O Crime da Rua da Cruz em Pombal/PB
Romero Cardoso |
Por
José Romero Araújo Cardoso*
Importante trabalho literário que prima pelo
resgate histórico, realizado pelo escritor e poeta Jerdivan Nóbrega de Araújo,
concretizou-se quando do lançamento de livro intitulado de O Crime da Rua da
Cruz.
Nos idos do ano de 1883 a pequena cidade de
Pombal, localizada no alto sertão paraibano, foi convulsionada com a notícia de
que na Rua da Cruz tinha havido um crime monstruoso, perpetrado por jovem
inexperiente de nome Maria da Conceição.
A desditada sertaneja havia engravidado de
outro, pois não obstante namorar pessoa da comunidade, mantinha secreto e
tórrido romance, perfazendo triângulo amoroso que veio a se responsabilizar por
tragédia inaudita.
Após
parto realizado sozinha, de criança do sexo feminino, a pobre mulher sufocou a
filha até matá-la, fato este observado por olhares curiosos despertados pelo
choro de recém-nascido.
Denunciaram-na às autoridades locais e foi
instaurado inquérito a fim de apurar as responsabilidades, as quais não
tardaram em jogar a infeliz pombalense em fosso de ódios e intrigas.
Presa
na cadeia considerada de segurança máxima na época, palco de estripulias de
Jesuíno Brilhante, em um passado não muito distante dos fatos ocorridos no ano
de 1883 na Rua da Cruz em Pombal, Maria
da Conceição enfrentou dos julgamentos, sendo absolvida no primeiro e condenada
a três anos de reclusão no segundo.
A marca indelével dos preconceitos e estereótipos
típicos de uma sociedade machista, e conservadora, assinalada por código de
conduta extremamente severo, observa-se nos autos do inquérito instaurado a
presença significativa de uma moral edificada através de um notório processo de
submissão feminina que ainda tem representatividade de grande envergadura nos
dias atuais.
Obrigada, através dos ditames e das
consequências de um rígido código de conduta, a assassinar sua filhinha
recém-nascida, Maria da Conceição enfrentou prova de fogo que foi além do
imaginável, cuja documentação, descoberta pelo poeta e escritor Jerdivan
Nóbrega de Araújo, não conseguiu dar a dimensão exata do sofrimento e dos
suplícios físicos e psicológicos pelos quais passou a pobre sertaneja, vítima
de fato de uma sociedade extremamente conservadora e intransigente em suas
punições à maioria dos deslizes do gênero feminino, não obstante sabermos que a
relação de atos com estamentação social possua vínculo estreito com a própria
sugestão punitiva contida nas leis e na moral sertaneja.
Quantas vezes a pobre Maria da Conceição
chorou dentro da cela úmida da cadeia de Pombal não é relatado na documentação,
bem como não há nenhum registro sobre as torturas psíquicas que certamente
sofreu em razão que foi levada a assassinar sua filhinha.
Quantas vezes a falsidade da sociedade
pombalense, certamente possuidora de gente com pecados maiores que o cometido
por ela, apontou-lhe o dedo julgando-a infame e indigna?
Ninguém poderá afirmar com exatidão se filhas
de chefes políticos ou de figurões de projeção na sociedade daqueles tempos
também não devam ter agido de forma semelhante à jovem Maria da Conceição, pois
o poder se faz ator principal quando assuntos dessa natureza são aventados
dentro da vida privada de famílias abastadas, independente da dimensão
espaço-tempo.
Enquanto a Campanha Libertária Mosoroense
coroada de sucesso em 30 de setembro de 1883, capitaneada pela gloriosa Loja
Maçônica 24 de Julho, era enfatizada em prol da abolição da escravatura, jovem
desafortunada enfrentava calvário indescritível no vizinho Estado da Paraíba.
Ênfase deve ser fomentada ao advogado da ré,
o famoso professor Antônio Gomes de Arruda Barreto, cuja contribuição ao ensino
em Mossoró foi bastante significativa a partir do ano de 1900, quando, a
convite do farmacêutico Jerônimo Rosado, transferiu de Brejo do Cruz para
Mossoró seu conceituado educandário.
Dedicando seu brilhante trabalho literário a
Maria da Conceição e sua desditada filha, a qual veio ao mundo sem a sorte dos
demais, marcada pelo signo da desgraça, efetivada pela ausência de amor e de
compreensão, Jerdivan Nóbrega de Araújo denota seu profundo humanismo,
reconhecendo os erros da ré, mas qualificando-a também como vítima das
imposições da crueldade e da falta de amor ao próximo, os quais ainda,
infelizmente, são presenciados no cotidiano atual, assim como no passado, não
obstante mais enfático no longínquo ano de 1883.
Resgate de grande e notável valor histórico-literário,
a publicação de O Crime da Rua da Cruz referenda mais uma vez a incrível
performance literária que vem notabilizando o escritor e poeta pombalense
Jerdivan Nóbrega de Araújo como uma das maiores autoridades das letras.
*Geógrafo.
Professor-adjunto IV do Departamento de Geografia do Campus Central da UERN.
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
O Crime da Rua da Cruz em Pombal/PB
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/19/2013 05:52:00 AM
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2 comentários
Caro amigo Romero:
Gostaria de obter um exemplar desse livro. Compre e me encaminhe um e me diga o custo e a sua conta para que eu faça o deposito correspondente.
Saúde, Paz e Prosperidade!
Archimedes Marques
Prezado Jerdivan.
Estou em viagem, portanto não recebi o seu livro ainda.
Logo que tenha o prazer de tê-lo em mãos, darei um retorno.
Agradeço sua atenção.
Dix-sept Rosado Sobrinho.
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