ADEUS AO POETA QUERIDO
Ronaldo e Maciel Gonzaga |
Maciel Gonzaga*
Nesta semana a Paraíba chorou a partida do poeta Ronaldo
Cunha Lima. Amigo dos amigos, um administrador competente, um amante da cultura
popular que nos deixou um legado. Gostaria de dizer algo mais sobre Ronaldo,
mas, reconheço, não tenho força e palavras para poder traduzir quem foi o nosso
poeta.
O que mais me marcou entre todas as virtudes de Ronaldo
Cunha Lima foi o seu amor à cultura popular. Pelo povo, Ronaldo jamais teria
ido agora. A sua história de vida e a sua poesia retratam a sua própria pessoa.
Tive o prazer e a honra de ser, como jornalista, o primeiro
e entrevistá-lo em 1981, quando ele acabava de cumprir o período de 10 anos de
cassação de seus direitos políticos pela ditadura militar e retornava do Rio de
Janeiro para Campina Grande disposto a ser candidato a Prefeito, o que
aconteceu no pleito de 1982, enfrentando um valoroso adversário – o jurista
Vital do Rego – em uma das campanhas mais memoráveis da história da cidade
Rainha da Borborema. Na ocasião, nos encontramos na casa de sua mãe – Dona
Nenzinha Cunha Lima – e fiz uma
entrevista com ele de página inteira publicada no jornal Gazeta do Sertão.
A partir daí, tanto eu como o meu irmão Massilon Gonzaga
selamos uma grande amizade com o poeta. Fomos juntos trabalhar na sua
administração. Eu, na Assessoria de Comunicação, onde tive a oportunidade de
acompanhar como foi criado o maior São João do Mundo, e Massilon como locutor
oficial da Prefeitura. Depois, também alçado à condição de locutor oficial de
todas as campanhas políticas que o poeta disputou.
Reconheço, não tenho palavras para retratar quem foi Ronaldo
Cunha Lima, mas, deixo aqui uma poesia de autoria do mano Massilon que foi
transformada em música, há alguns anos, intitulada “O Que é Que Ele Falta fazer
Mais”. Essa música aproximou ainda mais o poeta Ronaldo, seu filho Cassio Cunha
Lima, além do irmão do poeta – Roberto Cunha Lima - da nossa família. Vez por
outra Massilon era intimado a ir à casa de Ronaldo para cantar, ao som da
sanfona, a música em homenagem ao poeta. Isso lhe rendeu até uma sanfona
novinha de presente que o poeta lhe doou.
Massilon Gonzaga Canta pra Ronaldo |
O QUE É QUE ELE FALTA FAZER MAIS
I
Batalhou foi garçom, vendeu jornal
Comandou o movimento estudantil
O primeiro causídico do Brasil
Campeão na TV nacional
Demonstrou seu valor sentimental
Em perguntas e respostas foi capaz
Para todos mostrou como se faz
Pra Campina tornar-se conhecida
São retalhos reais da sua vida
E o que é que lhe falta fazer mais.
II
Enfrentou em disputas de campanha
Pé-de-Chumbo e mais outros de valor
Como edil, deputado e senador
Descobriu das vitórias toda manha.
No placar dez a zero fez façanha
Botou gente famosa para trás.
Na coragem é forte e é sagaz
E na política é dono do pedaço
Em campanha até hoje é ele é cabaço
E o que é que lhe falta fazer mais.
III
A ação da mesquinha ditadura
Seu mandato legítimo arrebatou
Mas nos braços do povo retornou
Para o cargo maior da Prefeitura.
Fez o Parque do Povo pra Cultura
Fez Campina crescer, ganhar cartaz
Devolveu nosso orgulho e muito mais
A verdade é preciso que se exiba
E agora deu Cássio à Paraíba
E o que é que lhe falta fazer mais.
IV
Governou o Estado, foi brilhante
No poder não falou com arrogância
Aos setores deu força e importância
Cavou poço, abriu banco e mais adiante
Fez açude, escolas, foi gigante
Consertou as estradas principais
Botou luz pra bilhar nos arraiás
Para muito serviu de trampolim
Deu até um exemplo a cabra ruim
E o que é que lhe falta fazer mais.
Se o que fez até hoje ninguém faz.
V
Levantou multidões em oração
Deu um grito bem alto de alerta
O Congresso ficou de boca aberta
Pra ouvir o seu brado e com razão.
Defendeu os direitos da Nação
Evocando os poderes federais
Foi notícia e manchete de jornais
Mas seu fraco é o papo de boteco
Deu cambão em político cacareco.
E o que é que lhe falta fazer mais
VI
O que fez lhe valer um passaporte
Para o livro da imortalidade
Pra quem ama de mais uma cidade
Seu prestigio com Deus é muito forte
Terminou dominante a própria morte
Conversou com Jesus e pediu paz
Lá no Céu deu um beijo em seus pais
Visitou os parentes, viu Asfora
Fez uns versos pra Deus e veio embora.
E o que é que lhe falta fazer mais
Mas o que é que ele falta fazer mais
Se o que fez até hoje ninguém faz.
*Pombalense, Jornalista, Advogado e Professor. Natal - RN.
ADEUS AO POETA QUERIDO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/09/2012 10:58:00 PM
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