Muito além do crepúsculo
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
Dias
atrás revirando o meu baú fotográfico, encontrei uma foto que me chamou
atenção. Nela um amigo elegantemente vestido. Encostado numa janela sertaneja
seu olhar mirava um crepúsculo belo e enigmático. Época de sonhos realizados e
outros a serem alcançados.
O
crepúsculo é um marco divino que separa o dia da noite, a luz da escuridão.
Sabemos que o crepúsculo anuncia a chegada do noturno e
deixa em nosso âmago a
esperança do amanhecer de um novo dia, do retorno da claridade e do calor da vida.
Aquele crepúsculo revelado naquele cenário fotográfico projetava sonhos e
sonhos do amigo, porém, muito além do dourado céu uma realidade de situações
que jamais foram sonhadas naquele instante capturado pela lente de uma kodak.
A
fotografia tem o poder de registrar momentos de nossas vidas, como também tem o
condão de permitir que anos depois possamos contemplá-la e percebermos como o
tempo andou, e que os sonhos idealizados naquele instante de imagem foram alcançados,
ou mesmo, foram perdidos no caminhar das horas, dos meses e dos anos. Que o
hoje é tão diferente do almejado em tempos idos. Que segredos de outrora o
presente transformou em temas insignificantes. Que amigos de convívio diário
hoje pouco convivem, seja pela distância física ou em decorrência das
circunstâncias impostas por uma nova realidade existencial.
A
foto e o crepúsculo, dois tempos, o ontem e o hoje, realidades perceptíveis, uma
já vivida, registrada, posta para ser lembrada e analisada, a outra que
corresponde ao presente, que no contraponto daquela que consta da foto pode nos
mergulhar em reflexões que certamente nos levarão a adequações no prosseguir do
nosso viver. Assim é a vida, sonhamos e
muitas vezes o tempo nos mostra que as coisas não são como pensamos, como
idealizamos. A fotografia nos revela
muito dessa fantástica espiral do existir. Tem coisas que nem a obstinação
consegue fazer do sonho, realidade.
Aliás,
a realidade e os sonhos do amigo, naquele preciso instante fotográfico não
correspondem ao que hoje ele vive. O crepúsculo dividiu não só em imagens, mas
acima de tudo em realidades inimaginavelmente inconcebíveis, se olhadas de um
tempo para o outro, a existência daquele fraterno irmão. Vida, veloz, de tempos
e tempos, a serem vividos, mas que sejam com alegria, paz e fé num mundo
melhor.
*Escritor pombalense e
Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa
Muito além do crepúsculo
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/30/2013 04:10:00 AM
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