A Luz Difusa da Realidade
*Genival Torres Dantas*
Procurando
textualizar um fato, na elaboração de dados das minhas memórias profissionais, fui
remetido à segunda metade dos anos 70 do século passado, certamente pela
realidade da dissonância de atitudes dos nossos contemporâneos que continua à
mesma daquela época.
Lembrei-me
de uma negociação junto a um dos maiores empresários do nosso país, não só pelo
que ele representa como realizador e fomentador do progresso no nosso país, mas
pelo ser humano que ele sempre se apresentou junto à sociedade brasileira.
Quando discutíamos os valores para fornecimento de um produto cuja matéria
prima é renovável, e seu segmento de atuação, que era exatamente um das
commodities, não renováveis, surgiu uma colocação por parte dele, citando que a
obtenção de um quilo da sua matéria prima, ficava mais caro que a captação do
meu produto que era abundante e renovável. Fechamos o contrato de fornecimento,
mas ficou aquela colocação que, sendo eu um homem voltado para a preservação da
natureza e
a dignidade do ser humano, ficou torturando à minha mente por muito
tempo.
Toda
vez que voltava ao tema em qualquer outra situação, lembrava da importância
daquela frase com efeito duradouro. Hoje, continuo vendo que meu interlocutor
tinha absoluta razão, o pior, continuamos repetindo os mesmos erros. Tenho
verificado a exploração das nossas reservas minerais, sem nenhum controle e
valorização financeira e econômica, por sua finitude, esgotabilidade, por parte
de quem tem a autorização para exploração às minas e minérios, nem mesmo por
parte dos governos que autoriza tal atividade.
O
que lamentamos mais ainda é que, e esse dado é universal, não é privilégio
nosso, do Brasil, desde o aparecimento do Homo sapiens, há 200 mil anos na áfrica,
virifica-se, apenas nos últimos 63 anos o homem destruiu mais os nossos
recursos naturais que todo o trabalho feito nesse sentido por todas as gerações
passadas, claro, em nome do desenvolvimento e da tecnologia. Não estou aqui
defendendo o retorno ao passado, não há como retroceder, defendo apenas
responsabilidade humanitária.
Essa atitude, dos nossos contemporâneos, vem demonstrar o quanto
estamos sendo irresponsáveis para com o planeta que nos acolhe. Estamos
sacando, melhor dizendo, saqueando a natureza, nos recursos hoje já tão raros,
necessários para a sobrevivência das gerações futuras, sem critérios e sem
noção das consequências que virão em decorrência das nossas atitudes. Isso
ocorre porque estamos vivendo numa realidade de plena dissonância de atitudes,
quando o ter vale mais que o ser, e a manutenção das políticas econômicas com
estímulos ao consumo desmedido é alimentado pela voracidade da gula dos
inescropulosos.
Os paises precisam manter suas metas de crescimento, o verdadeiro
crescimento é o que interessa aos interesses imediatista, por conta da vaidade
dos paises mais abastados, custe o que custar, não interessando a herança
maldita que estamos proporcionando aos que vão nos substituir, indiferentes às
causas de profundos prejuizos à terra que nos alimenta, seguimos sugando suas
riquezas na extração dos seus minerais, do seu subsolo, muitas vezes sem
necessidades, apenas por egoismo e avareza, produzindo verdadeiras montanhas de
sucatas e lixo que contaminam o solo, envenena nossos rios e mares. Não temos a
menor preocupação com o que estamos fazendo conscientemente, de lamentável
exemplo para os nossos filhos e netos.
Somos os únicos animais mortais, com a certeza da nossa realidade,
sabemos que um dia passaremos, deixaremos para outros o espaço que nos foi
cedido gentilmente aqui na terra, mas, somos maus inquilinos, estamos pagando
com a ingratidão tudo que de bom nos foi legado pelos nossos antepassados, não
estamos nos comportando como seres dignos, vamos partir sem limpar a casa que
convivemos por anos. Pelo contrário, os novos inquinos que se virem com nossos
degetos, e restos que sobrarem, não estaremos aqui mesmo quando a revolta da natureza
aqui se implantar, pelo nosso descaso. Entretanto, tenho medo do preço que
podemos pagar por tamanha descompustura, à natureza é sábia, ela tem se
comportado, nos últimos tempos, como um cobrador exemplar, para com aqueles que
não respeitam a sua inocência e sua pureza, além da grandeza e bondade.
Somos tão descomprometidos com a nossa realidade que até mesmo para nos
alimentarmos não nos preocupamos com o próximo, com o irmão, com o vizinho.
Desde 1965 que o mundo tem uma sobra de produção, em alimentação, na
ordem de 20%, e deixamos faltar alimento na mesa de muitos, sobre a terra. O
que nos falta é vergonha, trabalho, honestidade, basta que tenhamos coragem
para fazermos a distribuição correta das nossas safras, não nos preocupando
apenas como o lucro, mas com a humanidade, com o que somos, e nunca mais faltarão
alimentos à mesa de qualquer ser humano.
Em nome dos que lutam pela dignidade humana, peço desculpas pela luz
difusa da nossa triste realidade.
*Escritor e Poeta
A Luz Difusa da Realidade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/19/2013 06:03:00 PM
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