Tuiuti evoca escravidão; em troca, candidato promete metralhar favela da Rocinha
João Costa |
João
Costa*
A Escola de Samba Paraiso da Tuiuti
levou para avenida seu enredo sobre a escravidão, um regime de trabalho bem recebido
de volta pela Nação, provocando nonsense em narradores de TV que não relataram
o que viram, constrangeu quem assistia dos camarotes de luxo; agitou a massa,
mas temo que tudo não passe apenas de um grito de Carnaval; de licença poética
carnavalesca, da mesma forma quando foliões ocupam saguão e mandam o prefeito
tomar no cu. Em troca, candidato de direita promete metralhar favela, se
eleito.
Esta escola de samba fica em São Cristóvão,
antigo bairro imperial; levou para a avenida o tabuleiro do xadrez ou o estado
do tuiuti em que o país se encontra ou vai jogar pós-carnaval.
Jack Vasconcelos, o carnavalesco da
Tuiuti, se diz discípulo de Joãozinho Trinta, não é comunista, mas causou
catarse na avenida com crítica social e política num enredo histórico sobre a
escravidão e o tuiuti que se transformou o Brasil - além de popularizar o termo “manifestoches”
para todos aqueles iludidos pela onda moralista, e que vestiram a camisa da CBF
se achando mais brasileiros que os demais no tuiuti nacional.
Do lado de fora da avenida do samba,
imagens feitas no aeroporto Santo Dumont mostravam milhares de foliões ocupando
o saguão aos gritos de “Fora Temer” e “Ei, Crivela, vai tomar no cu!”.
Desconfio e até me angustia imaginar que
foram apenas gritos de Carnaval. Temer derrubou um governo legítimo, responde
pela acusação de formação de quadrilha, obstrução da justiça e corrupção; promove
a destruição do país, e nem por isso
corre risco de ser derrubado, e o máximo que o país consegue é estigmatizá-lo
como um “vampiro” numa festa de carnaval ou nas redes sociais.
“Ei, Crivella, vai tomar no cu” parece
não ser um grito de revolta pra valer.
Crivella governa a cidade dita
maravilhosa eleita pelo voto popular, é pastor e dirigente da Igreja Universal
do Reino de Deus, e implanta políticas governamentais elaboradas pelo clero que
ele representa – portanto, um receituário conservador e fundamentalista de
direita, numa cidade governada sob influência da sua igreja e, por outro lado,
controlada pelo tráfico e/ou outras organizações criminosas, inclusive no comando
dos partidos ditos legais.
Nesse xadrez que emerge a partir do Rio
de Janeiro tem outra peça que se movimenta politicamente com chances de
governar o Brasil. Trata-se de Jair Bolsonaro, deputado carioca, que se
apresenta como timoneiro das hordas fascistas que varrem o País, paridas pela
onda de ódio disseminada pela Rede Globo nos últimos anos.
A mídia relata que durante evento promovido na semana passada
pelo BTG Pactual e para um público de mil executivos do mercado financeiro,
Bolsonaro disse que “mandaria um helicóptero derramar milhares de folhetos
sobre a favela, avisando que daria um prazo de seis horas para os bandidos se
entregarem; findo este tempo, se a bandidagem continuasse escondida,
metralharia a Rocinha”. Relatam que foi aplaudido de pé pelos banqueiros. A
informação foi dada pelo jornal O Globo, mas remendada pouco depois na base do
“não foi bem isso que ele quis dizer”.
Metralhar a Rocinha? Pura bravata! Neste enclave de pobreza
no coração da Zona Sul do Rio de Janeiro, bem embaixo do Cristo Redentor, com
70 mil habitantes, é uma comunidade a exemplo de outras no Rio, em que fuzis
AK-47, a arma mais utilizada em guerras de libertação, são reais. Logo, só a
estupidez ou discurso fascista para mandar
metralhar a Rocinha
– Pois simplesmente
quem assim o fizer, corre o risco de ser metralhado de volta.
*João Costa é Radialista, Jornalista e
Diretor de teatro, além de estudioso de assuntos ligados à Geopolítica.
Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Tuiuti evoca escravidão; em troca, candidato promete metralhar favela da Rocinha
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/15/2018 08:01:00 AM
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