocorreu no dia 13 de maio de 1888, quando o
Brasil tinha somente 5% (cinco por cento) dos negros que era escravos.
Posteriormente, o Decreto nº 528, de 28
de junho de 1890, dois anos da libertação dos escravos, oferecia terras e ajuda
na viagem para os imigrantes europeus, cujos benefícios legais eram negados aos
indivíduos da África e da Ásia. Implica dizer que os afrodescendentes ficaram
fora dos benefícios deste decreto e continuaram sem qualquer projeto de futuro
alvissareiro.
A polícia brasileira nasceu no período
colonial que, por mera coincidência premonitória, no dia 13 de maio de 1809,
por Dom João VI, com a finalidade de coibir revoltas e punir os fugitivos. Logo
os fugitivos podemos entender que eram os escravos que escapavam da casa grande.
Os dados mais recentes mostram que a
cada 100.000 (cem mil) homicídios entre jovens, 30 mortos são brancos e 82,
pretos e pardos. Nas cadeias a taxa 67% (sessenta e sete por cento). A
população carcerária é um retrato de quem é pego pela polícia. Os negros são
mais abordados e, quando presos, raramente podem pagar pela defesa. Os nossos
olhares se voltam para a questão econômico-financeira.
A princípio, através do nosso
conhecimento histórico, interpretamos que a libertação dos escravos não ocorreu
por uma decisão voluntária dos fazendeiros paulistas e muito menos foi uma
dádiva da família imperial. Ela foi fruto de grandes manifestações e lutas
populares, contanto teve apoio de um reduzido número de intelectuais,
advogados, jornalistas, estudantes, etc.
Por seu turno, a conhecida Abolição dos
Escravos não veio acompanhada de uma reforma agrária, nem de uma justa
indenização, nem tampouco de aprovação de leis protetoras de trabalhador
emancipado, que foram jogados ao relento da periferia e ruas do Rio de Janeiro
e, por isso, a população negra ficou vivendo e sobrevivendo numa situação de
extrema miséria.
Como era que podia haver um ponto de
equilíbrio entre o social, o cultural, o educacional, o econômico da população
negra e da população branca, uma vez que a população branca era a classe
dominante de todos os setores da sociedade? Decorridos 129 anos da libertação
formal, as conquistas são poucas no campo prático, principalmente porque
culturalmente ainda persiste o enraizamento de sentimento preconceituoso.
Por tudo isso, nós não podemos esquecer
a realidade dos fatos que, cultural e socialmente, o preconceito racial
continua a existir, pois cada pessoa carrega na parte mais escondida do seu
íntimo um peso de discriminação até ser reconhecido o status, a posição social
e econômica do discriminado. E esta verdade, nós só não identificamos com
clareza porque muitos receiam ser tachados de ultrapassados ou de mente curta.
Uma pergunta que não quer calar, logo
lembrando que, segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
– 54% (cinquenta e quatro por cento) de habitantes do Brasil, no ano de 2014,
se auto identificaram como afrodescendente agora vem a pergunta: Por que não
elegemos um NEGRO Presidente do Brasil?
Pois é! As estatísticas apontam que os
afrodescendentes são uma MAIORIA demográfica, social e cultural, enquanto que
eles são uma MINORIA política.
“Não preciso ter ambições. Só tem uma
coisa que eu quero muito: que a humanidade viva unida... negros e brancos todos
juntos”. (Bob Marley).
João
Pessoa, 20 de novembro de 2017.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa – PB.
scoelho@globo.com
CONSCIÊNCIA NEGRA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/20/2017 10:09:00 AM
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