Gente das Ruas de Pombal - Edmi Monteiro e seu “Carlitos”
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Por
Jerdivan Nóbrega de Araújo*
Surpreendido com a notícia da morte de
Edmi Monteiro, veio as minhas memórias eu moleque, andando pela feira do sábado
de Pombal, nos idos anos da década de 1970, e encontrá-lo nas ruas da cidade,
cheio de alegria, muito comunicativo conversando com meu pai na porta do
cassino.
Edmi Monteiro era chegado a um carteado, e
passava horas no casino de Felix, sentado em uma mesa, conversando e disputando
fichas numa de roda de Biriba, Sueca ou Pif -Paf. Mas, além de bom jogador de
cartas Edmi era um artista de rua, manipulador de um boneco que ele mesmo criou
e o batizou de Carlitos. E o Carlitos manipulado por Edmi Monteiro tinha um
pouco do seu criador. Era alto, magro e das pernas e braços maiores que o
tronco, assim como era o seu criador.
O Carlitos também era um boneco muito
comunicativo, assim como o seu era Edmi, de forma que o povo de Pombal passou a
confundir o criador com a criatura, e o magro Admi também recebeu o nome da sua
criatura. Em Pombal da década de 1970, Edmir deixou de ser Edmi Monteiro para
simplesmente ser o Carlitos.
Nós, como todas as crianças da cidade,
ficávamos fascinados com o Carlitos, “pulando”, “dançando’, ”deitando” e
morrendo de susto, ao comando do seu criador.
E como o Carlito “se vendia”!Logo após a
apresentação as pessoas se acotovelavam para adquiri o Carlitos, ávidos para
chegar em casa e faze-lo dançar para seus filhos. Mas isso era impossível: o
Carlitos só atendia aos comandos habilidosos do seu criador.
Não se tratava de um fantoche desses que
se manipula com cordões. Ele simplesmente pulava e dançava, sempre a uma certa
distância do seu manipulador. Não se viam cordões nem tábuas em forma de ” X”
como é de outros bonecos que assim se comportam.
A manipulação era um segredo que o Admi
não revelava, pois, se o fizesse, como em toda “magica”, acabava a graça e,
mais ainda, acabava com o seu ganha pão.
Certa vez eu ganhei de Admir um Carlitos,
e como é comum a toda criança, sai em disparada para casa na ânsia de fazer o
Carlitos dançar e cair morto. Foi uma tarde muitas de tentativas e nada do
Carlitos me obedecer. Foi aí que o meu pai me contou o segredo, e disse mais:
não adianta você tentar, só Admir e capaz de fazer esse boneco dançar.
Meu pai explicou que existiam linhas
presas ao boneco e ligadas a parede e a altura do joelho de Edmi, e que essas
linhas eram tão finas que não se podiam enxerga-las. E disse mais: mesmo que
você tenha essas linhas não vai conseguir por que só o Edmi tem o treinamento
para isso.
Meu pai falou ainda que o destino desses
Carlitos, depois de frutadas tentativas dos seus compradores, era sempre o
fogo.
O tempo passou e sempre e que eu via Admi
Monteiro vendendo o seu Carlitos nas ruas de Pombal eu procurava essas linhas
invisíveis e, confesso, nunca as vi. Cheguei a até a dizer a Admi que eu sabia
do truque: eu sabia das linhas invisíveis.
Certa vez em 1978, eu andava pelas ruas de
João Pessoa, mais precisamente na Rua Guedes Pereira, quando vi algumas pessoas
aglomeradas em um canto de parede: era Admi e seu Carlitos se exibindo ao
público
Ao me ver, Admir continuou com a exibição
por mais uns minutos e, depois de vender alguns, parou a apresentação juntou
tudo numa sacola, me chamou e comentou em particular:
- Rapaz, eu estava morrendo de medo de
você falar alguma coisa dessa história das linhas transparentes.
Eu respondi:
- Eu não falei por que estava procurando
por elas.
Sei que hoje existem outros manipuladores
de Carlitos nas feiras livres, mas nenhum se compara a o Admir, mesmo por que
esses outros não estiveram presentes na minha infância.
*Escritor e
pesquisador pombalense
Gente das Ruas de Pombal - Edmi Monteiro e seu “Carlitos”
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/21/2018 10:03:00 PM
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