Ideias: mais luz que calor
Rinaldo Barros |
Rinaldo Barros*
A
conversa de hoje corre atrás de uma saída para o “imbróglio” que estamos todos
emaranhados. Uma tentativa de encontrar um caminho iluminado para o conjunto de
nossa sociedade.
Assuntando cá no meu canto, descobri que o
patropi é o país mais parecido com os Estados Unidos.
Embora não se reconheça esse fato em nenhum
dos dois países. São de tamanho quase idêntico, fundados na mesma base, de
povoamento europeu e
de escravidão
africana.
Cada um é o mais desigual de seu tipo: os
EUA, dos países ricos; o Brasil, dos países emergentes. Paradoxalmente, nesses
dois países muito desiguais, a maior parte das pessoas comuns (não falo dos
governos) continua a acreditar que, apesar de tudo, ainda é possível construir
um mundo melhor.
Essa orientação esperançosa, peregrina e
aventureira representa o vínculo mais importante entre as duas nações, feitas,
cada uma, de muitas nações.
No bojo da crise financeira internacional, há
tudo para que se acelere tanto no Brasil como nos EUA o que já se prenunciava
antes da crise: a busca de um conjunto de experimentos na maneira de organizar
nossas sociedades que amplie, em proveito dos homens e das mulheres comuns, as
oportunidades econômicas e educativas.
E que dê braços, asas e olhos à energia
humana, frustrada e dispersa, que fervilha em nossos países.
Em vez de pedir ajuda, dada de cima para
baixo, proponhamos construir juntos iniciativas exemplares, que têm tudo para
contar com a simpatia e com a participação de muitos países latino-americanos.
Entre as áreas mais
propícias, três merecem atenção especial.
1.
Desenvolver as alternativas de energia renovável. Em vez de ficarmos vidrados
nos interesses imediatos que nos dividem, é melhor construir as possibilidades
futuras que podem nos unir. Trabalhar juntos para transformar os agro
combustíveis nas commodities que ainda não são. E para obter os avanços
científicos e técnicos que permitirão mobilizar o potencial energético da
biomassa - até que se possa mobilizar melhor o potencial das energias solar e
eólica, diretamente.
2. Soerguer milhões de empreendimentos
emergentes e pôr as finanças a serviço da produção. A crise financeira de agora
impõe-nos tarefa mais importante do que a de regular os mercados financeiros: a
de aproveitar melhor, mais objetivamente, o potencial produtivo do dinheiro
reunido nos bancos e nas Bolsas.
O cumprimento dessa tarefa começa no esforço
de dar às pequenas e médias empresas condições para ganhar acesso ao capital e
para qualificar-se em tecnologias, conhecimentos e boas práticas.
3. Tomar as medidas necessárias para
garantir, em todo o ensino público, um padrão mínimo e universal. O avanço de
nossas sociedades passa pela efetivação de um princípio singelo: cuidar para
que a qualidade da educação que uma criança recebe não dependa do acaso ou do
lugar onde ela haja nascido.
Duas iniciativas, a se desdobrarem no Brasil
e em todo o nosso hemisfério, podem abrir o caminho.
A primeira é desenhar uma escola média que
reúna e que renove o ensino geral e o ensino técnico, com fronteira aberta
entre os dois. Ensino geral focado em análise verbal e numérica, não em
informação enciclopédica. Ensino técnico dedicado a capacitações práticas
flexíveis, não ao domínio de ofícios rígidos.
A segunda iniciativa é providenciar a gestão
local das escolas pelos Estados e municípios com padrões nacionais de
investimento e de qualidade. Não basta avaliar nacionalmente as escolas e
redistribuir recursos de lugares mais ricos para lugares mais pobres. É preciso
também recuperar redes de escolas locais que tenham caído abaixo do patamar
mínimo aceitável de qualidade.
Parte da solução é associar os três níveis da
Federação em órgãos conjuntos, vocacionados para apoiar, socorrer e reparar as
escolas ineficientes. É o rumo da federalização de todas as escolas
brasileiras, associada a uma Lei de Responsabilidade Educacional. “É o caminho,
a verdade e a vida”.
O que unifica e orienta todas essas propostas
é a disposição de reorganizar a economia de mercado em proveito da maioria
trabalhadora. Hora de reconstruí-la, não apenas de contrabalançar suas
desigualdades por meio de transferências sociais. Chega de bolsas e cotas!
Alvissareiramente, longe do falso conflito
entre “nós” e “eles” pregado pelo PT; há no Brasil um grande, muito grande,
conjunto de pessoas (do bem) dispostas a se mobilizarem em torno de ideias
generosas.
A hora é essa. É a hora das ideias - mais luz
que calor - para que o patropi encontre rumo outra vez.
*Rinaldo Barros é
professor – rb@opiniaopolitica.com
Ideias: mais luz que calor
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/05/2015 04:16:00 PM
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