O VERDE DA POMBAL DO MEU TEMPO
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Jerdivan
Nóbrega de Araújo*
Na casa em que nasci, na Rua de Baixo, e
vivi até mil novecentos e setenta e um, lembro-me apenas de dois pés de cocos,
um de seriguelas e outro de Cuités, além da cerca verde feita de Algodão do
Pará. Mas, a Pombal dos anos sessenta era pródiga em verde, o que fazia da
cidade, mesmo em meio aos seus 34 ou 38 graus, (à noite, quando soprava o vento
da serra do Acari, baixava para 25 ou 27 graus) agradável e até despertava a
preguiça convidativa à cesta do meio dia, às sombras dos Fícus Benjamin que
rodeavam a Praça Getúlio Vargas.
A Praça do Centenário era de um arvoredo
tão esplendoroso e de copas tão fechadas que mal deixava à luz do sol chegar ao
chão. Eram tamarineiras, marizeiras, trapiás e muitas cácias Ferruginea, além
de uma árvore espinhosa, cujo nome foge-me a memória, mas que a chamávamos de
“mata fome” por nos oferecer uma vargem de polpa avermelhada que era gostosa de
se comer. Acredito ser também uma variação das mil e duzentas variações de
Acácias existentes no mundo.
As Palmeiras Imperiais só vieram a ser
plantadas no inicio dos anos oitenta. Outra árvore de igual espécie havia no
pátio do João da Mata, onde hoje está instalado o Hospital Distrital de Pombal
e muitas outras sombreavam as calçadas das Ruas: Nova, Joubert de Carvalho e do
Comércio, alterando-se com Acácias amarela e ferrugina. Como estas plantas
vivem dezenas de anos, ainda deve existir remanescentes naquelas ruas.
“Meu flamboyant na primavera, que bonito
que ele era dando
sombra no quintal” .
Sempre que escuto esta música, lembro-me
do grande flamboyant da casa de Doca de seu Mizim. Na primavera as flores
pareciam sangrar em carne viva e no verão as suas vagens, em forma de facão,
que usávamos para brincar de guerra de espada.
Em mil novecentos e setenta e dois foi
construída uma praca defronte à Prefeitura, Hoje, Praça Hermínio Monteiro Neto,
ornamentada só com palmeiras Imperiais e Jambeiros. Este último não se adaptou
ao clima a ponto de produzir frutos, porém as suas copas deram uma beleza
especial ao local.
Nas roças de tia Mila, Bozó e dona
Porcina, valia a pena nos arriscarmos para roubar Mangas, Carnaúbas, Trapiás e
Pinhas ou
Fruta do Conde, como preferir.
No centro da cidade, exceto na Rua Padre
Amâncio Leite, Leandro Gomes de Barros e Jerônimo Rosado, poucos jardins havia.
Porém, havia nestes, muitas rosas
vermelhas, bogaris brancos, Boa noite, Boa tarde, Bom dia e raramente
Girassóis. Na casa de Doutor Atêncio um outro flamboyant e, na lateral um pé de
Araçá, além do Jasmineiro-branco que perfumava toda a rua nos finais de tardes.
Do jardim da casa de seu Saturnino, na
Coronel José Avelino, peço que me mandem pelo menos um cheiro daquele Alecrim.
Ao lado da Igreja Matriz, na casa de
Cícero Gregório, um enorme Fícus Benjamim nos divertia: a idéia era fazer com
que os desavisados olhassem para cima, para encher os olhos de
"micuim" ou incensar as vestes com o fedor dos percevejos. Mas, o
mais engraçado eram os seis mudos de João Josias, que se aproveitavam da sombra
para gozar dos transeuntes com as gargalhadas
marcantes.
O corredor do rio era ladeado por cercas
vivas de Melão de São Caetano, Jerimuns, Algodão do Pará e muita Marizeiras,
Trapiás
e Cajazeiras, Canafístolas e muitas
Oiticicas que outrora fora a redenção financeira da cidade de Pombal. As matas
ciliares do Rio
Piancó eram formadas por Ingazeiras e
Mufumbos, em sua maioria, onde o passaredo se agasalhava.
No campo de futebol o aveloz, de tão
abundante que era, emprestou-lhe o seu nome que, apesar de batizado “Estádio
Vicente de Paula Leite”, para nós, porém, sempre foi o bom “Avelozsão”, das
nossas tardes futebolísticas, assistidas dos galhos das Avelozes.
Depois, e só depois, vieram as Algarobas
que substituíram os Fícus Benjamim por se tratarem de plantas resistentes aos
ventos fortes na temporada das chuvas e ventos de inverno e por resistir à seca
quando da escassez da água.
Deixei para o fim a grande castanholeira
do João da Mata. Animais e gente disputavam as sombras desta Árvore, porém, o
mais gostoso para os moleques era se esconder em suas frondosas copas e, de lá
atirar castanholas maduras nas pessoas que passavam nas suas imediações.
Era uma árvore enorme, cuja copa
sombreava os dois lados da rua, e o tronco não era abraçada senão por três
homens de mãos dadas. Por ficar na esquina das duas ruas e um pouco fora da
calçada era comum motoristas bêbados baterem com seus veículos no tronco da
grande árvore. Lembro-me que seus galhos chegavam até o chão.
Hoje as ruas de Pombal continuam
arborizadas e não poderia ser diferente. Não há outra forma de suportar o calor
dentro de casa e uma árvore na calçada continua sendo necessário.
O que nos falta hoje é tempo e
disposição para uma boa cadeira preguiçosa à sombra destas árvores, onde
poderíamos prosear, jogar ludo ou baralho, numa boa conversa, acalentada pelas
difusoras do “Lord Amplificador’ ou sintonizando um rádio de pilhas no programa
“Terreiro da Fazenda” da “Rádio Alto Piranhas” de Cajazeiras.
*Escritor
pombalense e Pesquisador
O VERDE DA POMBAL DO MEU TEMPO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/08/2018 06:50:00 AM
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