O quebra mesa na Festa do Rosário
Já formado e empregado fui à Festa do Rosário de 1975, em
Pombal, minha terra natal, no sertão paraibano. Cheguei atrasado, na noite da
sexta feira, e não mais encontrei ninguém da turma em casa. Estavam nas
barracas da “festa”, naquele largo entre a Praça do Centenário e a Igreja do
Rosário. Desci da casa de Zeca Peba, a pé, até a Rua Nova.
Entre essa e a Praça
Getúlio Vargas, pairava o Parque de Diversões Maia, imponente, com seus
carrosséis, rodas gigantes, canoas e outros brinquedos e
jogos, além da barraca
de Monja, a mulher que se transformava em macaco, graças a um jogo de espelhos
que operava esse “fenômeno”.
Precisava marcar minha chegada e imaginava como
anunciar isso. Os sons dos altos falantes do parque ecoavam na noite, com
“páginas musicais” dos sucessos da época. Dirigi-me à cabina dos estúdios musicais.
Falei com o locutor. Disse-lhe que queria oferecer uma música e perguntei
quanto custava o serviço. Era pouco o que cobravam, mas, o problema residia no
grande número de solicitações iguais que aguardavam veiculação. Com habilidade
conversei com o locutor: estava apaixonado e brigado com a namorada e aquela
atitude auxiliaria para renovar o namoro. Não adiantou muito. Afinal, outras
músicas serviriam para objetivos semelhantes. Insisti e usei outra tática: o
suborno.
Pagaria o dobro da tabela. Terminou aceitando que “pulasse a fila”
pelo triplo do valor. Concordei desde que fizesse três vezes a leitura da
mensagem e repetisse a música. Fechamos o negócio e, assim, parti à procura da “turma”
que logo encontrei. Ali estava Belmiro, Concita, Rosinha, Socorro e João
Queiroga, Alba Rejane, Zé Ronaldo e outros diletos amigos e amigas de minha
geração. Sabia que Fátima Queiroga namorava firme com um conterrâneo. Aguardava
impaciente a difusão das mensagens encomendadas no serviço de alto falantes do
parque, até ouvimos: “atenção, atenção, Fátima Queiroga” e repetia como havia
combinado, “ouça essa linda canção que lhe oferece alguém das iniciais M.L.R.
de Pau dos Ferros que muito lhe ama” e o cantor Carlos Alexandre entoou o
sucesso do momento com o “romântico” verso: “eu hoje quebro essa mesa, se meu
amor não chegar; também não pago a despesa se meu amor não chegar!”.
Fátima que
ouvira a mensagem chegava ao local às pressas. Queria saber quem era o autor
daquela presepada que podia comprometer seu namoro. A música terminou, mas,
repetida, inclusive, com a intrigante mensagem. Foi até a cabina musical obter
informações. O locutor não lhe disse quem teria sido o autor, sua ética lhe
impedia. Assim, o mistério perdurou, até a procissão do Rosário quando
confessei a brincadeira e os pecados foram perdoados com facilidade. Era
domingo do Rosário, um dia mágico em que se perdoa e se ama intensamente.
* Cronista Pombalense - Maceió -Alagoas.
O quebra mesa na Festa do Rosário
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/03/2014 10:07:00 PM
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