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BOM ORADOR

Severino Coelho Viana

Por Severino Coelho Viana*

Encontrei com um amigo de longas datas na orla marítima, depois de abraços e sorrisos de praxe, o amigo me convidou para tomar uma cerveja e colocar os assuntos em dia. Logo em seguida, repentinamente, me fez a seguinte pergunta:

__ Coelho, você sabe quando eu te vi a primeira vez?
Abismado pela forma aprazível e o carinho que demonstrou, respondi:
__
 Não me lembro e não tenho a menor noção!

E ele relembrou muito bem:

__ A primeira vez que eu o vi, você foi representar como paraninfo o deputado estadual Levi Olímpio Ferreira na colação de grau da turma de direito, no Espaço cultural. Eu era concluinte daquela turma. Você fez um belo discurso de improviso que deixou a turma encantada e foi aplaudido de pé! Enquanto os outros oradores fizeram seus discursos escritos.

__ Ah! Agora eu me lembrei! Foi. É verdade!

Continuamos o nosso bate-papo sobre “direito”. A conversa se prolongou e o amigo me fez a seguinte pergunta: - Como você classifica ser um bom orador?
Aproveito a oportunidade para justificar e detalhar mais a resposta àquela indagação.
Segundo o nosso conhecimento, a oratória surgiu na Sicília no século V a.C., atribuído a Kórax e Tísias, com a finalidade de através do bom uso da palavra combater os tiranos.

Justamente, na Grécia antiga, com o nascimento da democracia que a eloquência e a oratória cresceram de forma explosiva. O primeiro professor de oratória foi o siciliano Geórgias Leontinos. Aqui esclarecemos que existe uma diferença entre oratória e eloquência. A oratória é um conjunto de regras concernentes à eloquência, enquanto que a eloquência é o poder de persuasão por meio de palavras, do gesto, da encenação, da postura. Já dizia o grande mestre da oratória Rui Barbosa: “a eloquência é o privilégio divino da palavra na sua expressão mais fina, mais natural, mais bela. É a evidência alada, a inspiração resplandecente, a convicção eletrizada, a verdade em erupção, em cachoeira, ou em oceano, com as transparências da onda, as surpresas do vento, os reflexos do céu e os descortinos do horizonte”.

Não restam dúvidas, que ouvir um bom orador ainda é assistir a melhor peça teatral com corpo e mente para o deleite da alma e de sair agradecido por ter conseguido um pouco de bálsamo aliviador.
É do conhecimento geral que os quatro maiores oradores da história da humanidade foram Péricles, Demóstenes (gregos) e Cícero (romano) e Quintiliano (espanhol, mas destacou-se em Roma). No Brasil, podemos citar Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Epitácio Pessoa dentre outros.

Na pequenina Paraíba que foi terra de grandes homens da oratória: Osmar de Aquino, Alcides Carneiro, Raimundo Asfora, Ronaldo Cunha Lima, Vital do Rego (pai).

A revelação dos grandes oradores constata-se com uso da oratória no Tribunal do Júri, no púlpito dos templos religiosos e o uso do microfone nos antigos palanques das campanhas eleitorais.

Adentrando no cerne da questão, a nosso sentir, nós entendemos que o bom orador não é aquele que se julga capaz de reter a atenção do auditório apenas pela retumbância de sua voz, mas pelo timbre de voz, postura, gesticulação. O bom orador precisa reunir em si várias qualidades com as quais possa prender o interesse dos ouvintes e difundir as suas ideias. Não pode esquecer a aparência antes de galgar a tribuna. Dirigir ao público com olhar firme para toda a assembleia sem demonstrar acanhamento e não apenas mirar em um só lado. Os gestos não poderão ser mais amplos do que a voz, com timbre límpido e a entonação não depende somente da acústica, mas da própria substância e do próprio ritmo do discurso. O vocabulário não pode ser pobre, nem demasiadamente rico. O preciosismo pode ser usado no estilo de um escritor, porém, na arte da oratória, mesmo nos meios acadêmicos, pode tornar enfadonho um discurso que seria brilhante sem o uso do que mais há de mais raro nos nossos dicionários.

Você já sentiu um orador cometendo erros crassos da língua portuguesa? Com aquela voz apagada que não convence nem atrai? Irrita qualquer assembleia a voz esganiçada que se esforça debalde para tornar-se sonora, ou a voz fanhosa que não serve sequer para entoar a mais simples cantilena. As palavras ocas, as expressões vazias, as repetições sem graça, o vocabulário paupérrimo, tudo causa um mal-estar ao auditório, nem jamais poderia conseguir impressionar ninguém.

Voz é boa dicção para quem já nasce com ela, com firmeza, elegância, nítida, expressiva, maviosa. O péssimo orador é aquele que fala chorando ou fala imitando a voz de um papagaio.
Ser um bom orador é ter conhecimento a fundo dos tropos e das figuras de linguagem, matizes com que haverá de dar colorido às ideias. Deve ser pessoa de muita leitura, está sempre com o pensamento e a alma na história, pois sua dialética depende do seu grau de cultura. A fluência sobressai à lógica e possa fazer de sua expressão oral um instrumento capaz de comover e persuadir aqueles que o escutam e o aplaudem. 

A grande eloquência exige, portanto, não só uma emotividade poderosa como também uma grande riqueza de imaginação e dons puramente físicos, alguns deles que muitos trazem do berço, outros que podem ser adquiridos com prática de perseverantes exercícios.

Cativa o bom orador o seu auditório por suas qualidades de tato, de inteligência, de sensibilidade e de sinceridade. Justamente, o insucesso dos demagogos está na falta de sinceridade, uma das qualidades de que não deve esquecer-se o bom orador.
João Pessoa, 18 de fevereiro de 2019.
*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa - PB
scoelho@globo.com


BOM ORADOR BOM ORADOR Reviewed by Clemildo Brunet on 2/18/2019 10:03:00 AM Rating: 5

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