É preciso falar direito
Teófilo Júnior |
Teófilo Júnior*
Indubitavelmente,
a língua, como forma de expressão, não é apenas um traço cultural de
identificação de um povo, ela representa, em sua essência, a própria
independência de uma nação frente a um universo linguístico variado e
universal. Cuidar, preservar e fomentar a difusão do nosso vernáculo, além de
ser um dever do cidadão, é uma obrigação que incumbe ao Poder Público
empreender na mais ampla acepção da palavra. E fazer frente à constante invasão
de palavras e expressões estrangeiras ao nosso vocabulário é tarefa do Estado e
da comunidade.
Vê-se,
numa rápida análise, que a intromissão de palavras e expressões alheias à
Língua Portuguesa é algo que traz preocupação ante a galopante presença,
predominantemente, do idioma inglês e francês no cotidiano linguístico
brasileiro, mitigando e descaracterizando a nossa identidade, o potencial
sonoro e até musical de nossa língua pátria. Cervantes já asseverava ser o
Português o idioma mais sonoro e musical que conhecera.
O
estrangeirismo, a passos largos, vem caminhando e incorporando palavras ao
nosso português “naturalizando” palavras e expressões já bem familiarizadas por
todos nós. Ninguém se assusta mais com palavras como abajur, bisturi, boné e
purê, todas de origens francesas, nem nos causa mais espanto as expressões
“mouse”, “software”, “chip”, “e-mail” e “site”, aos poucos, já totalmente
abrasileiradas e agrupadas às nossas expressões diárias.
Mas,
a ingerência desses termos atinge ainda fortemente o ramo do Direito. A linguagem
jurídica que já sofre com as extravagâncias, os exageros e rebuscamentos,
tratou ainda de unificar alguns termos estrangeiros em suas questões, seja no
“writ”, no “impeachment”, no “holding” ou no “due process of Law”, dentre
outras.
A
comunicação jurídica, que já é difícil e técnica, insiste em se incorporar à
inspiração do estrangeirismo, desaguando em verdadeiras impropriedades na
seleção e emprego das palavras e conceitos, se distanciando cada vez mais do
necessário entendimento comum e se aproximando perigosamente de um novelesco
anedotário nascido do exagero e do preciosismo linguístico.
A
falta de clareza, a utilização de estrangeirismo e o excesso de “requinte”
funcionam como fatores predominantemente excludentes, distanciando o povo, o
homem comum, do Poder Judiciário e de suas ações e entendimentos. É preciso
falar direito, sobretudo os operadores do Direito que sabem que a linguagem
jurídica é poderosa e interfere diretamente nas ações e na vida das pessoas
intensamente.
Sem
sombra de dúvidas, reside no vernáculo, na palavra e na escrita, o instrumento
mais importante no desempenho dos operadores do direito e fazer-se entender é,
no mínimo, o que se espera da arte de pleitear, conceder e distribuir,
claramente, Justiça inteligente, democrática e inteligível a todos.
*Escritor,
poeta, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal da
Paraíba. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de
Campina Grande. Especialista em Prática Judiciária pela Universidade Estadual
da Paraíba e Escola Superior da Magistratura da Paraíba e Técnico Judiciário do
Tribunal de Justiça da Paraíba com lotação na Comarca de Pombal-PB
É preciso falar direito
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/04/2019 07:30:00 PM
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