Sob o luar do Sertão
Ricardo Ramalho |
Ricardo
Ramalho*
Após cumprir o serviço
militar na Marinha, estava prestes a concluir o último ano no Colégio Agrícola.
Na mente, sonhos e amores, na frente, a história, ainda, a me dizer.
Pombal, o recanto, o
aconchego da alma, o refúgio das minhas inquietações. O luar de agosto a povoar
ideias, desejos, arroubos. Numa folga, corri pra lá. Precisava rever amigos,
renovar “paqueras”, descobrir paixões. As praças, o Cine Lux, o banho no rio, o
clube, emanavam fluidos para essa ebulição espiritual, repleta de prazeres e
surpresas.
Meu íntimo enamorado se
situava entre duas opções. Ambas enternecedoras, vivazes, aptas ao
relacionamento idílico de todos os jovens da época. Não conseguia distinguir
qual o caminho a seguir. Se uma me transmitia tranquilidade, a outra arrebatava
paixão. Se uma se retraia, a outra se arrojava. Esse movimento pendular de
sentimentos me confundia, me agitava.
Um baile na Associação
Atlética Banco do Brasil (AABB) se prenunciava como o desaguadouro desse
desfecho. Nele, certamente, estariam as duas pretendentes. Minhas ansiedades
afloravam. Estariam fulgurantes, à espera de minha decisão. Decepcionado,
entretanto, notei que não se fizeram presentes no local. Agendas familiares
impediram, provavelmente.
A banda musical
enebriava o público participante, em sua maioria jovens. Uma canção dominava
aquele ambiente: “Reflections of my life”, do grupo escocês The Marmalades.
Apenas, desconfiava da poesia musical, respirava aquela fragrância artística.
Minha compreensão da língua inglesa era mais limitada. Mas, a melodia, era
suficiente para aguçar reflexões. Não dancei. Não “paquerei”. Reflexivo, ao
final do baile, segui solitário para o Alto, sítio nos arredores da cidade,
onde me hospedava. Sob o belíssimo luar do Sertão, caminhava e caminhava,
sempre abraçado e acalentado pela lua. Ah, a lua, essa brilhante e afetiva
companheira.
Muitos
anos depois, entendia a mensagem daquela inspirada composição musical que se
fundiu com meu estado de espírito, de então. “A mudança da luz do sol para a
luz do luar, são reflexões de minha vida e como enchem meus olhos’ ( the
changing of sunlight to moonlight, reflections of my life, oh, how they fill my
mind). ‘todas minhas tristezas, tristes amanhãs; levem-me de volta ao meu velho
lar”(all my sorrows, sad tomorrow, take me back to my old home).
*Cronista
pombalense radicado em Maceió - Alagoas
Sob o luar do Sertão
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/04/2019 06:01:00 PM
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