A vila de Tavares e a guerra de Princesa
J. Romero Araújo Cardoso |
Por
José Romero Araújo Cardoso*
Cerco
dos mais feroz de toda guerra de Princesa fez de Tavares miniatura do que
futuramente se transformaria Stalingrado, quando da disputa entre nazista e
exército vermelho no ensejo de uma das mais cruentas batalha de toda segunda
grande guerra, pois esforços inenarráveis foram olvidados de ambas as partes
contendoras no sentido de garantir domínio sobre a pequena povoação perdida nos
confins do planalto da Borborema.
No
dia 28 de março de 1930, após ocuparem Imaculada e Água Branca, 300 militares
legalistas, sob o comando do Capitão João Costa, avançaram em direção a
Tavares, intuindo tomar Princesa. Cerca de 90 defensores de Princesa
interpunham a marcha da coluna militar. Tiroteio cerrado, marcado por
emboscadas, resultou em seis baixas para os princesenses e
50
para as forças do governo João Pessoa.
Em
29 de março de 1930, apenas um dia antes da chegada de tropa composta de cerca
de 300 militares, comandada pelo Capitão João Costa, igual número de defensores
princesenses cercaram a vila, resultando em cerrado tiroteio.
Pedido
de reforço, emitido via rádio, fez com que houvesse deslocamento de 150 homens
comandados pelo Tenente Manuel Arruda de Assis e cerca de 400 combatentes
mobilizados pelo Coronel Quinca Saldanha, chefe político de Caraúbas/RN que
havia cerrado fileiras com o Presidente João Pessoa.
Livro
inédito de autoria de Raimundo Soares de Brito, o qual urge publicação post
mortem, intitulado O Quinca Saldanha que
conheci, destaca o desprezo do velho gato
vermelho por cabra de sua inteira confiança que abandonou o contingente
enviado para lutar em Tavares. Não aguentou o rigor dos combates diuturnos que
deixaram a povoação quase que completamente destruída.
Muitos
jagunços desertaram quando tocaia montada a dois quilômetros de Tavares impediu o avanço da tropa. Reforço de 350 homens comandados pelo Capitão Irineu Rangel
conseguiu romper o cerco formado pelos cabos-de-guerra princesenses Manuel
Lopes Diniz (“Ronco Grosso”), Zeca Ferreira e João Paulino. Esse último era
soldado desertor da Polícia Militar do Estado da Paraíba.
Durante
18 dias o cerco a Tavares foi mantido quase como questão de honra para os
defensores de Princesa. Todas as tentativas do Presidente João Pessoa para
romper a barreira formada pelos homens comandados por Zé Pereira se revelavam
infrutíferas.
Até
um feiticeiro foi colocado em cima do caminhão da vanguarda da “Coluna da
Vitória”. Logo após o povoado de Água Branca, homens comandados por Marcolino
Pereira Diniz, Gavião e Caixa-de-fósforo desfizeram a intenção do contingente
militar. O feiticeiro foi o primeiro a ser varado de balas.
Em
19 de abril de 1930, cerca de 600 defensores de Princesa, chefiados por Manuel
Carlos e José Rosas lançaram ofensiva violentíssima sobre Tavares, cuja posição
estratégica, bem próxima de Princesa, tornara-se questão de honra para o
governo João Pessoa manter. Nesse combate as baixas foram enormes para ambos os
lados.
Todos
os meio foram empregados na batalha de Tavares. Em plena seca que marcou o
início dos anos trinta do século passado, os militares paraibanos tinham em uma
cacimba a única fonte de abastecimento. Os defensores de Princesa jogaram sal
amargo dentro. Para completar o desespero dos soldados havia o frio congelante
típico de áreas montanhosas, mesmo localizadas no semiárido, aliada a um peste
de pulgas que incomodava bastante. O Capitão João Costa e sua tropa passaram
todo período de cerco comendo pipoca, pois milho era quase que o único alimento
que dispunha, e, principalmente, pipoco de todo tamanho.
Zé
Pereira não gostou da atitude de terem jogado sal amargo na cacimba onde os
militares se dessedentavam. Conforme entrevistas prestadas por Zacarias
Sitônio, Hermosa Goes Sitônio e Belarmino Medeiros, o chefe Princesense bradou
em alto e bom tom: “Não concordo com o que fizeram. Queria que eles fossem
pegos à unha!”
Na
época pertencente ao Território Livre de Princesa, a vila de Tavares, cujo
topônimo efetivou-se em homenagem ao Padre Francisco Tavares, benfeitor do
lugar, viu de perto profanação e selvageria naqueles idos turbulentos de 1930,
pois lances absolutamente impressionantes foram efetivados nas mais intensas
batalhas ocorridas no ensejo da guerra de Princesa.
*José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor Adjunto do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
A vila de Tavares e a guerra de Princesa
Reviewed by Clemildo Brunet
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3/11/2015 06:22:00 AM
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