O FORRÓ NOSSO DE CADA DIA... COMO ANTIGAMENTE!
Maciel Gonzaga |
Maciel
Gonzaga*
Há
uma discussão radical sobre o verdadeiro forró, suas vertentes e arremedos. Em
Campina Grande, por exemplo, há um grupo liderado por Biliu de Campina que não
admite nem ouvir falar no forró que não seja a verdadeira raiz. Aquele criado e
difundido para o mundo por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro... Como
pesquisador do tema, amante e defensor da Música Popular Nordestina, não sou
tão radical. Mas, também, não gosto de fazer muitas concessões.
Mas,
o objetivo desse artigo é falar do forró de antigamente em Pombal. Final dos
anos 50 e início dos anos 60. Lembrar os forrozeiros que lá existiam e os
forrós, quase que semanalmente, no terreiro de barro batido, molhado à água de
vez em quando, na casa do Guarda Noturno conhecido como “Seu” Chicó (pai de
Valderício e Eduardo Burra Preta). Era vizinho à minha casa, na antiga rua do
Cachimbo Eterno. Por lá passaram grandes e,
para mim, inesquecíveis
sanfoneiros, que passo citá-los: O mais famoso de todos era Anemias dos 8 Baixos,
que foi embora da cidade ainda na década de 60 e nunca mais voltou, depois que
praticou um crime: matou um cabra valente que o desafiou no bairro dos
Pereiros; Taboca, que também tocava 8 Baixos e tinha um chamego com Maria
Barros, a mais famosa prostituta do “Rói Couro” da Rodagem dos Pereiros; Jaime
Sanfoneiro (era todo cortado de faca depois que escapou de uma briga em um
forró e se defendeu com a sanfona); Leci (tocava como ninguém as músicas de
Noca do Acordeon e foi quem ensinou os primeiros acordes de sanfona ao
deficiente visual Cláudio de “Seu” Nené Carneiro (lá da Micaela) e,
simultaneamente, ao meu irmão Massilon Gonzaga, que tinha pouco mais de 8 anos
de idade; Zé Timóteo (que imitava Teixeirinha e tocava nas Lojas Paulistas);
Geraldo da Rua dos Pereiros; os integrantes da família Daniel (Severino, que
tocava melhor sanfona do que 8 Baixos, padrinho de Crisma do meu irmão
Massilon), Elias (o melhor de todos da família, meu padrinho de Crisma),
Cícero, Antônio (era o mais presepeiro com o instrumento, tocava e dançava) e o
mais novo de todos, Chico Daniel (filho de Severino). Cabe ressaltar que nos
sítios do município haviam outros bons tocadores, mas os mais conhecidos eram
estes... Não posso deixar de lembrar de
Terezinha de Dr. Jéferson que, embora não tocava em festas, era exímia
acordeonista e executava músicas clássicas. Ela foi responsável por fazer
Massilon pegar pela primeira vez em uma
sanfona de 120 baixos.
A
maioria dessa turma que citei tocava nos forrós de “Seu” Chicó. E enquanto a
cabroeira dançava e tomava cachaça, a molecada ficava nos arredores – eu,
Massilon, Dedé Pé-de-Bola, Geraldo Bucho Verde, Chaguinha, Zé Coelho, Geraldo
de Neném de Procotó, Paulo Cubal, Pinto Piou, o Gordo e o Magro, Waldir de
Chico Espalha, Mané de Pão de Milho, Burra Preta e tantos mais que não me
lembro. Genival Severo sempre vinha de bicicleta lá da Rua dos Roques para
apreciar os “sambas”.
Quando
estive em Pombal em 2012, fiz uma visita ao meu padrinho Elias Daniel e cobrei
dele que executasse a minha música predileta, que aprendi a gostar e mantenho o
gosto até hoje, ouvindo-o executar nos forrós daquela época: “Xaxadinho das
Alagoas”, de autoria de Severino Januário. A reação dele foi: “Eu não me lembro
mais não, faz muito tempo que eu não toco ela”. Mas, pegou o fole velho e tocou
o clássico fielmente. Confesso, me derreti no choro, abraçando-o. Tudo foi
filmado por Clemildo Brunet. Pouco tempo depois o meu padrinho Elias Daniel
morreu, deixando muitas saudades para nós pombalenses.
E
como antigamente, me garante Genival Severo, que o forró continua em Pombal
sendo executado ainda hoje pelas mãos de nomes como: Aleijadinho de Pombal;
Geraldo Bernardino (o mais antigo sanfoneiro da atualidade, tendo começado a
tocar com 12 anos de idade nos povoados da cidade; Lindomar do Acordeon, que
também começou a tocar muito cedo aos 13 anos e é o sanfoneiro da banda Brilho
do Forró de sua propriedade, morador do sítio "Córrego"; Ary
Sanfoneiro (o Cego Ary) também é um dos mais antigos sanfoneiros pombalenses;
Avelininho Sanfoneiro, também nascido no sítio "Córrego Fechado" hoje
município de São Domingos, é outro bom sanfoneiro (depois da morte de sua
esposa Margarida, deixou de tocar nos forrós, sem contar que é deficiente de um
olho); Chico Caboclo (conhecido como Chico Rei de Ouro), tocador de fole de 8
Baixos (este deixou de tocar em razão de ter sofrido uma trombose, mas não
esquece o fole); Antonio de Delfa - tocador de fole de 8 baixos, natural de
Várzea Cumprida dos Leites, terra onde eu nasceu Genival Severo, mas que
atualmente mora em Brasília.
Natal RN.
O FORRÓ NOSSO DE CADA DIA... COMO ANTIGAMENTE!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/10/2013 06:24:00 AM
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