Romeu Menandro da Cruz: O homem das mãos milagrosas
J Romero Araújo Cardoso |
Por
José Romero Araújo Cardoso*
Examinada a valise com todos os procedimentos
médico-farmacêuticos e conferida a munição do revólver colt cavalinha calibre
38, Romeu Menandro da Cruz ajeitava seu chapéu na cabeça, despedia-se de Dona
Maria Isabel, companheira inseparável, montava em seu insubstituível cavalo
branco e ganhava as quebradas das serras do alto oeste paraibano a fim de
atender as urgências, os inúmeros pedidos de socorro partidos daqueles confins
onde assistência à saúde era algo distante naqueles tempos passados marcados
pela ausência da ação do Estado, exponencializando-se a não efetivação em
garantir direitos inalienáveis à
população que bravamente teimava em habitar o
sertão de outrora.
Homem valente e destemido, Romeu Menandro da
Cruz agia como se nada pudesse ameaçar sua integridade física. Desafiava com
coragem inaudita todos os ditames de uma terra sem lei, marcada pelas useiras e
vezeiras emboscadas, sempre buscando ajudar o próximo através do grande legado
genético que trazia no sangue, herança genética do avô português de nome
Jerônimo Ribeiro Rosado.
Trazia consigo a marca indelével impressa
através de milagres impressionantes, tendo salvado incontáveis vidas, graças ao
ofício de farmacêutico prático, o qual aplicava sem distinção àqueles que o
procuravam.
Não se tem a conta de quantos portadores
bateram à sua porta, altas horas das noites escuras, acordando-os para que se
deslocasse para ermas localidades a fim de salvar vidas ameaçadas. Romeu
Menandro da Cruz nunca se esquivou em ajudar seus semelhantes. Era,
verdadeiramente, um homem das mãos milagrosas.
Em sua farmácia na antiga Jatobá, bem como na
que instalou em São José de Piranhas, dispunha de verdadeiro laboratório que
lhe permitia manipular fórmulas complexas, resultando em inúmeros medicamentos
que só eram encontrados em centros mais desenvolvidos, como penicilina e soro
antiofídico.
Casos mais complexos eram imediatamente
destinados a Cajazeiras, onde os recursos da medicina se encontravam mais
evoluídos. Sabia perfeitamente seus limites e possibilidades, não os excedendo
de forma alguma.
Graças à dedicação aos trabalhos
médicos-farmacêuticos, o casal Romeu Menandro da Cruz e Maria Isabel César da
Cruz apadrinharam dezenas de pessoas, sendo a grande maioria que ele mesmo ajudou
a vir ao mundo. Dona Maria de Romeu tornou-se exímia parteira, auxiliando o
marido no exercício do nobre ofício em prol da salvação de incontáveis vidas.
Herói do histórico dia 28 de setembro de
1926, quando o cangaceiro Sabino Gório e seu bando sinistro tentaram atacar
Cajazeiras, Romeu Cruz ganhou destaque literário em romance intitulado O
Carcará, de autoria de Ivan Bichara Sobreira.
Ser humano extraordinário Romeu Menandro da
Cruz, pombalense que fez história no alto oeste paraibano, portou-se em vida de
forma digna e honrada, marcando significativamente a presença do velho Rosado
nos anais das crônicas sertanejas.
*José Romero Araújo
Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-adjunto IV do Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Mestre m Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Romeu Menandro da Cruz: O homem das mãos milagrosas
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/01/2015 05:06:00 PM
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