MÚSICA ENLUTADA EM DOSE DUPLA
Prof.
Francisco Vieira*
No Brasil, o mundo artístico
está duplamente enlutado com a perda de dois grandes ícones da nossa música.
No curto espaço de sete
dias, entre 21 e 28 de julho, o país se comoveu com o falecimento do roqueiro
Renato Barros e do forrozeiro Pinto do Acordeon, duas estrelas de primeira
grandeza que partiram deixando saudades e foram se unir a outras tantas na
constelação do céu.
“O problema é saber como
acostumar com a saudade”, expressões de Érika Barros, filha do guitarrista que se
enleva em consonância com a afirmação do sanfoneiro de que o artista não morre,
se eterniza, legado deixado para os filhos, amigos e uma legião de fãs.
Como um presságio, o ano de
2020, arrebatou a vida de personalidades do mundo artístico e desportivo. Foram
atletas, jornalistas e cantores, como Luiz Vieira, Claudia Telles e
recentemente, Renato Barros e Pinto do Acordeon, dois talentosos artistas, com estilos
e gêneros diferentes, mas, notáveis no que faziam. É que a diversidade cultural
brasileira tem espaço para todos e música para diversos gostos, até mesmo para
quem não tem gosto, o que é pior.
Aí, exultante, relembro os
anos 60, minha adolescência. Numa apologia à Jovem Guarda, ainda presente em
mim o repertório do conjunto, senão vejamos: Não te esquecerei, pelo contrário,
lembrarei de ti, oh! Menina Linda e Meu primeiro amor, por quem perdi A
primeira lágrima, implorando, para não me dizer adeus. Como a Esperança é a
última que morre, espero Ser feliz, feliz até o fim.
Renato Barros, carioca
nascido em 1943, vocalista, compositor e guitarrista, foi líder do Conjunto
Renato e Seus Blue Caps, fundado em 1960, tendo se notabilizado em bailes para
a juventude com romantismo e frenesi, além de shows e programas de televisão,
comandados por Roberto Carlos, Wanderléia e Erasmo.
Se o rock lamenta por Renato
Barros, o forró reclama a falta de Pinto do Acordeon, grande expoente da música
nordestina. Tão genuíno quanto Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e outros,
Pinto, o sanfoneiro de Conceição – PB, defendeu o xote, o xaxado e o baião
cantando com alma e espírito sertanejo.
Assim como o espinho pra
furar de pequeno traz a ponta, Pinto, ainda criança, manifestou interesse pela
música tornando-se com o tempo um artista renomado. Sua aura artística envolve poesia,
versatilidade musical e voz expressiva, o que faz do compositor, sanfoneiro e
cantor paraibano um forrozeiro na medida certa, o que muito se assemelha a história
de seu ídolo e padrinho profissional, O Rei do Baião.
Suas composições fizeram
sucesso na voz de notáveis artistas, como: Genival Lacerda, Dominguinhos,
Fagner, Trio Nordestino e Três do Nordeste, com destaque para Neném Mulher, na interpretação
de sua conterrânea Elba Ramalho e que foi tema da novela Tieta da Rede Globo de
Televisão.
Tendo Luiz Gonzaga como sua
maior fonte de inspiração, Pinto do Acordeon divulgou o Nordeste: seu povo,
costumes e tradições. Cantou o homem do campo, a natureza, o inverno e a seca,
o vaqueiro e o retirante. De sua voz ainda ecoa o sentimento e a força do
sertanejo na música Matuto Teimoso e sua trajetória artística na composição, Por
Amor ao Forró.
Enfim, partiu Pinto do Acordeon
aos setenta anos, conforme afirmação do próprio sanfoneiro, fiel escudeiro do
verdadeiro forró e talvez o mais Gonzagueano dos discípulos de Luiz Gonzaga, O
Rei do Baião.
A Renato Barros e Pinto do
Acordeon, meu tributo, minha reverência. A arte não os fará esquecidos, mas
eternizados.
Sigam em paz.
Pombal, 30 de julho de 2020.
*Professor e Escritor
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