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A história é para os que, definitivamente, são superiores


Genival Torres Dantas*


Lendo os jornais do último final de semana me deparei com um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fazendo referência aos centenários de vidas, se vivos estivessem os ícones da cultura brasileira, do economista paraibano Celso Furtado e do sociólogo Florestan Fernandes, ambos participantes da vida política brasileira e cada qual na sua dimensão e espaço que a capacidade de cada um assim lhe concedeu. Confesso que fui pego de surpresa pelo susto, não tinha lido nada a respeito dos dois até o momento que versasse sobre esses acontecimentos comemorados dias 26 e 22 de julho próximos passados.


O ex-presidente faz um relato da amizade que tinha com os dois notáveis brasileiros, sua aproximação ideológica com eles e a travessia durante a revolução de 1964, revolução sem armas, a volta do exílio, a reconstrução da Democracia e a Constituição de 1988. Peço licença ao caro leitor em me ater ao saudoso Celso Furtado não pela prevalência cultural de um sobre o outro, mas pelas lembranças que afloraram dentro de mim em decorrência dos relatos do FHC. Para quem quiser se inteirar com mais primor do assunto o artigo foi postado ontem, 02/08, página A2, Espaço Aberto, Jornal O Estado de São Paulo.


Conheço a história de Celso Furtado desde o início dos meus estudos, somos nascidos na mesma cidade de Pombal/PB, não somos contemporâneos, porém minha admiração pelo trabalho intelectual do Celso Furtado foge até mesmo do aspecto ideológico, pertencemos a corrente de pensamento díspar, mesmo assim, reconheço no maior economista do nosso país um extraordinário professor e pensador, tendo contribuído com os fundamentos econômicos por onde passou.


Celso Furtado era Doutor Honorius Causa das Universidades: Técnicas de Lisboa (Portugal, 1957), Estadual de Campinas – UNICAMP (Campinas, 1990), Federal de Brasília, Brasília, 1991, Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, 1994), Federal da Paraíba (João Pessoa, 1996), Pierre Mendès-France (Grenoble, França, 1996), Estadual do Ceará (Fortaleza, 2001), Estadual de São Paulo-UNESP (São Paulo, 2002) e Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, 2002). Membro da Academia Brasileira de Letras, ocupante da cadeira 11, sendo eleito em 07 de agosto de 1997, tendo sucedido a Darcy Ribeiro e recebido pelo Acadêmico Eduardo Portela em 31 de outubro de 1997;


A Academia de Ciências do Terceiro Mundo, sediada em Trieste, em 1997, criou i “Prêmio Celso Furtado”, outorgado a cada dois anos a um cientista social do Terceiro Mundo; a Fundação Carlos Chagas, Rio de Janeiro, em 2001, instituiu a “Prêmio Celso Furtado de desenvolvimento”. Com todas as honrarias Celso Furtado não se considerava um homem de letras, porém homem de pensamento. Os pensadores, críticos e estudiosos da economia também assim o reconhecem, dentre eles o economista Francisco de Oliveira, que o descreve como um escritor teoricamente superior.


Tendo nascido no interior paraibano teve seus estudos relacionados com o Liceu Paraibano, João Pessoas, nos estudos secundários, e no Ginásio Pernambucano, em Recife. Bacharel em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro, 1944, Doutor em Economia, 1948, pela Universidade de Paris (Sorbonne). Estudos de pós-graduação na Universidade de Cambridge, Inglaterra, 1957, sendo Fellow do King’s College;


Como profissional teve uma vida de atividades extensas: Diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da CEPAL, 1949/1957, contribuindo decisivamente, em conjunto com o economista argentino Raúl Prebish, para a formulação estruturalista da realidade socioeconômica da América Latina. Foi Diretor do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE), 1958/1959, ainda no Governo Juscelino Kubitschek, elaborou o Plano de Desenvolvimento do Nordeste, dando lugar à criação da SUDENE, sendo seu Diretor de 1959/1964, assumindo no Governo João Goulart como primeiro Ministro do Planejamento, 1962/1963.


Celso Furtado foi um dos atingidos pela revolução de 1964, tendo seus direitos políticos cassados por dez anos, nessa fase se dedicou à pesquisa e ao ensino da Economia do Desenvolvimento e da Economia da América Latina, passando por universidades como as de Yale, EUA, 1964/1965, Sorbonne, França, 1965/85, American University, EUA, 1972, Cambridge, “Cátedra Simon Bolívar”, Inglaterra, 1973/1974, Columbia, EUA, 1976/1977. Com a redemocratização, 1985, foi embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia, 1985/1986, em Bruxelas. Foi Ministro da Cultura do Governo Sarney, 1986/1988. Nessa época elaborou a primeira legislação de incentivos fiscais e fez a defesa da identidade cultural brasileira.


Dessa forma, Celso Furtado transitou por vários Governos e de ideologias diferentes, tendo servido a todos eles com a mesma competência e dignidade dos homens que têm compromissos com o Estado e não com doutrinas ou partidos políticos, ele hoje faz falta, nessa fase de pandemia, seria uma voz respeitada a guiar os rumos do Brasil, apontando um norte a ser seguido.

 

Genival Dantas



*Poeta, Escritor e Jornalista


genivaldantasrp@gmail.com

A história é para os que, definitivamente, são superiores A história é para os que, definitivamente, são superiores Reviewed by Clemildo Brunet on 8/05/2020 10:06:00 AM Rating: 5

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