CIRCOS EM POMBAL
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
É uma verdade absoluta: a modernidade
muda os costumes, os hábitos, o modo de pensar, de agir e as condições de vida
do ser social. A nossa memória rebuscou ao tempo da atração dos circos que se
apresentavam em Pombal, naquela época de cidade pequena, sem diversão,
juventude acanhada, sem ter muito que fazer.
A histórica do circo está intimamente
ligada à história da humanidade, pois sua origem remonta aos tempos mais
antigos: dos chineses aos gregos; dos egípcios aos indianos. Muitos dizem ter
surgido na China devido à descoberta de pinturas de acrobacias com mais de
cinco mil anos. Quase todas as civilizações antigas já praticavam algum tipo de
arte circense há pelo menos 4 000 anos. O circo como conhecemos hoje só começou
a tomar forma durante o Império Romano. O primeiro e famoso foi o Circus
Maximus, que teria sido inaugurado no século VI a.C., com capacidade para
150.000 pessoas. A atração principal era as corridas de carruagens e com o
tempo, foram acrescidas as lutas de gladiadores, as apresentações de animais
selvagens e de pessoas com habilidades incomuns, como engolidores de fogo.
Destruído por um grande incêndio, esse anfiteatro foi substituído, em 40 a.C.,
pelo Coliseu, cujas ruínas até hoje compõem o cartão postal número um de Roma.
Com o fim do império dos Césares e o
início da era medieval, artistas populares passaram a improvisar suas
apresentações em praças públicas, feiras-livres e entradas de igrejas. Assim
nasciam as famílias de saltimbancos, viajando de cidade em cidade para
apresentar seus números cômicos, de pirofagia, malabarismo, dança e teatro.
Tudo isso, porém, não passa de uma pré-história das artes circenses porque
somente na Inglaterra do século XVIII surgiu o circo moderno, com seu picadeiro
circular e a reunião das atrações que compõem o espetáculo até os nossos dias
de contemporaneidade.
No Brasil, o circo iniciou sua história
no Séc. XIX, por meio de algumas famílias oriundas da Europa, assim como os
ciganos que também vieram de países europeus onde eram perseguidos e aqui fizeram
as primeiras apresentações.
A nossa querida Pombal, Terra de
Maringá, já foi palco de grandes circos, desde os mais simples aos mais bem
estruturados. Circos ricos e famosos; humildes e pobres de não terem cobertura
de lona, mas deixaram boas recordações, marcas, lembranças, romances e
histórias policiais que jamais serão esquecidas. A história registra que os
primeiros armavam-se na Rua de Baixo e depois na rua Francisco Bezerra, mais
precisamente, defronte ao Centro Municipal de Educação ou ainda no pátio da
Estação Ferroviária. Não nos lembramos de todos, porém os que deixaram marcas
indeléveis não podem ser esquecidos. Por exemplo, o Circo Búfalo Bill, nos idos
de 1950/1960, conquistou a simpatia da região pela sua qualidade artística. No
elenco se apresentava o casal: Charles e Mércia, a dupla caipira Quita e
Brocoió, palhaço e anão, portanto, agradavam em dose dupla. Como esquecer o
Circo Bartollo com sua majestosa estrutura e o palhaço Banzé mostrando-se
perfeito na dublagem de Roberto Carlos.
O circo Paris, Ringle, Continental,
Garcia, Portugal, Thiane, Americano, Borborema e muitos outros de igual
destaque. No entanto, o inolvidável Circo Umuruarama com o palhaço Batatinha,
Cícero Acardia, Mércia Silveira, Washington Acardia, George e a Galega do
Rebolado. Permaneceu em Pombal o tempo recorde de 45 dias – tempo suficiente
para adquirir nova cobertura. Só foi em embora de Pombal quando uma turma de
estudantes explodiu uma bomba e resolveu tocar fogo na lona nova que terminou
em caso de polícia. Depois do Umuruarama o último que ficou conhecido como o
Circo de Marilac. Permaneceram no imaginário popular os retratos falados dos
palhaços Banzé, Facilite, Chambrego, Batatinha e outros.
Só para justificar o título, sabemos que
a festa para a garotada era grande quando chegava um circo, principalmente,
pobre às vezes a céu aberto, numa cidade do interior. O palhaço, “perna de
pau”, saía pelas vias da cidade, acompanhado por uma “reca” de meninos, para
divulgar o espetáculo noturno.
Via-se aquele homenzarrão “Vara de Pau”
na frente, com o megafone na mão anunciava as atrações da noite, onde a maior
delas era, depois do palhaço, a “rumbeira”, para chamar a atenção das famílias.
A gurizada, cada um mais esperto que o outro, todos com os braços “carimbados”,
que se constituía em passaporte para a entrada no circo, era a recompensa de um
trabalho lúdico.
– Ô raia o sol suspende a lua”, dizia o
palhaço. – “Olhe o palhaço no meio da rua”.
Respondia a meninada.
_ E aí, o melhor: “Arrocha negrada”,
dizia o palhaço. – Uuuuuuuuuuu!
Gritavam em uníssono todos os
participantes os lances improvisados e tornavam-se coadjuvantes do espetáculo
ambulante. Descalço, de calção e camisa, ou nu da cintura pra cima, a meninada
ia compondo sonhos inesquecíveis para o futuro. À noite, já no circo, outra
festa. Os meninos devidamente marcados na cana do braço, orgulhosamente,
exibiam para o porteiro que os deixavam entrar sem problemas. Aqueles que não
tinham “carimbos” atravessavam o arame farpado, levantavam a lona e entravam no
interior do circo por baixo do poleiro. E olhe que ainda sobrava o “lance” das
mulheres que por economia, ou falta de dinheiro, sentadas em uma tábua
desconfortável, mostravam as coxas desprotegidas e a calçinha de pano com
muitos botões, nos chamados “poleiros”.
Hoje tem marmelada? tem sim senhor! Hoje
tem goiabada? tem sim senhor! E o palhaço o que é? ladrão de muié!"
Era assim que a meninada daquela época
se divertia atrás do palhaço “perna de pau”. Quando o circo chegava à cidade
nascia uma verdadeira euforia, uma festa sem tamanho. Por isso, minha homenagem
a esses artistas do povo. Minha eterna gratidão por me fazerem retornar estas
lembranças tão funda e singelas da minha infância!
João
Pessoa PB, 1º de outubro de 2018.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB
scoelho@globo.com
CIRCOS EM POMBAL
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/18/2018 11:02:00 AM
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